Taleban mata 10 soldados franceses e ataca base dos EUA com 15 suicidas

Ofensiva dupla de radicais islâmicos é a mais ousada dos últimos seis anos no Afeganistão; Sarkozy viaja para Cabul

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Por NYT , AP , Reuters e Cabul
Atualização:

Insurgentes do Taleban lançaram ontem sua mais ousada ofensiva contra tropas estrangeiras no Afeganistão desde a invasão liderada pelos EUA, em outubro de 2001. Próximo à capital Cabul, cerca de 100 rebeldes mataram 10 soldados franceses e feriram outros 21 numa emboscada. Esse foi o maior número de baixas entre as forças internacionais num único combate em seis anos. Horas depois, um grupo de 15 homens-bomba atacou uma base dos EUA na fronteira com o Paquistão, deixando 12 civis mortos e 9 militares feridos. Os dois confrontos demonstram como os insurgentes intensificaram suas ações neste ano, que já é considerado o mais mortífero no Afeganistão desde 2001. Desde o início do ano, 183 militares estrangeiros foram mortos - 99 americanos e 84 de outros países das forças de coalizão. Em 2007, foram registradas 232 mortes. Além de mais numerosos, os atentados dos taleban estão cada vez mais sofisticados e próximos de Cabul. Os radicais têm recorrido a bombas em estradas, ataques suicidas e diferentes tipos de artilharias, agindo em ações coordenadas com vários agressores. EMBOSCADA Foi assim no ataque contra os pára-quedistas franceses, integrantes de uma tropa de elite que estava em uma missão de reconhecimento no distrito de Sarobi, 50 quilômetros a leste da capital. Os pára-quedistas foram emboscados na segunda-feira à noite por 100 insurgentes, um número extraordinariamente grande se comparado a ataques anteriores. Nove militares foram mortos imediatamente e o décimo morreu quando seu veículo capotou. O confronto durou horas e, com o apoio aéreo da Otan, 13 militantes foram mortos. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, viajou na noite de ontem para Cabul e disse que continuava comprometido com a missão no Afeganistão: "A França sofreu um duro golpe. Mas estamos determinados a lutar contra o terrorismo." Segundo a rede britânica BBC, foi o pior golpe no Exército francês desde 1983, quando 58 soldados morreram no Líbano. O atentado provocou revolta na França, onde dois terços da população é contra a presença de 2.600 de seus soldados no Afeganistão. O atentado aos americanos ocorreu em Khost, a segunda maior base militar dos EUA no Afeganistão, perto da fronteira com o Paquistão. Segundo a Otan, o ataque foi um dos mais bem organizados lançados até hoje. Primeiro, mais de 40 insurgentes lançaram foguetes e granadas de morteiros em direção à base. Em seguida, tentaram entrar no local detonando um carro-bomba na portaria, matando 12 civis afegãos. Quinze homens-bomba tentaram, então, invadir a área pelo aeroporto da base. Alguns chegaram a detonar os explosivos, mas 13 foram mortos pelos soldados antes de conseguir entrar no campo. Pelo menos três soldados americanos e seis afegãos ficaram feridos no confronto. Cerca de 30 taleban foram mortos. Comandantes americanos e da Otan atribuíram parte do aumento da atividade insurgente à grande liberdade de movimento que os militantes têm nas áreas tribais do Paquistão, na fronteira com o Afeganistão. A confusão no governo paquistanês nos últimos meses, que culminou com a renúncia do presidente Pervez Musharraf na segunda-feira, acrescentou o senso de um vácuo de autoridade no Paquistão - onde o Taleban também realizou um atentado ontem (ler ao lado). Para os comandantes, outro detalhe importante é o fato de os militares paquistaneses terem concordado em fevereiro em suspender as ofensivas e iniciado negociações de paz com os militantes, dando aos insurgentes maior liberdade para treinar, recrutar e lançar ataques no Afeganistão.

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