The Economist: Governos do mundo todo têm dificuldade para reagir ao vírus 

Com proibição de viagens e confinamento obrigatório, estratégias de resposta à pandemia são diferentes

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Por Redação
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Dos aparentes cinco estágios de sofrimento, a resposta da humanidade à epidemia do covid-19 se fixava em três: negação (isso não vai ocorrer conosco), cólera (é falha de outro governo, ou do nosso governo) e barganha (se fizermos mudanças modestas no nosso modo de vida, ele nos deixará em paz). 

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Segunda-feira, 16 de março, foi o dia em que os últimos vestígios dessas estratégias de luta evaporaram. Boa parte do mundo passou para o estágio seguinte, a conscientização desanimadora de que bilhões de vidas serão gravemente afetadas durante semanas e, provavelmente, meses; que antes que tudo isto acabe, muitas pessoas morrerão; e as implicações econômicas da pandemia vão além do medonho.

Com as bolsas americanas vivendo um dos piores dias da sua história, em muitos países a implementação gradual de medidas relativamente modestas contra o vírus deu lugar a restrições draconianas de viagem e da vida cotidiana, o que parecia ser a adoção de estratégias diferentes. 

Os Estados Unidos adotaram medidas brandas contra o coronavírus, mas cenário começou a mudar nesta semana Foto: Wong Maye/AP

EUA e Reino Unido adotaram medidas mais brandas. A abordagem britânica era de que, como o pior ainda estava por vir, não tinha sentido semear o pânico. Os dois países foram lentos na instituição de testes generalizados para se ter uma melhor noção de quantas pessoas já estavam infectadas. “Se acalmem, estamos trabalhando muito bem”, disse o presidente Donald Trump, no dia 15. 

Boris Johnson qualificou a pandemia como “a pior crise de saúde pública em uma geração”, mas a resposta do seu governo não significou fechamento de escolas.

Outros países já haviam estabelecido medidas mais severas. A província chinesa de Hubei, que abriga 60 milhões de pessoas, ficou em quarentena por quase dois meses. A Coreia do Sul realizou testes para o vírus em centenas de milhares de pessoas. 

Nos últimos dias, a China abrandou as restrições e, cautelosamente, saudou uma vitória pelo menos parcial na luta contra o vírus. Mas ainda prematura. Hong Kong, Cingapura e Taiwan observaram nesta semana novas infecções depois de, aparentemente, terem inibido a propagação do vírus.

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Depois do dia 16, as diferenças entre os países parecem menos nítidas. Johnson disse à população para trabalhar de casa. A mudança de abordagem foi justificada: “Parece que estamos nos aproximando do ponto de crescimento rápido da curva ascendente”. 

No mesmo dia, Trump determinou novas diretrizes, mais rígidas, incluindo a proibição de reuniões com mais de 10 pessoas. Na França, o presidente Emmanuel Macron declarou que “estamos em guerra” contra o vírus.

Por outro lado, o número de países que fecharam suas fronteiras para pessoas vindas de países com infecções aumentou para mais de 80. 

Um comunicado conjunto dos líderes do G-7 parece ter prenunciado a fase de cooperação internacional, depois de um período em que as disputas eram mais flagrantes do que a coordenação. Na verdade, o alarde de solidariedade internacional e de abordagem compartilhada no combate ao vírus são falsos. Os países ainda vêm adotando estratégias divergentes e parecem estar competindo para mostrar que seu método tem a melhor chance de sucesso. 

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Pouco depois de Johnson anunciar as mais recentes medidas em seu país, Macron implementou uma estratégia ainda mais abrangente: ninguém pode mais deixar sua residência, salvo para comprar produtos de primeira necessidade, ir ao médico ou realizar trabalhos que não podem ser feitos em casa.

Os países mais poderosos do mundo, Estados Unidos e China, nesse intervalo, entraram em um jogo de lançar a culpa um no outro. Trump irritou os líderes chineses ao se referir ao “vírus chinês”. Mas as autoridades chinesas também foram culpadas de emprestar seu nome a uma bizarra teoria de conspiração de que o vírus foi criado pelo Exército americano.

Se a cooperação internacional na batalha contra o vírus tem sido ruim, pelo menos os bancos centrais e outras autoridades monetárias vêm trabalhando em parceria para conter as repercussões econômicas. A decisão do Federal Reserve (o BC americano) de reduzir os juros a quase zero, numa intervenção de emergência, no dia 15, está em sintonia com as decisões de muitos outros bancos centrais. 

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Mais importantes são os esforços dos bancos centrais para manter o crédito fluindo antes que empresas e os bancos a quem devem dinheiro quebrem. 

Muitos governos anunciaram grandes pacotes para respaldar a economia. No dia 17, o ministro britânico das Finanças, Rishi Sunak, prometeu liberar US$ 400 bilhões em empréstimos, subvenções e garantias para as empresas. A França deve liberar US$ 50 bilhões de ajuda às companhias. Trump quer que o Congresso aprove despesa extra de US$ 1 trilhão.

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Os apertos pelos quais passam as instituições financeiras ainda não são tão fortes como se verificou durante a crise financeira global. Mas os desacordos quanto à maneira de enfrentar o coronavírus e de atribuir a culpa por sua propagação não são um bom augúrio para uma cooperação futura para impedir que os sistemas financeiros afundem.

E, nesse ínterim, cada medida econômica, ou contra o vírus, que os governos introduzirem servem só em parte para aumentar a percepção de que os políticos estão enfrentando com dificuldade um adversário que ainda não compreendem e, consequentemente, agravando o pânico que já vem crescendo. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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