Tanguería gay faz sucesso em Buenos Aires

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Por Agencia Estado
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A música de fundo é Nieblas del Riachuelo, elegante tango de Enrique Cadícamo. Um casal desliza pelo salão, no meio da penumbra. Ele, de uns 50 anos, cabelos grisalhos cuidadosamente penteados, veste traje esporte fino. O parceiro, de menos de 30, está de jeans e camiseta justa, mostrando os músculos. Em todo o salão homens dançam com homens. Trata-se de La Marshall, primeira tanguería gay do mundo. Todas as quartas-feiras um público de mais de 40 homens dança compenetradamente o gênero que imortalizou Carlos Gardel e o escritor Jorge Luis Borges descreveu como "uma forma de caminhar pela vida". Os professores Edgardo Gargano e Augusto Balizano afirmaram que em uma milonga (salão de tango) tradicional não está proibida a dança entre homens, mas "inevitavelmente ia ser malvisto". Balizano, que já participou do Queer Tango Festival - evento gay realizado em Hamburgo, Alemanha - disse que a idéia ao criar o La Marshall era de que "os rapazes pudessem dançar em paz". A imagem de dois homens numa dança sensual como o tango causa arrepios de terror nos "tangueiros" ortodoxos. Mas há cem anos, quando o gênero dava seus primeiros passos, isso era freqüente. Historiadores afirmam que de dia, para treinar passos complexos como "cortes" e "quebradas", os homens dançavam entre si. À noite, segundo Balizano, "eles davam show nos salões, com tudo o que haviam treinado, mas, com certeza alguns dos caras que dançavam eram gays". No tango, ao contrário de outras danças populares, quem comanda o ritmo é o homem. Em La Marshall, os professores ensinam a conduzir e ser conduzido. "Alguns alunos se recusam a serem comandados. Não querem deixar o papel de homem. Mas nós dançamos das duas formas. Às vezes é um quem conduz, às vezes o outro. Depende do momento", explicam Leo e Fabio, jovem casal que tem aulas de tango há um ano e agora pode mostrar sua técnica no salão. Turistas La Marshall está aproveitando a transformação de Buenos Aires na "Meca gay da América Latina". Recebe muitos turistas homossexuais, como alemães, mexicanos e brasileiros. Também mulheres gostam de ir ali pelo prazer de dançar o tango "sem sofrer o assédio de velhos caquéticos heterossexuais", como explica Ana, uma loira estonteante de 25 anos. "Quem dança comigo aqui é pelo amor ao tango mesmo, e não porque está olhando meu decote."

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