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The Economist: Falhas de Macron são mais de atitude do que políticas

Não é preciso poderes sobre-humanos para reformar a França, apenas paciência, persuasão e humildade

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Por Redação
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É um longo caminho desde o Monte Olimpo. No ano passado, Emmanuel Macron chegou ao poder com um mandato para reformar a França. Agora, a França parece irreformável. A reviravolta faz Macron parecer tão fraco quanto todos seus antecessores recentes, que tentaram mudar a mais teimosa das nações. O homem que certa vez prometeu uma presidência “altiva” parece decididamente mortal.

A eleição de Macron, em maio de 2017, pareceu levar novo otimismo ao seu país, à Europa e ao mundo. Jovem, inteligente e fervilhando de ideias para tornar a França mais aberta, dinâmica e fiscalmente sóbria, ele fez uma refutação eloquente ao Brexit, a Donald Trump e às autocracias do Leste Europeu. A esperança de uma ampla renovação do centro radical caiu em seus ombros.

Emmanuel Macron participa de evento em Paris Foto: EFE/ Julien De Rosa

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Quando seu novo partido, um grupo de recém-chegados impulsionados pelas mídias sociais, conquistou uma esmagadora maioria parlamentar, a revolução parecia inevitável. Ele fez aprovar rapidamente reformas há muito necessárias para tornar o mercado de trabalho mais flexível, atuando com os sindicatos moderados e enfrentando os mais problemáticos. Suas reformas na educação garantiram salas de aula com menos alunos nas áreas pobres e deram mais controle aos cidadãos sobre o treinamento profissional. O orçamento voltou aos eixos, enquadrando-se no limite de déficit de Maastricht de 3% do PIB pela primeira vez desde 2007.

Sua arrogância levou a uma série de erros pequenos, mas cumulativamente destrutivos - repreendeu um adolescente por chamá-lo de “Manu” em vez de “monsieur le président”, convocou o Parlamento para ouvi-lo no Palácio de Versalhes, falou de “pessoas que não são nada”. Macron também parece ter se esquecido de que, no primeiro turno da eleição do ano passado, 48% dos eleitores estavam tão infelizes que apoiaram os extremistas: Marine Le Pen, da direita nacionalista, Jean-Luc Mélenchon, à esquerda, e meia dezena de radicais menos carismáticos. Esses eleitores não desapareceram. 

Um de seus primeiros atos foi reduzir os impostos sobre a riqueza. O antigo imposto era ineficaz e frequentemente driblado, mas seu fim deveria ter sido acompanhado de mais ajuda para quem precisa. Da mesma forma, seus aumentos de impostos sobre o diesel são uma boa política ecológica, mas ele deveria ter prestado mais atenção às pessoas que foram mais castigadas pela mudança - gente de áreas rurais que precisa se deslocar até o trabalho.

A definição mais danosa colada ao ex-banqueiro é o de “o presidente dos ricos”. Muitos franceses acreditam nisso, e talvez por isso 75% da população diz apoiar os protestos dos “coletes amarelos”. Como na campanha eleitoral de Macron, os manifestantes são organizados via rede social. Eles não têm líderes nem uma agenda coerente, o que torna quase impossível negociar com eles. 

Os protestos foram em parte encampados por extremistas que pregam a derrubada violenta do capitalismo. E muitos, até mesmo os moderados entre os “coletes amarelos”, estão exigindo a renúncia de Macron ou um novo Parlamento. E um aumento anterior do imposto sobre o diesel, que entrou em vigor em janeiro, ainda não foi revertido. Há pressão sobre Macron para trazer de volta o imposto sobre a riqueza, e novas reformas agora parecem muito mais difíceis. E ainda há muito trabalho a ser feito. O próximo projeto atrasado que Macron planeja enfrentar é o inacessível sistema previdenciário da França.

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Será que tudo isso significa que o populismo “pegue o que é seu” vai triunfar e os reformadores sairão frustrados? É fácil demais concluir isso. Donald Trump conquistou o apoio de sua base oferecendo aos americanos cortes de impostos insustentáveis no longo prazo. Na Itália, a coalizão governista, populista, promete reduzir a idade de aposentadoria que um antecessor mais prudente aumentou, ao mesmo tempo em que oferece cortes de impostos mais profundos. Nem mesmo Vladimir Putin teve a coragem de enfrentar os aposentados russos este ano.

Mas nem tudo está perdido para Macron. Ele pode se ajudar de várias maneiras. Primeiro, deixar claro suas prioridades. Sairá caro, mas é necessário algum tipo de subsídio salarial para os de menor renda - um subsídio que os incentive ao trabalho sem acostumá-los mal. Já existe um, mas é pequeno. Macron prometeu reforçá-lo, mas aos poucos. Isso deveria ter sido acompanhado do desmantelamento do imposto sobre a riqueza. 

Em segundo lugar, ele precisa fazer mais para explicar as coisas boas que já fez, mas são subvalorizadas - como o investimento em sistemas de aprendizado ou as iniciativas que tornarão mais provável que as empresas contratem jovens com contratos de longa duração. A taxa de desemprego caiu meio ponto porcentual, mas ainda está alta, 9,1%.

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E, terceiro, o próprio Macron precisa mudar. Sua noção de que os franceses querem um presidente “jupiteriano” (dominador e arrogante) é errada. O presidente mais popular dos últimos tempos foi Jacques Chirac, um cara fã de cerveja que fumava muito. Numa época em que os populistas farão e dirão qualquer coisa, um político que não consegue persuadir as pessoas comuns terá dificuldades para fazer qualquer coisa. Não será preciso poderes sobre-humanos para reformar a França - apenas os poderes humanos de paciência, persuasão e humildade. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

© 2018 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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