16 de dezembro de 2014 | 22h13
PESHAWAR, PAQUISTÃO - Integrantes do Taleban paquistanês, vestidos em uniformes militares, invadiram ontem uma escola militar em Peshawar e mataram 141 pessoas, sendo 132 estudantes. No pior ataque da história recente do Paquistão, eles enfrentaram as forças de segurança por oito horas e só deixaram de fazer vítimas quando o último fundamentalista foi morto.
O grupo Tehrik-e-Taliban Pakistan (TTP) reivindicou a autoria do ataque. Segundo a organização, foi uma retaliação à ofensiva militar contra os militantes do Waziristão do Norte, um bastião do TTP. A célula, considerada terrorista pelos EUA desde 2010, é suspeita de ter ligações estreitas com a rede Al-Qaeda.
Após fracassadas conversações de paz entre Islamabad e o Taleban, o Exército paquistanês anunciou, em junho, uma ofensiva na região. “Queremos que eles sintam a nossa dor”, afirmou o Taleban, em referência aos parentes dos militantes mortos na campanha do Exército.
O ataque teve início por volta das 10 horas (6 horas de Brasília), quando nove militantes do grupo escalaram o muro e entraram na Escola Pública do Exército. Administrada por militares, a instituição tem cerca de 2,5 mil estudantes, meninos e meninas entre 7 e 17 anos, todos filhos de oficiais de Peshawar – cidade no norte do país, a cerca de 120 quilômetros da capital, Islamabad.
Testemunhas disseram que um dos militantes, assim que entrou na escola, gritou: “Deus é grande”! Após ver o primeiro estudante, ele disse: “As crianças estão sob os bancos. Matem todas”. Em seguida, os insurgentes abriram fogo e lançaram granadas na direção dos jovens e dos professores.
Além dos estudantes, foram mortos nove professores e funcionários da escola. Pelo menos cem pessoas ficaram feridas. As forças de segurança cercaram o edifício e travaram confronto, com troca de tiros, durante oito horas, como explicou um porta-voz do Exército, Ahmed Ali.
Segundo a TV americana CNN, os soldados percorreram todas as salas da escola e confinaram os militantes em quatro prédios da instituição. Em algumas horas, todos os integrantes do grupo estavam mortos.
O Exército explicou que os militantes tinham munição e suprimento para dias de combate. Após o ataque, as autoridades paquistanesas deram início, na noite de ontem, a buscas por mais sobreviventes, vítimas ou explosivos capazes de tornar a carnificina ainda maior.
Em uma similaridade com o ataque a uma escola em Beslan, na Rússia, em 2004, o maior massacre ocorreu no principal auditório da instituição, onde um instrutor do Exército ensinava os estudantes a dar os primeiros socorros às vítimas, relataram testemunhas ao jornal New York Times
“Nosso instrutor nos disse para abaixar e deitar no chão. Então, eu vi militantes passando entre os estudantes e atirando em suas cabeças”, contou Zeeshan, um dos jovens que escapou com ferimentos do ataque.
O ministro da Informação da Província de Khyber-Pakhtunkhwa (da qual, Peshawar é a capital), Mushtaq Ghani, confirmou que a maioria das vítimas foi morta com tiros na cabeça.
Reação. A comunidade internacional reagiu e condenou o ataque no Paquistão. O presidente dos EUA, Barack Obama, o qualificou de “atroz”. “Estamos com o povo do Paquistão e reiteramos o compromisso dos EUA de apoiar o governo do Paquistão em seus esforços para combater o terrorismo e o extremismo e para promover a paz e a estabilidade na região”, afirmou o presidente, em comunicado.
O Brasil também condenou “com veemência” o atentado, segundo nota do Itamaraty, e manifestou “repúdio à violência”. Na mesma linha, a Grã-Bretanha lamentou o ato terrorista e disse que trabalhará “ombro a ombro” com o Paquistão na luta contra o terrorismo e o extremismo religioso. / NYT, EFE, REUTERS e AP
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