Suu Kyi inicia viagem histórica pela Europa

Intenção de líder opositora é atrair investimentos e consolidar a democracia em Mianmar

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Por Jamil Chade - O Estado de S. Paulo
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GENEBRA - Na última vez em que esteve na Europa, seu país se chamava Birmânia. Ontem, 24 anos depois, Aung San Suu Kyi, ganhadora do Nobel da Paz e principal líder opositora de Mianmar, chegou a Genebra, primeira escala de seu giro europeu.

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A viagem é um teste duplo. Primeiro, servirá para saber como o regime militar de Mianmar reagirá à exposição internacional de Suu Kyi. Por fim, pode determinar uma mudança na política europeia e atrair investimentos ao país, rico em recursos naturais.

Ícone do movimento democrático em Mianmar, Suu Kyi usará a viagem para agradecer o apoio que recebeu de governos europeus durante os 15 anos em que foi mantida em prisão domiciliar. Não por acaso, ela começou sua viagem por Genebra e fará o primeiro discurso fora de seu país na Organização Internacional do Trabalho (OIT), ligada à ONU.

A campanha da OIT contra o trabalho forçado em Mianmar foi a forma pela qual a ONU conseguiu justificar uma pressão contra o regime militar birmanês. "Tínhamos de pensar de forma inovadora para ter acesso ao país", disse ao Estado Kari Tapiola, assessor da OIT para temas relacionados a Mianmar. "Assim como a Cruz Vermelha usa o argumento de visitar as prisões, nós usamos o do trabalho forçado."

Sua próxima escala será Oslo, onde recebe amanhã o prêmio Nobel da Paz que lhe foi dado em 1991, quando ela estava na prisão, após liderar a vitória de seu partido nas eleições do ano anterior. Não faltarão encontros com Bono e discursos em parlamentos europeus.

Ao deixar Mianmar, a ativista e hoje deputada optou pela humildade. "Saberei o quanto estamos atrasados quando eu visitar outros países", disse. Por anos, ela evitou deixar Mianmar por ter medo de ser impedida de voltar. Seu marido, que estava na Grã-Bretanha, morreu em 1999, sem poder visitá-la.

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Aos 66 anos, filha do herói da independência da Birmânia, Suu Kyi terá sua visita monitorada de perto por governos europeus e empresas que pretendem ver avanços no regime militar e reduzir o embargo comercial contra o país. Em abril, a União Europeia suspendeu parte de suas sanções, o que abriu caminho para que empresas buscassem oportunidades negócios e concorressem com empresas chinesas que já estão no país.

No entanto, não são poucos os que alertam que as medidas tomadas pelo general Thein Sein podem não passar de iniciativas cosméticas, apenas para apaziguar o Ocidente. Nos últimos dias, confrontos étnicos no país deixaram dezenas de mortos e feridos, o que seria um sinal de como a estabilidade em Mianmar ainda é frágil.

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