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Testemunha revela atrocidades durante regime de Saddam

A promotoria iraquiana alega que até 180.000 pessoas morreram durante a campanha Anfal

Por Agencia Estado
Atualização:

Um ex-líder rebelde curdo, de cidadania holandesa, disse nesta segunda-feira (18) que perdeu temporariamente a visão durante um ataque com armas químicas realizado pelas forças iraquianas há quase duas décadas. Logo a seguir, ele tirou os óculos escuros para mostrar os olhos inflamados para a corte. Karauan Abdela disse que ainda padece de "dor e sofrimento" pelas lesões sofridas em março de 1988, no crepúsculo da Guerra Irã-Iraque, quando aviões iraquianos atacaram posições ocupadas por guerrilheiros curdos pró-Teerã no povoado de Shanajesiya, no norte do Iraque. "Fiquei seis meses no hospital. Durante esse período, não conseguia enxergar nada. Quando tiro os óculos escuros perto de meus filhos, eles pedem que os coloque novamente, pois eles ficam assustados", relatou Abdela. Ao levantar os óculos, ele manifestou o desejo de que as câmeras mostrassem seus olhos, que pareciam realmente inflamados naquele momento. Ele disse ter recebido tratamento na Holanda, país em que pediu asilo e obteve passaporte holandês em 1994. Saddam brevemente examinou Abdellah, questionando a viabilidade de seu testemunho, dizendo que a testemunha era um holandês, não um iraquiano sob a lei do país, a qual não permite duas nacionalidades. "Eu deixo para a corte decidir, mas este homem não é iraquiano", disse o ex-ditador. Saddam tentou explicar como os curdos eram aliados do Irã, mas o juiz que encabeça a corte o alertou: "Você me embaraça quando entra em tais detalhes". Quando Saddam ignorou o alerta, o juiz cortou seu microfone. O primo de Saddam, Ali al-Majid, insistiu que foi o Irã, não o Iraque, que usou armas químicas contra os curdos. Mortes na Anfal Saddam e outros seis réus são julgados atualmente pelas atrocidades contra a população curda atribuídas ao Exército iraquiano durante a chamada Operação Anfal, desencadeada nos últimos meses da Guerra Irã-Iraque (1980-1988). A promotoria iraquiana alega que até 180.000 pessoas morreram durante a campanha. Ao longo de oito anos, a Guerra Irã-Iraque provocou a morte de aproximadamente 1 milhão de pessoas. A defesa de Saddam alega que a Operação Anfal teve como alvo grupos guerrilheiros curdos que se aliaram a Teerã durante o conflito.

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