Terrorismo faz ataque devastador contra os EUA

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Por Agencia Estado
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Numa espantosa ação coordenada, e tendo como armas grandes jatos comerciais seqüestrados carregados de combustível, terroristas lançaram nesta terça-feira um gigantesco e devastador ataque contra os Estados Unidos. No início da noite, a capital do Afeganistão, Cabul, foi bombardeada, mas uma fonte do Pentágono negou que o ataque tenha partido das forças militares dos Estados Unidos A exemplo das armas usadas - Boeings 767 e 757 da American e United Airlines, as duas maiores empresas aéreas americanas - os alvos escolhidos para a horripilante seqüência de atentados não poderiam ser mais simbólicos do poderio econômico e militar dos EUA: as torres gêmeas World Trade Center, de 110 andares, no coração do distrito financeiro de Nova York, que desabaram menos de uma hora depois de serem atingidas nos andares superiores por dois aviões, com 18 minutos de intervalo; e o Pentágono, a sede do Ministério da Defesa e do comando das forças armadas do país, nos arredores de Washington. Cenas de guerra No início da tarde, com a região de Wall Street transformada em cena de guerra, caças militares a patrulhar os céus e os hospitais de Manhattan lotados e em desesperada busca de doares de sangue, o número de vítimas era estimado em milhares de mortos e feridos. Cerca de 50 mil pessoas trabalham no World Trade Center e outras 150 mil transitam pelos dois prédios, que têm, no subterrâneo, um dos grandes entroncamentos de trens urbanos da cidades. Autoridades locais calculam que pelo menos 20 mil pessoas já haviam chegado a seus escritórios quando o primeiro avião bateu na torre sul. Alvo O World Trade Center foi alvo de um ataque a carro-bomba em fevereiro de 1993. O objetivo dos terroristas, que foram presos, julgados e condenados, eram fazer com que uma torre desabasse sobre a outra. Dois anos mais tarde, a polícia descobriu a tempo um plano de ataque contra o Túnel Lincoln, um dos principais acessos a Manhattan. Em Washington, onde pelo menos uma explosão confirmada de carro-bomba na esplanada central dos grandes museus e monumentos nacionais - o National Mall - causou pânico entre turistas, a evacuação preventiva dos prédios do centro, a súbita aparição de centenas de agentes federais em roupa de combate, guardando a Casa Branca e outros centros do poder com rifles automáticos, e o soar das sirenes dos veículos de emergência traduziam a sensação de vulnerabilidade que se instalou no país. Casa Branca Pouco depois de dez horas da manhã, quando milhares de pessoas deixavam os prédios onde trabalham, a polícia estabeleceu um perímetro de segurança depois que um jato de grande porte, pintado de branco, sobrevoou o espaço aéreo restrito sobre a Casa Branca. O presidente George W. Bush, que estava visitando uma escola na Flórida quando ocorreu o primeiro atentado, às 8h45 (horário local), disse que os EUA "caçarão e punirão" os autores do que chamou, inicialmente, "um aparente ataque terrorista". Por decisão do serviço secreto, que disse não poder garantir a segurança do presidente caso ele retornasse à Casa Branca, Bush voou de Sarasota, na Flórida, para a base aérea de Barksdale, em Louisiana, onde leu uma breve mensagem ao país, para tranqüilizar a traumatizada população do país e dar uma mensagem ao resto do mundo: "A determinação de nossa grande nação está sendo testada, mas não tenham dúvida: nós mostraremos ao mundo que passaremos este teste". Sem controle Logo depois, o Air Force One decolou, com escolta reforçada de caças de interceptação e ataque, para um destino inicialmente não revelado - uma informação que reforçou a sensação de que a situação estava longe de estar controlada nas primeiras horas depois dos ataques da manhã. À tarde, o Boeing presidencial pousou na base aérea de Offut, em Nebraska, próxima ao antigo Comando Aéreo Estratégico de Omaha, usado durante a guerra fria. As forças armadas americanas entraram no estado mais avançado de prontidão e a marinha despachou dois porta-aviões para as proximidades de Washington e Nova York para dar proteção adicional às capitais política e econômica do país. Vôos Por medida de precaução, os vôos internacionais com destino aos EUA foram desviados para o Canadá, os aeroportos americanos suspenderam suas operações e as fronteiras do país com o México e o Canadá foram fechadas. O governo federal instruiu as usinas nucleares e termoelétricas, bem como as refinarias de petróleo a operar em estado de alerta máxima. Vários serviços de trens foram interrompidos e as estradas foram fechadas nas proximidades de agências federais sensíveis, como as agências de inteligência (CIA) e de segurança nacional (NSA), que ficam em subúrbios da capital. Implicações políticas O choque provocado pela enormidade do ataque não permitia avaliar todas as implicações políticas do espantoso evento para os Estados Unidos e suas relações com o resto do mundo. O secretário de Estado, Colin Powell, que estava no Peru para participar de uma Assembléia Especial da Organização dos Estados Americanos que adotou uma nova Carta Democrática, e tinha planos de visitar a Colômbia, resumiu a catástrofe num breve discurso que fez ao chanceleres da região, antes de voar de volta para Washington. "Uma tragédia terrível abateu-se sobre minha nação, mas também sobre todas as nações desta região, todas as nações do mundo e todos aqueles que acreditam na democracia", disse ele. "Uma vez mais, os terroristas, pessoas que não acreditam na democracia, mas na destruição de propriedade