Suspensão de reformas prejudica economia na AL

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Por Agencia Estado
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A principal razão de ordem interna para o índice de crescimento medíocre da América Latina e para o início de sua desaceleração antes mesmo que ela recupere o que perdeu nos anos 80 é o fato de que os países da região não levaram adiante os seus programas de reformas. A tese foi defendida ontem num seminário em Santiago por Guillermo Calvo, economista-chefe designado do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). "O que chamamos de crescimento (nos anos 90) era apenas uma recuperação", assinalou o economista, ressalvando que a exceção é o Brasil. "As causas estão em problemas estruturais, que vão além de conjunturas." Ao lado do "retrocesso no processo de reformas", Calvo aponta o aumento do risco dos países da região e, com ele, a redução dos investimentos e da liquidez. No ano passado, a América Latina registrou crescimento de 4%. Este ano, segundo estimou o presidente do BID, Enrique Iglesias, o índice não deve superar 3,5%. "O principal motivo são as incertezas nos Estados Unidos", avaliou Iglesias. "A última estimativa que fizemos, em uma reunião recente com banqueiros, é de crescimento da economia americana de, no máximo, 2% este ano, quando um tempo atrás se esperava um índice de 3,5%." Um exercício realizado pela equipe de economistas do BID mostra que uma queda de 1 ponto percentual no crescimento dos EUA produziria desaceleração de 0,23 ponto no conjunto dos países em desenvolvimento, de 0,42 na América Latina e de 0,58 nos países industrializados da Ásia. Entretanto, uma vez que a redução da taxa de juros acompanhasse a desaceleração ou mesmo eventual recessão nos Estados Unidos, seus efeitos sobre os países da América Latina seriam significativamente atenuados. Uma "recessão típica" dos EUA, de 3,3%, com queda de juros 1,4 ponto percentual, teria impacto líquido negativo de 0,25 ponto sobre o crescimento da América Latina, de 0,38 ponto sobre os países em desenvolvimento e de 1,60 ponto sobre os países industrializados da Ásia. O ministro da Fazenda do Chile, Nicolás Eyzaguirre, concorda que, no início dos anos 90, o efeito benéfico da queda dos juros dos EUA predominou sobre o impacto negativo da desaceleração da economia real. "A questão é se será esse o caso agora", objetou Eyzaguirre. "A recomposição das carteiras (de investimentos) no interior dos EUA e dos outros países industrializados, da ordem de US$ 300 bilhões, indica que ela não vai beneficiar as economias emergentes." Respondendo à pergunta que intitulava o seminário, "O que está detendo o crescimento na América Latina e o que os governos devem fazer", o secretário da Fazenda da Argentina, Daniel Artana, atribuiu a recessão de três anos na Argentina a um fator interno, a dívida alta, e a dois fatores externos: a queda dos preços dos principais produtos de exportação do país, resultante das crises asiática e russa; e a desvalorização do real e a debilitação do euro, já que, segundo ele, Brasil e Europa concentram metade do comércio da Argentina. Já o ministro brasileiro do Planejamento, Martus Tavares, tinha números positivos para exibir. "Desde 1999, estamos vivendo um cenário de crescimento sustentado", disse Tavares. "No ano 2000, o crescimento do PIB brasileiro foi de 4,2%, impulsionado pela indústria de transformação, que cresceu 5,5% e, para o ano 2001, estimamos crescimento de 4,5% do PIB." De acordo com o ministro, o crescimento brasileiro é sustentado por três pilares: política monetária e fiscal austera, reformas estruturais e a introdução do câmbio flutuante em janeiro de 1999.

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