Tecnologia pode frear uso de veículos como armas por terroristas

Parte dos atentados poderia ser evitada com o sistema de frenagem automática, que freia um veículo antes que atropele um pedestre

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Por Redação
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“Já chega”, disse a primeira-ministra britânica, Theresa May, após o atentado terrorista de sábado em Londres. Mas o que ela propôs para conter ataques foi, essencialmente, uma certa restrição à liberdade de expressão, mais poderes para a polícia e condenações mais longas para crimes relacionados a terrorismo – o mesmo arsenal usado há quase duas décadas. O problema com as ferramentas tradicionais não é que sejam ineficazes – é que já vêm sendo usadas na capacidade máxima.

Governos têm de reagir menos genericamente às formas que o terror vem assumindo. Dos três ataques no Reino Unido neste ano, dois começaram com tentativas de matar pessoas com veículos. Essa é uma prática terrorista cada vez mais usada, que teve sangrentos resultados em Nice e Berlim.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, acredita que 'a luta contra o terrorismo e o extremismo islâmico deve mudar' Foto: Kevin Coombs/ Reuters

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Pelo menos essa parte dos atentados poderia ter sido evitada, ou reduzida, com a moderna tecnologia conhecida como sistema de frenagem automática (AEB, na sigla em inglês). É uma tecnologia destinada a salvar vidas que já se mostrou capaz de reduzir colisões de marcha à ré e, nas formas mais modernas, freia um veículo antes que ele atropele um pedestre.

O caminhão usado em Berlim por Anis Amri estava equipado com um dispositivo AEB. O recurso impediu um número ainda maior de mortes. O motivo pelo qual o sistema não deteve antes o caminhão é que o motorista pode ignorar o alerta inicial, neutralizando o sistema por um curto espaço de tempo. Em tal cenário, os freios são acionados de forma autônoma somente após a primeira colisão.

A regulamentação europeia exige que todos os veículos novos venham equipados com o AEB desde 2015. O motorista, porém, pode desativá-lo. Os órgãos reguladores podem dificultar a vida de terroristas que planejam fazer do carro uma arma se estabelecerem que o sistema não possa ser desativado manualmente quando uma colisão com um ser humano seja iminente. 

É óbvio que os terroristas terão ainda uma grande oferta de veículos mais velhos. O carro médio nas estradas europeias tem quase dez anos. Tirá-los antecipadamente de circulação seria uma medida fortemente impopular, mas ainda assim poderia vir a ser proposta, especialmente se a troca de veículos velhos por novos fosse subsidiada, como ocorreu em vários países durante a crise financeira mundial. Reduzir as opções fáceis para terroristas não é irrelevante.

A alternativa de baixa tecnologia – utilizada na Turquia e em Israel, onde carros transformados em armas tornaram-se realidade antes – é instalar obstáculos nas partes das cidades em que seja mais provável um ataque terrorista ou o número de vítimas possa ser grande. Isso vem sendo feito em pontos turísticos de Londres. Berlim encomendou barreiras a Israel após o ataque de dezembro. Mas há limites para essa estratégia em áreas públicas de muitas velhas cidades europeias.

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Países com leis mais estritas de proibição de armas sofrem menos violência armada. Nesses países, os candidatos a terroristas buscam alternativas. Regulamentações mais rígidas sobre segurança de carros poderiam reduzir o número de mortes. Isso não exclui a necessidade de se atacar problemas mais complexos, como a ineficaz integração dos imigrantes, ou a assustadora eficiência da propaganda terrorista. Mas, quando se fala em segurança, tratar sintomas é uma resposta inteligente e imediata. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MAZZUCCO MUNIZ É COLUNISTA

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