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Taleban liberta 12 sul-coreanos seqüestrados no Afeganistão

Radicais se comprometem a soltar os 19 missionarios reféns; sete pessoas permanecem em poder do grupo

Por Agências internacionais
Atualização:

A milícia fundamentalista islâmica Taleban libertou mais quatro dos 23 reféns sul-coreanos seqüestrados em julho, elevando para 12 o número de missionários soltos pelos radicais nesta quarta-feira, 29.   Os militantes prometeram libertar todos os reféns depois de firmarem um acordo com negociadores sul-coreanos na terça-feira, 28, dando um desfecho para uma crise que já durava cerca de seis semanas. Ao todo, sete pessoas continuam nas mãos dos seqüestradores, que mataram dois dos reféns e já haviam libertado outros dois.   Os 12 reféns libertados até o momento foram levados até agentes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que mediou os encontros. Os sul-coreanos foram soltos em três grupos separados e entregues ao CICV em diferentes localidades próximas de Ghazni, na região central do Afeganistão.   O primeiro grupo, composto por três mulheres, foi deixado em Qala-e-Kazi. Depois de algumas horas, quatro mulheres e um homem foram soltos perto de uma área desértica de Shah Baz. No fim da tarde, mais quatro reféns foram soltos em uma estrada a cerca de 50 quilômetros de Ghazni. Nenhum dos reféns conversou com os jornalistas que acompanharam a libertação.   Com base num acordo fechado na terça-feira, os insurgentes comprometeram-se a libertar todos os reféns em no máximo 48 horas. O Taleban não explicou por que preferia libertar os cativos em pequenos grupos, mas acredita-se que a decisão esteja relacionada a dificuldades logísticas, uma vez que os reféns eram mantidos em cativeiros distintos, distantes uns dos outros.   Apesar de a libertação dos reféns já ter começado, um ministro afegão criticou o acordo fechado ontem sob a alegação de que o desdobramento encorajaria os insurgentes em meio à pior onda de violência ocorrida no país desde a invasão americana, no fim de 2001.   Na Coréia do Sul, familiares comemoraram a libertação dos reféns. "Falei com meus pai no telefone. Eles choravam e diziam: 'nossa filha está voltando viva'", relatou Lee Jung-hoon, irmão de uma das mulheres soltas. "Espero que os demais reféns também voltem logo e em segurança", prosseguiu.   Cho Hee-yong, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Coréia do Sul, disse que os primeiros reféns libertados aparentemente estão bem de saúde.   Críticas   Amin Farhang, ministro do Comércio do Afeganistão, criticou a Coréia do Sul por ter negociado com o Taleban. "Alguém tem que dizer que essa libertação nessas condições tornará ainda mais difíceis as coisas para nós no Afeganistão", comentou ele durante entrevista à rádio alemã Bayerischer Rundfunk.   "Tememos que essa decisão possa se transformar num precedente. O Taleban continuará tentando capturar reféns para atingir seus objetivos no Afeganistão", prosseguiu.   O grupo de 23 religiosos sul-coreanos que realizavam trabalhos voluntários no Afeganistão foi seqüestrado pelo Taleban durante uma viagem entre Cabul e Kandahar em 19 de julho.   Após uma rodada de negociações diretas realizada na terça, o Taleban aceitou soltar os 19 reféns restantes depois de a Coréia do Sul ter se comprometido a retirar suas tropas do Afeganistão até o fim deste ano e a proibir as viagens de missionários sul-coreanos ao território afegão.   Seul já planejava retirar até o fim de 2007 os cerca de 200 soldados que mantém no país exclusivamente para esforços de reconstrução, sem engajamento em combates.   Originalmente, o Taleban exigia também a libertação de militantes do grupo detidos em prisões afegãs, mas Cabul recusou-se a negociar uma eventual troca de prisioneiros.   Mais legitimidade   Um analista observa que o Taleban emerge da crise com mais legitimidade política, apesar de suas exigências não terem sido atendidas na íntegra. "Se o Taleban mantiver a tática de tomar reféns, outros governos não se sentirão constrangidos de seguir o exemplo sul-coreano e negociar diretamente", considerou Mustafa Alani, diretor de estudos em terrorismo e segurança do Centro de Pesquisas do Golfo, com sede em Dubai.   "Hoje, o Taleban pratica diplomacia, possui porta-vozes, valoriza as câmeras, percebe a dimensão política do movimento e têm o objetivo de ser reconhecido como legítimo", opinou.   Missionários sul-coreanos atuam no Afeganistão há alguns anos, mas viajam ao país por conta própria. Inicialmente, o governo sul-coreano insistia que os reféns não seriam missionários, mas sim agentes humanitários.

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