Suspensão de pagamentos vale só para credores externos

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Por Agencia Estado
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O secretário da Fazenda e Finanças, Rodolfo Frigeri, anunciou que a suspensão do pagamento da dívida pública será aplicada somente aos credores internacionais. Os credores internos, que possuem títulos com valor equivalente a US$ 55 bilhões, ficam livres desta moratória. O primeiro teste desta promessa ocorrerá na sexta-feira, quando o novo governo, do presidente Adolfo Rodríguez Saá, terá que pagar US$ 500 milhões a um grupo de bancos locais e os Fundos de Pensões. Frigeri sustentou que o governo está renegociando esta dívida interna. "Nossa intenção é pagar aos únicos que hoje em dia nos concedem créditos", disse o secretário. "Sabemos que somente podemos conseguir dinheiro no mercado local e por isso não pretendemos prejudicá-los de forma alguma". Desde meados deste ano, a Argentina não consegue financiamento no exterior, e somente conta com o crédito de entidades financeiras locais, além dos Fundos de Pensões. Depois deste pagamento de US$ 500 milhões, a preocupação do governo com os credores locais somente será significativa a partir de abril, quando será necessário pagar mensalmente as taxas de juros reformuladas na recente operação de reestruturação da dívida pública. "Adoraria dizer que os compromissos externos devem ser pagos, mas é que neste momento temos que enfrentar uma crise social enorme", explicou Frigeri sobre a suspensão do pagamento da dívida com os credores internacionais. Segundo ele, "lá fora todos sabiam que a dívida não seria paga, já que não havia forma de pagá-la". Para negociar com os credores internacionais, o novo governo estaria disposto a convocar um velho especialista argentino, "el señor Deuda" (o sr. Dívida), como é chamado ironicamente o ex-vice-ministro da Economia, Daniel Marx, que renunciou semanas atrás, por divergências com o ex-ministro Domingo Cavallo. Nos últimos anos, Marx - que está no ministério desde 1983 - foi o principal encarregado de negociar a dívida externa. A volta de Marx está sendo pedida pelo próprio Frigeri, além dos organismos financeiros internacionais em Washington, que possuem com "el señor Deuda" uma excelente relação. Isto indicaria que as negociações com os credores internacionais poderiam ser retomadas em breve. Uma das possibilidades especuladas é que o novo chanceler, José María Vernet, comandará uma missão argentina para conversar com o Fundo Monetário Internacional (FMI) na primeira semana de janeiro. Simultaneamente, o senador Eduardo Duhalde, ex-vice-presidente da República e ex-governador da província de Buenos Aires, iria à Europa explicar aos investidores no que consiste o novo plano econômico argentino, que ainda está em elaboração. Na Casa Rosada, a expectativa é de que depois da apresentação de um plano "sustentável" o FMI liberará o empréstimo - atualmente suspenso - de US$ 1,26 bilhão. Além disso, espera-se a obtenção de novos empréstimos, que ajudariam o país a encontrar uma saída para a conversibilidade econômica, que desde 1991 estabelece a paridade um a um entre o peso e o dólar. Frigeri também anunciou que o feriado bancário, em vigência desde a sexta-feira passada, será prolongado até o dia 2 de janeiro. O secretário defendeu o feriado argumentando que "as reservas líquidas puras do país são de US$ 3,3 bilhões". Os bancos somente funcionarão para o pagamento dos salários e aposentadorias. Além disso, os bancos também estarão abertos para o pagamento de impostos. Nas próximas semanas, segundo Frigeri, os clientes de bancos poderão retirar os depósitos em sua totalidade, mas somente se for em "argentinos", a nova moeda que o governo Rodríguez Saá pretende emitir. Se for em pesos, a retirada estará limitada. No dia 3 de dezembro, o então ministro da Economia Domingo Cavallo ordenou o semi-congelamento dos depósitos bancários. Desde então, mensalmente, cada pessoa somente pode retirar US$ 1.000. O "argentino" conviverá com o peso e o dólar, as bases da conversibilidade econômica, que desde 1991 estabelece a paridade um a um entre as duas moedas. Frigeri disse que a emissão de "argentinos" será "restrita e controlada": "se a emissão for gigantesca, o mercado dirá não à nova moeda". Justificando sua emissão, disse que a atual falta de liqüidez monetária "não poderia reativar a economia". Leia o especial

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