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The Economist: Hillary não entusiasma, mas é inevitável

Ex-secretária de Estado é vista com desconfiança entre alguns eleitores, mas vence a insensatez de Donald Trump

Por The Economist
Atualização:

Quando Hillary Clinton apareceu para realizar um comício em Kissimmee, cidade da Flórida, na segunda-feira, e avançou até o centro do palanque, o ânimo geral da plateia que a aguardava há alguns minutos já dava sinais de esmorecimento.

Um marciano de passagem pela Terra que assistisse a esse comício da democrata ficaria um pouco atônito ao descobrir que ela é a favorita disparada a conquistar a presidência dos EUA. Na quinta-feira, a democrata já abria, na média das últimas pesquisas, 8 pontos porcentuais de vantagem sobre Donald Trump e sua liderança parecia cada vez mais sólida.

Hillary é oficializada a primeira mulher candidata à presidência dos EUA Foto: REUTERS/Mark Kauzlarich

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Certos grupos de eleitores que há décadas não votam no Partido Democrata, como o formado por brancos com escolaridade de nível superior, migram a olhos vistos para sua candidatura. O movimento atinge até figuras importantes do Partido Republicano. 

Mesmo entre os que não se dispõem a votar em Hillary, a aversão ao bilionário é profunda, e não é para menos. Na terça-feira, em discurso proferido na Carolina do Norte, o magnata deu a impressão de cogitar o assassinato da adversária: “Se ela for eleita e puder colocar na Suprema Corte os juízes dela, aí já era, minha gente. A não ser que os amigos da Segunda Emenda (dispositivo constitucional que garante o direito ao porte de armas nos EUA). Eles bem que poderiam, vai saber”. 

É impressionante como, mesmo com tudo indicando que Hillary provavelmente comandará o país a partir do ano que vem, sua candidatura não parece mobilizar muita gente.

O “ânimo” dos eleitores é outro quesito em que ela lidera: 51% dos democratas se dizem animados com a eleição. Entre os republicanos, a animação se restringe a 41%. Mas, aparentemente, a palavra não descreve muito bem o sentimento da maioria dos que pretendem votar em Hillary. Eles dizem ter “respeito” por ela, mas não estão “entusiasmados” com a possibilidade de vê-la na Casa Branca. 

Para alguns, a facilidade com que Hillary parece se envolver em episódios obscuros, como a controvérsia em torno da conta pessoal de e-mail que usou quando foi secretária de Estado,?é motivo de apreensão. As manifestações de apoio mais efusivas tinham a ver com o que Hillary representa como mulher e candidata anti-Trump. “Minha família é toda republicana”, disse a estudante Amanda. “Mas eu sou gay, jovem e mulher. Como não votar nela?” 

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Percepções. Quando os bons números que Hillary obtém nas pesquisas são esmiuçados, vêm à tona sentimentos um pouco mais problemáticos que a ambiguidade. Quase 60% dos eleitores se dizem “insatisfeitos” com ambos os candidatos; 56% dos brancos com nível superior estão “apreensivos” com a perspectiva de Hillary ocupar a presidência; 70% dos eleitores não a consideram digna de confiança. 

Talvez isso não tenha importância, o juízo que os eleitores fazem de Trump é ainda pior. Mas a impopularidade da democrata indica que ela não terá uma base de apoio muito sólida para governar.

Hillary atribui suas dificuldades ao fato de não ser boa de palanque. Considerando o tempo que está na vida pública e a desenvoltura a portas fechadas, é espantoso que ela se saia tão mal toda vez que se vê diante de um microfone, quando costuma se esgoelar de um jeito que seria menos exasperante se ela soubesse o momento certo de levantar a voz. “É uma emoção enorme poder falar com vocêêês todos!”, trovejou em Kissimmee. 

E, se não tem o dom da oratória, Hillary tampouco parece capaz de convencer os eleitores de que compreende suas dificuldades e fará algo para ajudá-los. Sua resposta para quase todo tipo de problema é deitar falação sobre as medidas que pretende adotar, demonstração de pragmatismo admirável, mas, como aconteceu com o conjunto de medidas econômicas que ela apresentou, pode ser visto como sinal de frieza e indiferença. 

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As dificuldades de Hillary podem ser entendidas de outra forma. Não há dúvida de que o desempenho de Barack Obama e Bill Clinton em campanha era muito melhor que o dela. Acontece que eles tinham a vantagem de ser políticos jovens e oferecer aos eleitores a chance de pôr fim a governos republicanos com baixos índices de popularidade. 

Hillary, uma veterana da política num momento em que é forte o sentimento anti-establishment, encontra-se em situação muito mais adversa. Ela tenta conquistar um raro terceiro mandato para seu partido, e precisa fazê-lo prometendo algo que não seja nem uma continuação do governo Obama, tendo em vista a insatisfação generalizada dos americanos, nem um repúdio a ele, tendo em vista a popularidade dele entre os democratas. Até Obama e Clinton, com toda a sua verve, teriam dificuldades.

Esta eleição, disse Hillary no comício, será “uma escolha entre duas visões diferentes de quem somos como americanos”. Será mesmo, e as pesquisas indicam que a preocupação com a inclusão e a moderação, em que se baseia a visão de Hillary, está conquistando os eleitores. Nesta eleição, essas qualidades, por si só, merecem ser valorizadas.

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© 2016 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.

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