Temer recebe oposicionista venezuelana e diz que prisões políticas são 'inaceitáveis'

Segundo o Planalto, o presidente 'insistiu ser fundamental pôr fim a prisões políticas, garantir as liberdades individuais, respeitar a independência dos poderes, e definir e cumprir calendário eleitoral'

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Por Lu Aiko Otta e Carla Araujo
Atualização:

BRASÍLIA - A reprovação do governo brasileiro à situação na Venezuela atingiu nesta quinta-feira, 11, seu tom mais elevado. Num claro posicionamento, o presidente Michel Temer reuniu-se hoje com a ativista de oposição Lilian Tintori. 

Ela é mulher do líder oposicionista Leopoldo López, mantido há três anos em uma prisão militar, e um dos símbolos da resistência venezuelana. É a primeira vez que um representante da oposição ao presidente Nicolás Maduro é recebido no Palácio do Planalto.

O presidente, Michel Temer, durante encontro com Lilian Tintori, no Palacio do Planalto Foto: Dida Sampaio / Estadão

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Segundo Lilian, Temer disse no encontro que as prisões políticas são “inaceitáveis”. O presidente disse desejar que Leopoldo López seja libertado e possa estar em convívio com sua família em breve. 

No relato do porta-voz do Palácio do Planalto, Alexandre Parola, Temer “ressaltou a firme posição do Brasil de apoio à democracia e aos direitos humanos na Venezuela” e “insistiu ser fundamental pôr fim a prisões políticas, garantir as liberdades individuais, respeitar a independência dos poderes, e definir e cumprir calendário eleitoral.” 

O presidente disse ainda que o Brasil está pronto a prestar ajuda humanitária aos venezuelanos e tem mantido contatos com outros governos para discutir a situação. Hoje mesmo, antes de receber a ativista, ele conversou com o presidente da Argentina, Maurício Macri, a respeito.

“A Venezuela vive uma crise humanitária, social e política”, afirmou Lilian após a reunião com Temer. “Vivemos uma ditadura, que reprime e dispara contra os venezuelanos que protestam pacificamente nas ruas.” Ela disse que os protestos já duram 41 dias e pedem quatro coisas: eleições gerais em 2017, um canal de ajuda humanitária para a chegada de alimentos e remédios, respeito à Assembleia Nacional e libertação de todos os 167 presos políticos. 

O governo Maduro tem reprimido duramente os protestos. Segundo Lilian, 42 pessoas já foram mortas em confrontos com a polícia. Ela contou que os agentes de segurança não atiram para cima, para dispersar a multidão. “Eles atiram a queima-roupa”. Houve casos em que pessoas foram feridas porque lhes atiraram bombas de gás contra o corpo. A ativista exibiu fotografias de diversas pessoas machucadas nos atos de repressão, entre eles alguns deputados. 

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Antes de reunir-se com Temer, Lilian esteve com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele marcou uma sessão solene no próximo dia 23 para realizar o “Diálogo Parlamentar em Defesa da Democracia na Venezuela”. Estarão presentes os presidentes dos Legislativos da Argentina, Guiana, México e Peru. Portugal, Itália e Espanha enviarão representantes de alto nível. Ela reuniu-se também com o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

O evento na Câmara é um ato de apoio à Assembleia Nacional venezuelana, de maioria oposicionista, cujas funções foram assumidas pelo Judiciário, controlado por Maduro, no fim de março. A medida foi revertida, mas agora o governo venezuelano convocou uma assembleia constituinte. Se concretizada, essa medida tornará inviável a realização de eleições. O pleito para os governos regionais deveria ter sido realizado em dezembro.

As manifestações políticas condenando a ruptura com o estado democrático e o desrespeito aos direitos humanos e exigindo as eleições, que são a saída mais viável para a crise política, são o principal instrumento de que dispõe o governo brasileiro. Em entrevista ao Estado na semana passada, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, descartou a possibilidade de medidas mais duras, como uma intervenção militar ou a adoção de sanções econômicas. O chanceler classificou a convocação da constituinte como um “golpe”. Ele já havia chamado o atual regime na Venezuela de “ditadura”. 

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