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Suposto autor de filme já foi preso por estelionato

Homem que teria produzido e postado no YouTube gravação que ridiculariza Maomé não é judeu e cumpriu pena por uso de identidade falsa

Por GUSTAVO CHACRA , CORRESPONDENTE e NOVA YORK
Atualização:

NOVA YORK - As autoridades americanas estavam próximas de desvendar o mistério que envolve a produção do filme Inocência dos Muçulmanos, nesta quinta-feira, 13, que ridiculariza o profeta Maomé e provocou uma onda de protestos no Egito, Líbia, Iêmen e outros países do Oriente Médio e do Norte da África.

 

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O principal suspeito de estar por trás do vídeo - que foi postado no site YouTube - é um morador da Califórnia identificado como Nakoula Basseley Nakoula, de 55 anos. Ele já cumpriu pena por 2 anos numa prisão federal por crimes financeiros e uso de identidades falsas.

Uma dessas identidades seria justamente a do suposto diretor Sam Bacile - nome ao qual, até a véspera, se atribuía ao responsável pela produção.A polícia teria chegado a Nakoula depois de rastrear telefonemas feitos pela pessoa que se identificava como Bacile para veículos da mídia, como o Wall Street Journal e a agência de notícias Associated Press. O homem que se identificava como Bacile concedeu entrevista a esses dois veículos.Nessas declarações, Bacile apresentou-se como judeu israelense e afirmou que havia obtido US$ 5 milhões - doados por judeus americanos - para a produção do filme, que classificou como "uma obra política".Diferentemente das afirmações, porém, Nakoula é cristão copta, e não possui cidadania de Israel.Os cristãos coptas representam cerca de 10% da população egípcia e a igreja, que possui sua sede em Alexandria, foi fundada por São Marcos, segundo a tradição. Mesmo nos tempos do governo secular de Hosni Mubarak, sofriam perseguição de facções extremistas islâmicas e acabaram migrando para outros países, como os EUA. Hoje, existem concentrações deles na Califórnia e na Flórida.Nakoula, em entrevista para a Associated Press, não admitiu ser Bacile e afirmou que trabalhou apenas na parte logística do filme. Mas uma série de nomes que ele utilizou no passado em seus crimes financeiros eram similares a Sam Bacile. Essa denominação não foi encontrada em registros em Israel nem na Califórnia.Além disso, o telefone de Nakoula, quando ainda se identificava como Sam Bacile, foi fornecido a alguns órgãos de imprensa pelo ativista cristão copta na Califórnia e notório ativista anti-islâmico Morris Sadek, que promoveu o filme, enviando links para uma série de jornalistas ao longo da semana passada.O envolvimento de coptas na produção do filme, mesmo sem uma confirmação oficial, pode provocar ainda mais instabilidade no Egito.A comunidade local teme ser alvo de ataques de radicais salafistas nos próximos dias. Tanto o patriarcado da Igreja Copta em Alexandria como os seus representantes em Los Angeles condenaram duramente o vídeo e se distanciaram do episódio.Outro envolvido na produção é Steve Klein, cristão, mas não copta nem de origem egípcia. Ele insistia ontem que o diretor do filme era cidadão israelense e estava com medo de dizer a verdadeira identidade. Não há nenhuma comprovação disso.Os atores envolvidos no filme também estavam revoltados ontem, dizendo que foram enganados pela pessoa identificada como Sam Bacile.Em comunicado, eles disseram que não sabiam que o vídeo seria sobre Maomé. Realmente, nas passagens em que o nome é citado, parece haver dublagem."Nós não temos nenhuma relação com esse filme e fomos enganados sobre as intenções e o propósito dele. Estamos chocados pelas mudanças no script e as mentiras que foram ditas a todos envolvidos. Lamentamos muito as tragédias que ocorreram", disseram em comunicado.Produção precária. Apesar das primeiras informações, segundo as quais Inocência dos Muçulmanos custou US$ 5 milhões, a produção do filme é pobre e o nível técnico, amador.Nele, o profeta aparece várias vezes em diferentes situações sexuais. A simples representação de Maomé é considerada blasfêmia pelos muçulmanos. Além do YouTube, o filme chegou a ser exibido em uma sala de Los Angeles e ganhou o apoio do pastor evangélico americano anti-Islã Terry Jones. 

 

COM AP E NYT

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