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"Taleb" é ensinado para propagar o Corão

Por Agencia Estado
Atualização:

No intervalo de descanso depois do almoço, o taleb (estudante) afegão Abdul Tahar sai da madrassa para caminhar um pouco pela varanda da escola religiosa. A barba negra contrasta com a tez branca e os modos suaves, com a drástica visão de mundo. O Taleban, diz ele, é o único governo islâmico do mundo. Nenhum outro segue os preceitos contidos no Corão, segundo a leitura que ele aprende a fazer do livro sagrado, na Madrassa Darul Uloom Haqqania. Nem a Arábia Saudita? "É um reino, não um governo para o povo. Eles não ligam para o povo deles." Já no Afeganistão, diz ele, "todos os muçulmanos compartilham o poder". Estudantes, ou taleban, como Abdul, sairão desta e de outras milhares de madrassas espalhadas pelo Paquistão e pelo Irã, depois de nove anos de estudos, para irem dar aulas e propagar a interpretação literal do Corão. Vêm de todos os países do mundo muçulmano - assim como as doações que sustentam as madrassas - e para eles voltarão, com a missão de pregar. A carga horária dos 3 mil alunos - 200 mulheres, num prédio separado - é pesada. São de sete a oito horas de estudos por dia com pausas para as refeições e as cinco orações diárias a que todo muçulmano praticante está obrigado. "Há muçulmanos no Brasil?", interessa-se Abdul, sob o olhar escrutinador de seu professor, Rashid ul-Haq, filho do diretor da escola. Sorri timidamente, ao ouvir a descrição da longínqua Grande Mesquita de São Paulo, com suas paredes e torres imaculadamente caiadas de branco. A pausa termina e Abdul precisa voltar à aula no interior da madrassa, onde só muçulmanos praticantes têm permissão de entrar, descalços. É um lugar sagrado, como uma mesquita. O professor Ul-Haq continua na varanda, expondo a peculiar lógica - uma das disciplinas ensinadas na madrassa, ao lado da medicina tradicional islâmica e da literatura clássica árabe - que alicerça o dogma fundamentalista. Nela, justifica-se até mesmo a destruição das milenares estátuas de Budas no Afeganistão, que aterrou o mundo: "Somos monoteístas. O Islã é contra considerar Buda um deus."

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