e de pessoas para atingir seus objetivos, atacaram. Eles podem destruir prédios, podem matar pessoas e nós ficaremos tristes com essa tragédia, mas eles não conseguirão destruir a nossa sociedade e jamais permitiremos que eles destruam o espírito da democracia". Nação forte Powell, um ex-general do exército que comandou as forças armadas dos EUA na guerra contra o Iraque, há dez anos, disse que "por mais terrível que este dia seja para nós, você podem ter certeza de que lidaremos com a tragédia de forma a trazer os responsáveis perante a Justiça e a superaremos, porque somos uma nação forte, uma nação que acredita em si mesma". Veteranos políticos e diplomatas dizem que o dia 11 de setembro de 2001 ficará como um marco na história - a data do início de um novo tipo de conflito armado que os EUA enfrentarão no século 21 e perante o qual terão que agir com determinação. "É um ato gravíssimo", disse o embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa. "Há uma grande perplexidade e incredulidade no país". Barbosa disse que não especularia sobre a resposta americana. "Mas não tenho dúvida de que ela virá". Pearl Harbour "Este é um novo Pearl Harbour", disse o senador John Warner, republicano de Virgínia, referindo-se ao ataque japonês contra a base naval americana do Pacífico, no Havaí, em dezembro de 1941, que provocou a entrada do país na Segunda Guerra Mundial. "A retaliação precisa ser maciça e não importa discriminar entre grupos terroristas, mas Osama Bin Laden tem que estar na lista", sugeriu o ex-secretário de Estado Lawrence Eagleburger. O ex-embaixador dos EUA na ONU, Richard Holbrooke, acrescentou que, desta vez, amigos, simpatizantes e protetores de grupos terroristas não devem ser poupados. "Qualquer país, grupo, pessoa ou entidade associada com os autores desse ato terrorista é responsável da mesma forma e deve ser tratado como tal". Inteligência falha Ao mesmo tempo em que as autoridades buscavam identificar o responsável ou responsáveis pelo atentado, a tragédia provocou críticas às falhas de inteligência e segurança. O ex-secretário de Estado James Baker disse que o ataque "comprova que temos problemas na área de inteligência, pois este é o tipo do atentando que tínhamos previsto". Segundo Baker, a tragédia levará o Congresso a reavaliar cortes de verbas federais que reduziram o recrutamento de agentes de inteligência pela CIA nos últimos anos. Outros analistas chamaram atenção para o fracasso do FBI, a polícia federal americana que é incumbida da contra-espionagem e das ações de prevenção ao terrorismo dentro do território americano. Falhas Mas Eagleburger apontou a mais flagrante das falhas reveladas pelo ataque: a deficiência dos serviços de segurança nos aeroportos. "Eu pensava que nós já tínhamos resolvido esse problema de seqüestro de aviões nos EUA", disse ele, perplexo como a maioria dos americanos diante da constatação de que nada menos de que os sistemas de segurança falharam simultaneamente em nada menos de três aeroportos diferentes. O de Dulles, perto de Washington, foi o ponto partida do Boeing 757 da America Airlines, que fazia o vôo 77 para Los Angeles, e terminou num explosão quando se chocou contra a face norte do prédio do Pentágono, na ala ocupada pelo exército. Pelo menos 26 pessoas foram atendidas em três hospitais da área de Washington. Até o início da noite, as autoridades não haviam revelado o número de vítimas fatais dentro do prédio, além dos 64 passageiros e tripulantes que estavam a bordo do avião. Aviões Os aviões que se chocaram contra as duas torres do World Trade Center foram um Boeing 767 da American, que fazia o vôo Boston-Los Angeles, com 92 passageiros e tripulantes, e o vôo 93, um 757 da United, com 38 passageiros e tripulantes, que decolou de Newark, em New Jersey, a apenas algumas milhas de seu alvo, e deveria ter seguido para São Francisco. Um quarto avião, um 767 da United, que voava de Boston para Los Angeles, com 56 passageiros e tripulantes, caiu no sudoeste da Pensilvânia, por razões que não são conhecidas. Somente a soma dos tripulantes e passageiros dos quatro aviões - 250 - excedeu em muito o número de vítimas do atentado à bomba que o terrorista Timothy McVeigh perpetrou em abril de 1995 contra o prédio federal de Oaklahoma - 168. Bin Laden nega Em Cabul, o Taliban, o partido fundamentalista que controla o Afeganistão e dá guarida à organização terrorista de Osama Bin Laden, negou que seu protegido tenha qualquer responsabilidade no atentando. "O que aconteceu nos EUA não foi trabalho feito por pessoas comuns e poderia ter sido o trabalho de governos; nem Osama Bin Laden nem nós somos capazes de fazer esse tipo de trabalho", afirmou o porta-voz do Taliban, Abdul Hai Mutmaen. "Não apoiamos o terrorismo e condenamos (os atentados)", disse. África Mas, em Washington, as primeiras suspeitas se concentravam hoje em Bin Laden, um multimilionário saudita que os EUA responsabilizou por ataques a carro-bomba contra embaixadas americanas na África, em 1998, que mataram mais de duzentas pessoas. Em represália, Washington atacou uma base de Bin Laden no Afeganistão e uma fábrica de remédio no Sudão que, depois se verificou, nada tinha a ver com o terrorista saudita. Bin Laden, que não esconde sua hostilidade pelos EUA, declarou em 1998 que considerava qualquer cidadão americano alvo legítimo. Segundo informações divulgadas hoje em Washington, há cerca de 15 dias os serviços de inteligência dos EUA haviam obtido informações segundo as quais associados de Osama Bin Laden falavam sobre "um ataque catastrófico" contra alvos americanos.

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