Suspeito de atirar em jornalistas nos EUA alegou motivos raciais

Em documento, Vester Lee Flanagan afirmou que sofria discriminação racial e assédio sexual; tiroteio em Charleston em junho teria motivado o crime

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - Suspeito de ter matado dois jornalistas a tiros na manhã de quarta-feira, Vester Lee Flanagan alegou ter sido vítima de discriminação racial em uma entrevista transmitida ao vivo, algo negado por seus ex-companheiros e ex-empregadores.

Em um documento de 23 páginas enviado por fax à emissora ABC após o ataque, Flanagan, conhecido como Bryce Williams nos meios de comunicação, afirmou que sua ira "estava crescendo pouco a pouco" por causa de supostos casos de discriminação racial e assédio sexual.

Imagem de Bryce Williams, suspeito de matar jornalistas, divulgada pela polícia da Virgínia Foto: AFP PHOTO/WHSV

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Ele assegurou ter sido assediado no trabalho por ser negro e homossexual, e expressou sua admiração pelos autores de massacres nos EUA como o da escola de Columbine em 1999 e o da Virgínia Tech em 2007, cujo autor, o coreano Seung-hui Cho, diz ter conhecido.

Além disso, Flanagan indicou como motivação de seus atos o tiroteio que aconteceu no último dia 17 de junho em Charleston, na Carolina do Sul, no qual um jovem branco assassinou nove fiéis de uma igreja negra com o objetivo de iniciar uma "guerra racial".

"O tiroteio na igreja foi o ponto final, mas minha ira cresceu ao longo do tempo. Fui um barril de pólvora humano durante muito tempo só esperando para fazer BOOM!", afirmou o repórter no documento divulgado pela ABC.

No documento, que o próprio autor classifica como uma "nota de suicídio para os amigos e a família", Flanagan insiste em repetidas ocasiões que sofreu ao longo de sua vida por ter sido atacado por homens e mulheres brancos em razão de sua condição de negro e homossexual.

Histórico. Dan Dennison, diretor de notícias da WBDJ7 quando Flanagan foi contratado em 2012 e também quando foi despedido um ano depois, disse à emissora americana CNN que a demissão foi motivada por seu comportamento, e que no dia em que lhe comunicou, tiveram que chamar a polícia para levá-lo para fora do edifício.

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"Quase desde o primeiro dia apresentou várias queixas contra seus companheiros. Após muitas investigações, tanto internas como externas, todas as acusações se mostraram infundadas. Eram supostos casos, em sua maioria de discriminação racial, mas não encontramos nenhuma prova que alguém tivesse discriminado este homem", relatou Dennison.

Os meios de comunicação americanos falaram com vários ex-companheiros de Flanagan, que em sua maioria concordaram que ele era uma pessoa "difícil de trabalhar".

Em sua conta no Twitter, Flanagan acusou a repórter a quem assassinou esta manhã, Alison Parker, de ter "realizado comentários racistas", e o cinegrafista, Adam Ward, de "ter ido à área de recursos humanos" após trabalhar com ele em uma ocasião.

No entanto, o diretor-geral da emissora, Jeff Marks, explicou que Flanagan e Parker não chegaram a trabalhar para o canal de televisão ao mesmo tempo, uma vez que ela foi contratada após sua demissão.

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Já Ward, que trabalhou na emissora ao mesmo tempo que Flanagan, foi o responsável de filmar a chegada da polícia ao edifício da televisão no dia da demissão do repórter.

O histórico de Flanagan por questões raciais é longo. No ano 2000, ele apresentou uma denúncia contra outra rede de televisão para qual tinha trabalhado, a WTWC-TV de Tallahassee (Flórida), por suposta discriminação racial depois que a emissora decidiu não renovar seu contrato.

Alison Parker, jornalista de 24 anos, e Adam Ward, cinegrafista de 27, ambos brancos, morreram ontem durante transmissão ao vivo para o canal local da Virgínia WDBJ7, filial da CBS, após serem baleados por Flanagan. Ele havia sido despedido há dois anos pela emissora.

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Após os disparos, Flanagan iniciou uma fuga de mais de cinco horas na qual finalmente disparou contra si mesmo ao se sentir encurralado pelas autoridades. Horas depois, acabou morrendo no hospital. /EFE

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