Suposto autor de filme se esconde; diz ser judeu

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Por SHAYA TAYEFE MOHAJER e DA ASSOCIATED PRESS
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Um obscuro cineasta estrangeiro radicado nos Estados Unidos estava escondido nesta quarta-feira, depois que o trailer de um filme que ridiculariza o profeta Maomé desencadeou protestos em países islâmicos e resultou na invasão de representações diplomáticas norte-americanas no Egito e na Líbia. No ataque ao consulado dos EUA na cidade líbia de Benghazi, o embaixador Chris Stevens e mais três diplomatas foram mortos por uma multidão enfurecida. Começaram a surgir, no entanto, dúvidas em relação à verdadeira identidade do homem e sua participação no filme.De um local não revelado, um homem que identificou-se como o roteirista e diretor Sam Bacile conversou com a Associated Press por telefone. Bacile declarou ser "um judeu israelense radicado nos EUA", afirmou ganhar a vida como corretor de imóveis, reivindicou a autoria e a direção do filme e manteve o tom de desafio. Segundo ele, o Islã é um "câncer" e seu filme tem a pretensão de ser uma "peça de provocação política" para denunciar a religião.As dúvidas, porém, não tardaram a emergir, a começar pelo fato de Bacile ter dito que estava "escondido". Depois, autoridades israelenses disseram hoje à AP sob a condição de anonimato que nunca tinham ouvido falar de Bacile antes e que não existe nenhum registro dele como cidadão de Israel. Ele também não está registrado como corretor de imóveis na Califórnia. Mais tarde, um ativista cristão que identificou-se ao The Atlantic Monthly como Steve Klein disse que Bacile era o pseudônimo assumido por um coletivo de norte-americanos e estrangeiros oriundos do Oriente Médio.Antes da entrevista do suposto cineasta à AP, informava-se que o filme fora dirigido pelo ativista cristão Morris Sadek, de origem egípcia. Sadek, no entanto, foi o responsável por tirar o filme do anonimato, divulgando-o por e-mail.A disseminação do filme pela internet desencadeou protestos em diversos países islâmicos. Ontem, manifestantes escalaram os muros da Embaixada dos Estados Unidos no Cairo, arrancaram a bandeira norte-americana e a trocaram por uma islâmica. Em Benghazi, no leste da Líbia, manifestantes invadiram o consulado norte-americano na cidade e mataram o embaixador Chris Stevens e três outros integrantes do corpo diplomático dos EUA no país norte-africano.Hoje, o filme provocava protestos na Tunísia e na Faixa de Gaza. No Afeganistão, o governo bloqueou o acesso ao site YouTube durante 90 minutos até que o trailer fosse removido.Na entrevista, Bacile disse lamentar a morte dos diplomatas norte-americanos, mas alegou que elas deveriam ser atribuídas à falta de segurança na embaixada e à violência dos líbios. "Acho que a segurança não é boa. Os Estados Unidos deveriam fazer alguma coisa para mudar isso."O filme em questão tem duas horas de duração, é narrado em inglês e foi intitulado "Innocence of Muslims" (Inocência dos Muçulmanos, em tradução livre). Seu custo foi de US$ 5 milhões e, segundo Bacile, contou com doações de mais de cem doadores judeus. Até hoje, porém, o filme foi exibido na íntegra somente uma vez, no início do ano, em um cinema praticamente vazio de Hollywood.Um trailer de 13 minutos foi jogado na internet em julho, mas continuou obscuro até a semana passada, quando a campanha de Sadek chamou a atenção ao ponto de o canal egípcio de televisão Al-Nas levá-lo ao ar.À AP, Bacile insistiu em que seu filme é político. "Os Estados Unidos perderam um monte de dinheiro e um monte de gente nas guerras no Iraque e no Afeganistão, mas nós estamos lutando com ideias", alegou.Na avaliação de Bacile, o filme ajudaria "Israel a expor ao mundo os defeitos do Islã".Em diversas ocasiões durante a conversa, ele repetiu: "O Islã é um câncer, ponto final".No filme, Maomé é caracterizado como um mulherengo indolente, promíscuo e conivente com o abuso de crianças. Atores amadores proferem insultos disfarçados de revelações sobre Maomé em diálogos engessados, enquanto os seguidores do profeta são mostrados como um bando de idiotas.

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