Thatcher tentou evitar a reunificação da Alemanha, revelam documentos

Segundo documentação tornada pública pelo governo britânico, ex-premiê acabaria isolada e derrotada no debate

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Por Jamil Chade e correspondente em Genebra
Atualização:

GENEBRA - Margaret Thatcher tentou evitar a reunificação da Alemanha ao final da Guerra Fria, temendo que o novo país com a capital em Berlim desequilibraria o poder na Europa. Documentos revelados pelo governo britânico e que foram tornados públicos revelaram que, assim que ficou sabendo da queda do Muro de Berlim em 1989, Thatcher se lançou em um lobby para frear a reunificação da Alemanha do Leste e a Alemanha Ocidental. Mas ela acabaria isolada e derrotada no debate.

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"Vencemos os alemães duas vezes. Mas eles agora estão de volta", teria dito a inglesa num jantar com outros chefes de estado no dia 8 de dezembro de 1989. Ela se referia às duas guerras mundiais. Thatcher, nos anos 80, foi peça central nos últimos anos da Guerra Fria e sua aliança incondicional com Washington moldou o fim do século XX.

Mas, na Europa, os documentos revelam que as discussões entre ela e o então chanceler alemão, Helmut Kohl, eram abertas, diretas e mesmo agressivas.

O primeiro sinal dessa sua atitude veio no próprio dia da queda do muro, em 9 de novembro de 1989. Naquele momento, o embaixador britânico em Bonn, Christopher Mallaby, enviava telegramas desesperados pedindo uma reação de Londres. Mas a ordem era de silêncio. Mallaby chegou a escrever que seria de "interesse britânico" que Londres fizesse uma declaração positiva.

Poucos dias depois, o então ministro das Relações Exteriores, Douglas Hurd, visitaria Berlim já com a posição de Thatcher em seu discurso. "A reunificação não está atualmente na agenda", declarou.

Inicialmente, Thatcher não estava sozinha. François Mitterrand, então presidente francês, chegou a alertar no dia 20 de janeiro de 1990 que uma Alemanha reunificada poderia ser perigosa. Um dos assessores de Thatcher chegou a dizer que Mitterrand teria dito que a nova Alemanha teria "mais influência que a Alemanha de Hitler", algo nunca confirmado em Paris.

Mitterrand acabaria cedendo e aceitando a reunificação. Mas Thatcher continua resistindo. A britânica acabaria propondo um plano de cinco anos para a reunificação, na esperança de reduzir o impacto do processo e reduzindo a influência dos alemães nas instituições europeias. Thatcher, no dia 2 de fevereiro de 1990, ainda escreveria que nem mesmo o fortalecimento da Comunidade Europeia conseguiria frear a influência alemã. "As ambições alemães se transformariam no fator ativo e dominante", declarou.

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Um mês depois, ela chegaria a convocar um seminário com os maiores historiadores da época para lidar com uma questão: "até que ponto os alemães são perigosos". Kohl nunca esqueceria do tratamento que recebeu da britânica e, em suas memórias publicadas anos depois, não economizou ataques à Dama de Ferro.

 

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