O cerco policial na cidade de Toulouse terminou nesta quinta-feira com a morte do suspeito pelo assassinato de sete pessoas na região, segundo confirmou o ministro do Interior da França, Claude Guéant. A polícia entrou no apartamento onde Mohammed Merah, de 23 anos, estava sitiado desde a madrugada de quarta-feira. Segundo Guéant, a decisão de invadir o prédio foi tomada após a perda de contato com o suspeito desde a noite anterior. Os policiais que invadiram o apartamento, após quase 32 horas de cerco, teriam sido recebidos a tiros. Guéant afirmou que Merah teria pulado por uma janela do apartamento, com uma arma na mão, e foi encontrado morto no chão. Três policiais teriam ficado feridos na ação. Merah é suspeito pelo ataque que matou um rabino e três crianças em uma escola judaica de Toulouse na segunda-feira e pela morte de três soldados em outros dois ataques na região na semana passada. Segundo Guéant, os policiais atiraram granadas no apartamento e entraram pela porta e pelas janelas pouco após as 10h30 (6h30 de Brasília). Eles encontraram` Merah escondido no banheiro. Ele teria saído disparando com várias armas e teria pulado pela janela enquanto continuava a atirar. Justiça Pela manhã, Guéant havia dito que a prioridade da polícia era tirar Merah vivo do apartamento para que ele pudesse enfrentar a Justiça. Durante a madrugada, a polícia realizou uma série de explosões para aumentar a pressão sobre o suspeito e forçá-lo a se render. Após as primeiras explosões durante a madrugada, o vice-prefeito de Toulouse, Jean-Pierre Havin, afirmou à mídia local que "as negociações terminaram e a invasão começou", mas fontes do Ministério do Interior disseram depois que era apenas o começo da operação para pressionar Merah a se entregar. Segundo as autoridades, ele estava fortemente armado com uma metralhadora Kalashnikov, uma pistola mini-Uzi 9 milímetros, vários revólveres e possivelmente granadas. Policiais chegaram a entrar no apartamento na madrugada de quarta-feira, mas foram recebidos a tiros e recuaram. Dois policiais ficaram feridos. O prédio de cinco andares onde Merah estava foi esvaziado, assim como os edifícios próximos. Segundo a polícia, ainda há uma operação em curso em outros locais da cidade em busca de possíveis cúmplices. Outros membros da família de Merah foram detidos em meio ao cerco. A mãe do suspeito foi levada ao local na quarta-feira de manhã para tentar convencer o filho a se entregar, mas ela afirmou à polícia que não tinha influência sobre ele. Mensagens conflitantes Segundo as autoridades envolvidas no caso, Merah teria dado mensagens conflitantes sobre a possibilidade de se render. "Ele explicou que não é suicida e que não tem a alma de um mártir e prefere matar, mas permanecer vivo", disse o promotor François Molins. Molins afirmou na quarta-feira que Merah planejava novos ataques. "Se ele está dizendo a verdade, teria deixado essa casa de manhã e teria novamente matado qualquer soldado que encontrasse", afirmou Molins. Molins afirmou que o suspeito não expressou remorsos pelas mortes e disse que queria matar mais pessoas para "deixar a França de joelhos". Merah teria afirmado querer "vingar crianças palestinas" e protestar contra os "crimes da França" no Afeganistão. Ele disse ter recebido treinamento da Al Qaeda no Paquistão e também ter passado pelo Afeganistão. 'Lobo solitário' O ministro do Interior francês defendeu o trabalho dos serviços de inteligência, criticados por não conseguir prevenir os ataques, e descreveu Merah como um "lobo solitário". "A agência de inteligência doméstica monitora muitas pessoas envolvidas com o radicalismo islâmico. Expressar ideias não é suficiente para levar alguém à Justiça", afirmou. Christian Etelin, um advogado que havia representado anteriormente Merah, afirmou que seu cliente tem tendências violentas. "Ele tinha sua religiosidade, um ódio crescente contra os valores da sociedade democrática e um desejo de impor o que ele acredita ser a verdade", afirmou Etelin. O advogado também negou os relatos de que Merah teria sido preso no Afeganistão por manipular explosivos, dizendo que no período alegado, entre dezembro de 2007 e setembro de 2009, ele estaria preso na França por roubo. Divisões Os corpos das quatro vítimas do ataque à escola na segunda-feira - um rabino e três crianças - foram enterrados na quarta-feira em um cemitério de Jerusalém, em Israel. O ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, acompanhou a cerimônia. No dia 11 de março, o suspeito teria matado um soldado com o qual marcou um encontro dizendo que queria comprar sua motocicleta. Dias depois, dois soldados foram mortos e um terceiro foi ferido enquanto aguardavam em um caixa eletrônico. Em pronunciamento na quarta-feira, antes de se encontrar com lideranças judaicas e muçulmanas em Paris, o presidente Nicolas Sarkozy afirmou que os atentados não devem servir de desculpas para atos de vingança ou preconceito. Segundo o presidente, atos de terror não conseguirão dividir a França, que abriga as maiores comunidades judaica e muçulmana da Europa. "O terrorismo não conseguirá fraturar nossa comunidade nacional", afirmou. "Eu digo a toda a nação que precisamos ficar unidos", disse ele. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.