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Tanques patrulham ruas de Beirute

Forte presença militar e teorias de conspiração tomam conta de vastas áreas da tensa capital libanesa

Por Gustavo Chacra
Atualização:

Tanques tomavam as ruas de Beirute e teorias da conspiração - um dos passatempos preferidos dos libaneses em momentos de tensão - dominavam as conversas na cidade, enquanto parte da população começava a tomar algumas medidas semelhantes aos tempos da guerra civil (1975-1990). Blindados e soldados começaram a espalhar-se pelas esquinas da capital do país desde o início da semana. Num restaurante ontem, uma analista política libanesa afirmava temer combates nas ruas neste fim de semana. Sua amiga deixou o local dizendo que queria estocar leite para os seus filhos. Uma libanesa-americana filha de um rico empresário xiita foi proibida pelo pai de sair de casa a partir da noite de quinta-feira. Alunos da Universidade Americana de Beirute faltaram às aulas para acompanhar pela TV o que ocorria no Parlamento durante a tarde. E a principal casa de shows da capital fechou as portas na noite de ontem, cancelando o programa de parte da elite libanesa. Contrastando com o clima geral de insegurança, em Ashrafyeh, uma área cristã, os restaurantes permaneciam lotados e o shopping center local, com as lojas abertas. Casais tomavam café e havia fila para o cinema. Embora na maior parte dos países, tanques pelas ruas sugiram algo estranho, os libaneses estão acostumados a este cenário. Durante a guerra civil, havia placas de trânsito indicando as vias pelas quais tanques e blindados podiam circular. A maior parte dos militares ontem estava posicionada nos principais cruzamentos da cidade, na linha verde, que separa a parte ocidental (muçulmana sunita) da oriental (cristã) de Beirute. As forças de segurança também se posicionaram diante dos ministérios a partir da noite de quinta-feira. A segurança era ainda mais reforçada no centro reconstruído, onde se localiza o Parlamento. A região, destruída durante a guerra civil, foi reconstruída pelo ex-premiê Rafic Hariri, morto em atentado em 2005. Até novembro do ano passado, era uma das áreas mais movimentadas de Beirute, freqüentada por pessoas de todas as religiões. Mas há um ano membros da oposição liderada pelo Hezbollah e pelo líder cristão Michel Aoun acamparam em volta do centro, que também é conhecido como Solidere, reduzindo o número de visitantes. Ontem o cenário era ainda mais deprimente. Apenas jornalistas e algumas pessoas autorizadas podiam entrar no Solidere. As ruas estavam completamente desertas, a não ser pelos soldados que faziam a segurança. Nas barracas, onde estão acampados os oposicionistas, havia mais gente do que de costume. Em Hamra, uma área majoritariamente sunita nas proximidades da Universidade Americana e reduto do líder governista Saad Hariri, grupos de jovens reuniam-se na noite de quinta-feira nas esquinas e chegaram a parar carros para olhar quem estava dentro. O Hezbollah, principal força da oposição, está concentrado no sul da cidade, perto do aeroporto, em uma região conhecida como Dahia. Há relatos de que membros do Hezbollah, xiitas, estariam se dirigindo para Beirute. Também havia aounistas (cristãos aliados do grupo xiita) circulando nos arredores de Beirute no que os libaneses chamam de "patrulha". O risco era o de eles entrarem em choque com cristãos que seguem as Forças Libanesas - uma organização radical cristã que hoje é aliada dos sunitas de Hariri na coalizão 14 de Março. Até o fim da noite de ontem, não havia relatos de confrontos.

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