Tanques somalis rumam para sul atrás de guerrilha islâmica

Líder muçulmano pediu a moradores para que defendessem seu país das tropas

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Tanques etíopes rumaram para o sul de Mogadiscio para atacar os islâmicos somalis neste sábado, 30, depois que os líderes do movimento religioso convocaram seus soldados para manter a resistência na cidade portuária de Kismayu. O xeque Sharif Ahmed, cujas forças fugiram da capital da Somália na quinta-feira, também pediu a milhares de moradores reunidos no estádio Kismayu para a festa muçulmana do Eid al-Adha que defendessem seu país e sua fé das tropas do governo apoiadas por blindados, soldados e aviões de caça da Etiópia, país de maioria cristã. "Nosso país está sob ocupação, então decidimos lutar", disse ele à multidão enquanto as tropas islâmicas em caminhões equipados com artilharia antiaérea montavam guarda fora do estádio. Ahmed disse que o Conselho dos Tribunais Islâmicos da Somália (Sicc, na sigla em inglês) continuam prontos a negociar com o governo interino, mas que os soldados etíopes devem partir. Ele disse que os Tribunais foram criados para restaurar a estabilidade num país mergulhado na anarquia, dilacerado e marcado por rixas dos militares desde a derrubada do ditador Mohamed Siad Barre em 1991. "Mas agora estamos nos preparando para expulsar esses invasores do nosso país", disse o presidente do Sicc. As tropas islâmicas abandonaram a capital litorânea que comandavam há seis meses sob a lei Sharia na quinta-feira, após 10 dias de ofensiva etíope por terra e ar. Coroando a reviravolta dramática, o primeiro-ministro da Somália, Ali Mohamed Gedi, apoiado pelos etíopes, entrou em Mogadiscio na sexta-feira, dizendo que a luta por sobrevivência política havia sido vencida. No sábado, o presidente Abdullahi Yusuf chegou ao país num helicóptero do exército etíope, a cerca de 20 km de Mogadíscio e reuniu-se com líderes das facções e anciãos. "Este governo tem o dever de restabelecer a paz", disse ele a repórteres durante uma inspeção ao acampamento militar. "O país inteiro virou pessoas e armas (...) Enfrentamos 15 anos de guerra civil. Agora precisamos perdoar uns aos outros e nos dar as mãos." Sentado numa cadeira plástica embaixo de uma grande árvore, Yusuf disse que não entrará na capital desta vez e retornará à base do governo na cidade de Baidoa. "Virei a Mogadíscio quando tudo estiver em ordem." "A jihad continua" Enquanto isso, centenas de moradores realizaram uma manifestação no sul de Mogadiscio, queimando pneus e gritando slogans contra a Etiópia. Houve um protesto similar na capital na sexta-feira. Aviões de guerra etíopes sobrevoaram Kismayu e a vizinha Jilib na sexta e no sábado, espalhando o medo entre os moradores. Kismayu fica cerca de 300 quilômetros ao sudoeste de Mogadiscio. Um soldado do governo somali disse que os islâmicos - acusados por Adis Abeba e Washington de receberem apoio da Al-Qaeda -- colocaram minas na estrada que sai de Mogadiscio durante sua retirada. "Estamos indo para Jilib num comboio de 15 tanques etíopes", disse Ahmednur Yasin à agência de notícias Reuters por telefone. "Há mais tropas se dirigindo para Buale e tenho certeza que os combates começarão em breve." "Todos os terroristas estão em Jilib e Kismayu", disse uma fonte importante do governo da Somália. Os islâmicos disseram saber que seriam atacados. "Vamos combater os invasores etíopes. A jihad não terminará", disse um soldado do Sicc que pediu para não ser identificado. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse que os dias de violência podem ter matado centenas de pessoas e definiu a rápida escalada militar na Somália como "os mais duros combates da década". Neste sábado o parlamento deve votar o decreto de lei marcial, com duração de três meses, cujo objetivo é desarmar milhares de membros das milícias leais aos ex-militares acusados de anos de anarquia. Segundo analistas, o governo de Gedi depende quase completamente da Etiópia para ter força militar, e não está nada claro que ele manterá a segurança se e quando os etíopes deixarem a Somália. Moradores e analistas temem uma guerra de guerrilha promovida pelo Sicc. Mas a ida de Gedi a Mogadiscio na sexta-feira foi vista como um passo simbólico que aumentou a confiança no mercado local. Em um dia, cambistas e vendedores ambulantes disseram que o shilling somali passou de 14 mil para 10 mil por dólar.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.