Suspensa votação por vaga latino-americana no Conselho da ONU

Impasse pode levar à escolha de um terceiro candidato

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Por Agencia Estado
Atualização:

As votações para escolher uma cadeira latino-americana no Conselho de Segurança da ONU foram suspensas até a próxima quarta-feira, no meio a uma estagnação total do processo e sem que uma solução seja vislumbrada. Este parêntese permitirá que o grupo de países da América Latina, e sobretudo os dois candidatos, reflitam sobre a estagnação no processo de eleição, embora por enquanto não tenha sido convocada nenhuma reunião sobre o assunto. Ao concluir a votação número 35, a presidente da Assembléia Geral, Haya Rashed al-Khalifa, anunciou que a eleição será retomada na próxima quarta-feira, a realização da festa muçulmana de Eid al Fitr, que a ONU celebra. Na última rodada das votações, que são realizadas desde segunda-feira, a Guatemala voltou a ficar na frente, com 103 votos, enquanto a Venezuela teve apoio de 81 países. Como em ocasiões anteriores, nenhum dos dois adversários puderam superar a barreira dos dois terços da Assembléia Geral, ou seja, de 128 países. Ao longo da quinta-feira, os votos variaram em uma faixa muito estreita, o que revela a pouca margem que os dois candidatos têm para assumir o assento que será liberado pela Argentina em 1º de janeiro. Na quarta-feira, os membros da Assembléia já haviam desfrutado de uma pausa nas votações. O Grupo de Países da América Latina e do Caribe (Grulac) aproveitou para realizar uma reunião informal com os dois países protagonistas da disputa. Diego Cordovez, presidente do Grulac e embaixador do Equador na ONU, explicou que o objetivo da reunião foi apenas conhecer as intenções dos dois países, e que em nenhum momento foi proposta a possibilidade de eleger, por consenso, um terceiro candidato. "Só realizaremos uma reunião formal quando houver possibilidades reais de tomar uma decisão", disse Cordovez diante da evidente recusa dos dois candidatos a se retirarem da disputa pela cadeira rotatória do Conselho de Segurança. Em declarações à imprensa, o ministro de Exteriores da Guatemala, Gert Rosenthal, deixou claro que seu país não cogita se retirar, porque julga estar "perto" de conseguir o apoio necessário. "Acho que está dentro de nossas possibilidades conseguir os 15 votos que precisamos", disse o ministro, que considerou, no entanto, que se alguém deveria se retirar, esse alguém é a Venezuela, que precisa de mais de 40 votos para ter a maioria exigida. "Batalha continua" O ministro disse que seu país "não está obstinado", mas "continuará na batalha" enquanto considerar que pode obter os votos que precisa. No entanto, o presidente guatemalteco, Óscar Berger, pediu hoje a seus colegas do Equador, Peru e Chile, países que se abstiveram até agora nesta eleição, que "não fiquem do lado dos abstencionistas" e votem a favor de seu país. Embora a escolha de um terceiro país pareça, aos olhos dos membros da Assembléia, a opção mais viável a médio prazo, a Venezuela já anunciou que rejeita a opção de se retirar, tanto em favor da Guatemala como de um terceiro candidato. "A Venezuela não pode se retirar. Isso seria como dizer que a Venezuela se rende, se humilha. Não podemos fazer isso por nosso pudor e por respeito aos países que nos apóiam", afirmou o embaixador Francisco Arias Cárdenas, que durante todo o processo denunciou as pressões dos Estados Unidos para que seu país não seja eleito. O embaixador venezuelano também não considera viável a escolha de um terceiro país, o que equivaleria, na sua opinião, a "arrastar um país irmão, a Guatemala, para a aceitação do veto dos Estados Unidos". "Se até agora não puderam nos eliminar da disputa, é por nossa constância e nossa luta", disse o embaixador, que encara o processo de eleição como uma batalha contra o poder de veto que, na sua opinião, os EUA querem impor na Assembléia Geral, onde as votações são regidas por maioria de dois terços. Um impasse como esse já havia acontecido entre Cuba e Colômbia, em outubro de 1979. O problema se estendeu por mais de dois meses e terminou com a eleição de um terceiro candidato, o México. No caso atual, esse terceiro candidato poderia ser Jamaica, Uruguai ou Paraguai.

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