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The Economist: Coronavírus se alastra pelo sul dos EUA

Região foi a que mais demorou a adotar o confinamento e tem grande número de idosos, negros e latinos

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Por Redação
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“Não somos o Estado de Nova York”, afirmou a governadora do Alabama, Kay Ivey, em 26 de março, explicando porque não ordenou um confinamento em seu Estado. Na época, ela estava certa. Nova York contabilizava duas vezes mais o número de casos de coronavírus confirmados em todos os Estados do Sul dos EUA somados (os 11 Estados confederados mais Kentucky). 

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No entanto, agora, o sul está se assemelhando mais a Nova York. O vírus vem se propagando por toda a região com uma velocidade inquietante. Entre o fim de março e o dia 20, o número de casos em uma dezena de Estados sulistas aumentou de 11,7 mil para 127,5 mil, três vezes mais rápido do que o aumento verificado no plano nacional.

Como em outros lugares, a maior concentração de casos tem sido nas cidades. A Grande Miami e New Orleans têm cerca de 15 mil, mais do que Los Angeles. “Nos dias após o primeiro caso confirmado em New Orleans, o número de pacientes no Estado de Louisiana cresceu mais rápido do que o observado em qualquer outra parte do mundo”, disse Gary Wagner, da Universidade da Louisiana. 

Em meados de abril, a área de New Orleans registrou a mais alta taxa de mortes por covid-19 entre todas as cidades americanas, e o Estado é o segundo, depois de Nova York, em número de mortes.

Região foi a que mais demorou a adotar o confinamento e tem grande número de idosos, negros e latinos Foto: Kathleen Flynn/Reuters

O sul também vem registrando um contágio mais acelerado nos subúrbios e em pequenas cidades. Dados do New York Times mostram que o número de doentes vem dobrando em cada condado. Em 18 de abril, eram 27 condados onde os casos dobravam a cada dois dias e meio. A taxa de aumento desde então caiu, mas as infecções contraídas no início de abril acarretarão hospitalizações e mortes no início de maio. Segundo Gary Wagner, quatro Estados do sul (Louisiana, Flórida, Tennessee e Georgia) registraram aumentos mais rápidos de casos – durante os primeiros 36 dias após o primeiro caso confirmado – do que a Espanha e a Itália.

Em consequência, o sul vem entrando no período mais perigoso em que os números são elevados, o crescimento ainda é alto e os sistemas de saúde começam a entrar em colapso. Segundo o Institute for Health Metrics and Evaluation, da Universidade de Washington, Nova York e New Jersey passaram o pico de demanda hospitalar, mas Geórgia e Texas não atingirão o pico antes do início de maio. “O pior ainda está por vir”, teme Peter Hotez, da Universidade Baylor em Waco, Texas. E isso é preocupante não só pelo problema em si, mas porque três coisas tornam o sul particularmente vulnerável à covid-19.

Em primeiro lugar, os governantes foram lentos na resposta ao vírus e estão sendo muito rápidos na flexibilização do confinamento. Quatro governadores de Estados sulistas esperaram até o início de abril para ordenar um confinamento, ou seja, quase duas semanas depois da ordem baixada na Califórnia. E, mal passaram três semanas, sete Estados reabriram ou pretendem reabrir tudo.

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Como resultado, os sulistas estão falando e agindo diferentemente. Estão mais propensos do que outros americanos a afirmar que não estão preocupados com o vírus, segundo pesquisa da YouGov para a Economist. E demoraram a adotar o distanciamento social. A segunda razão da vulnerabilidade do sul é demográfica. A região abriga números desproporcionais de pessoas idosas, negras, hispânicas, doentes, sem um plano de saúde, e de americanos encarcerados. No condado de Sumter, na Flórida, que registra os maiores complexos residenciais de idosos, os asilos vêm tendo um crescimento exponencial de casos e a taxa de mortes pela covid-19 chega a 10%. 

Juntamente com os idosos vulneráveis, os negros apresentam taxas de mortalidade desproporcionalmente altas. Na Louisiana, eles representam 32% da população do Estado, mas 70% das mortes por covid-19. Os negros (e hispânicos) são mais propensos do que os brancos a viver em aglomerações e ter uma saúde mais debilitada. E 24 milhões deles (58%) vivem nos antigos Estados confederados. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

© 2020 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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