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The Economist: Como acelerar o fim da ditadura na Venezuela

O reconhecimento de um presidente interino em vez de Maduro é um começo, mas é preciso que muita coisa dê certo para a oscilação virar uma queda

Por The Economist
Atualização:

Durante anos, o regime socialista da Venezuela pareceu estar à beira do colapso. A economia está tão mal administrada que o PIB caiu quase pela metade desde 2013. Acredita-se que a inflação do ano passado tenha sido de mais de 1.000.000%. Isso, mais a escassez de alimentos, remédios, água encanada e eletricidade, levou 3 milhões de venezuelanos, um décimo da população, a fugir do país. No entanto, seu presidente, Nicolás Maduro, se garantiu desrespeitando a Constituição, reprimindo a oposição e usando a receita cada vez menor do país com petróleo, quase sua única exportação, para pagar as Forças Armadas que o apoiam. No dia 10, o mais incompetente governante da América Latina foi empossado para um segundo mandato de seis anos.

No entanto, a segunda posse de Maduro também marcou o momento em que sua desastrosa presidência perdeu a legitimidade formal. A eleição que ele venceu em maio foi uma fraude com altos e baixos. Quase todos os membros do Grupo de Lima, 14 países, em sua maioria latino-americanos que se preocupam com a Venezuela, declararam que não poderiam reconhecê-lo como presidente. Mais importante, a oposição recebeu um jovem e unificador novo líder, Juan Guaidó, que foi empossado no dia 5 como presidente da Assembleia Nacional. Isso o coloca no comando da última instituição democraticamente eleita da Venezuela.

Guaidó se declarou presidente na quarta-feira, na maior marcha contra Maduro desde 2017 Foto: Federico PARRA / AFP

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De repente, os desmoralizados e divididos adversários de Maduro foram mobilizados. Dezenas de milhares de pessoas em toda a Venezuela manifestaram-se contra o regime na quarta-feira, o 61.º aniversário da derrubada da ditadura anterior da Venezuela. Entre eles estavam muitos venezuelanos pobres. Eles não se voltaram levianamente contra um regime fundado em 1999 por seu herói, Hugo Chávez, morto em 2013. Ante uma multidão que o aplaudia na capital Caracas, Guaidó proclamou-se presidente interino - um papel que a Constituição lhe dá direito a assumir quando a presidência está vaga. No que parecia ser uma ação coordenada, o presidente americano, Donald Trump, reconheceu imediatamente Guaidó como o líder interino da Venezuela e a maioria dos integrantes do Grupo de Lima rapidamente o seguiu.

Isso levanta duas questões. Qual a probabilidade de Maduro manter-se no poder? E o que o mundo pode fazer para acelerar sua partida? Maduro enfrentou grandes protestos antes, mais recentemente em 2017, quando 125 pessoas foram mortas, principalmente por forças leais ao regime. Embora 27 membros da Guarda Nacional em Caracas tenham se rebelado na segunda-feira, o motim foi rapidamente dominado. Ainda não há sinais de que os comandantes de alto escalão transferirão sua lealdade a Guaidó. É a lealdade deles, não o apoio dos cidadãos, que mantém Maduro.

Ainda assim, Maduro pode estar ficando sem opções. Pela primeira vez desde que venceu as eleições presidenciais, em 2013, ele enfrenta um único líder da oposição que comanda amplo apoio. Guaidó deve continuar a deixar claro que, caso venha a exercer o poder, seu primeiro ato será convocar eleições livres. Os líderes da Venezuela devem oferecer uma saída segura a Maduro e seus companheiros para um refúgio confortável, talvez em Cuba, e um futuro político para os membros do regime que respeitam as regras da democracia.

É preciso que muita coisa dê certo para que a oscilação de Maduro se torne sua queda. 

Fortalecimento

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Os Estados Unidos e a União Europeia devem usar todos os instrumentos a sua disposição para promover mudanças pacíficas, fortalecendo o governo paralelo de Guaidó. Isso poderia incluir colocar parte do dinheiro pago pelas exportações de petróleo em uma conta reservada para a Assembleia Nacional e usar a ameaça de mais sanções para incentivar deserções do regime.

O apoio do Grupo de Lima ajudará a refutar os insultos de Maduro de que Guaidó é apenas um fantoche dos gringos. Caso seu regime odioso finalmente entre em colapso, a Venezuela precisará de amplo apoio internacional na forma de ajuda humanitária, crédito e ajuda econômica e política.

Até esta semana, a partida de Maduro e da seita chavista foi atrasada, mas se tornou uma perspectiva para o médio prazo. Hoje, um país empobrecido, irremediavelmente mal governado, pode estar prestes a ter algo melhor. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO 

© 2018 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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