Suspeito admite ter sido treinado em campo de Bin Laden

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Por Agencia Estado
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No início do primeiro julgamento, na Alemanha, de um suspeito dos atentados de 11 de setembro, o suposto responsável pela logística da célula de Hamburgo da Al-Qaeda admitiu ter sido treinado em um dos campos de Osama bin Laden no Afeganistão, mas negou ter tido conhecimento de planos para atacar os Estados Unidos. Mounir el Motassadeq, um estudante marroquino de 28 anos, testemunhou que aprendeu a disparar um fuzil AK-47 no campo, durante três semanas de treinamento em meados de 2000, mas garantiu que não sabia que o local era mantido pela organização de Bin Laden, até que chegou lá. "Fiquei sabendo que Bin Laden era responsável pelo campo e que esteve no local algumas vezes", disse ele. Mas, acrescentou, "eu não soube isso de antemão, nem me encontrei com ele". El Motassadeq, em custódia desde sua detenção em Hamburgo dois meses depois dos ataques, pode ser sentenciado à prisão perpétua, caso seja considerado culpado de participação em organização terrorista e acusações de envolvimento em mais de 3.000 homicídios. Seu advogado disse à corte que ele é inocente e negou as acusações da promotoria, de que ele tenha providenciado apoio logístico para a célula de Hamburgo, da qual participou o seqüestrador suicida Mohamed Atta e dois outros dos pilotos. El Motassadeq afirmou que se encontrou pela primeira vez com Atta em 1996, numa escola, e que os dois eram amigos, muitas vezes comendo juntos e discutindo religião e política. Atta nunca falou a ele sobre os planos de 11 de setembro, garantiu. "Nunca esperei que Atta fizesse algo como isso", testemunhou Motassadeq. "Ainda não acredito que ele tenha feito isso". A segurança em torno do Tribunal Superior de Hamburgo foi reforçada, com ruas bloqueadas e visitantes sendo minuciosamente vistoriados. El Motassadeq disse ao tribunal que acreditava ser seu dever religioso aprender a manejar armas, e que Atta recomendou que ele fosse ao campo depois de ter retornado a Hamburgo do treinamento no Afeganistão, em maio de 2000 - a última vez que ele teria visto o suposto líder dos atacantes de 11 de setembro. "No Islã, deseja-se que as pessoas aprendam a atirar", explicou Motassadeq, acrescentando que não fez treinamento com explosivos no campo, apesar de esse treinamento lhe ter sido oferecido. A admissão de Motassadeq contraria declarações iniciais à polícia, de que ele nunca havia estado no Afeganistão. Quando Motassadeq foi formalmente acusado, o procurador-geral da Alemanha, Kay Nehm, disse que os seqüestradores sabiam, desde outubro de 1999, que iriam atacar os EUA com aviões, mas que a idéia provavelmente surgiu em outros setores da Al-Qaeda. No tribunal, seu advogado argumentou que a viagem ao Afeganistão "não prova nada". Para ele, milhares foram a tais campos, sem terem se tornado terroristas. Motassadeq chegou à Alemanha em 1993 para estudar engenharia elétrica na Universidade Técnica de Hamburgo. Motassadeq deve dar continuidade a seu testemunho amanhã. Com mais de 160 testemunhas a depor, o julgamento perante cinco juízes deve durar mais do que os três meses inicialmente programados.

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