PUBLICIDADE

Theresa May reage a críticas da UE e pede contraproposta para o Brexit

Segundo a imprensa britânica, premiê foi humilhada ao receber 'não' de líderes europeus a sua proposta de divórcio entre Londres e Bruxelas; conservadora pediu 'respeito' do bloco econômico e reiterou que acordo ruim é pior do que nenhum acordo

Por Andrei Netto , Correspondente e Paris
Atualização:

PARIS - Um dia depois de ter recebido um ultimato da União Europeia (UE) para que apresente uma nova proposta de "divórcio amigável" entre Londres e Bruxelas, a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, descartou nesta sexta-feira, 21, que a Irlanda do Norte permaneça sob as regras comerciais do bloco, como desejam os dirigentes europeus. 

Em uma declaração na qual pediu "respeito", a premiê reconheceu contudo que dois grandes temas continuam em aberto - a fronteira entre as Irlandas e o futuro das relações comerciais -, e voltou a afirmar que um acordo ruim de separação pode ser pior do que nenhum acordo.

Theresa May garantiu que enquanto for primeira ministra não será realizado novo referendo sobre o Brexit Foto: Paul Grover/Pool Photo via AP

PUBLICIDADE

Theresa May está sob intensa pressão política desde a noite de quinta-feira, quando os dirigentes da UE, reunidos em Salzburgo, na Áustria, decidiram recusar a proposta britânica de divórcio, o chamado Chequers Plan. 

Para líderes como o presidente da França, Emmanuel Macron, a "hora da verdade" sobre o Brexit chegou e é preciso encontrar soluções realistas. O francês acusou ainda os partidários do divórcio de terem mentido aos eleitores britânicos quando afirmaram que a separação seria simples.

O "não" europeu à proposta levou a imprensa britânica a afirmar que Theresa May fora "humilhada" em Salzburgo ao receber um ultimato para que apresente uma nova oferta até outubro. Nessa sexta, a premiê fez um pronunciamento em Downing Street, a sede do poder britânico, para pedir à UE que apresente uma contraproposta. 

"Durante esse processo", advertiu May, referindo-se à separação, "eu tratei a União Europeia com respeito. O Reino Unido espera o mesmo. Uma boa relação no final desse processo depende disso." "Neste estágio das negociações, não é aceitável simplesmente rejeitar a proposta do outro lado sem explicações detalhadas e sem contraproposta", argumentou.

A premiê comentou em especial o maior impasse do Brexit: o futuro da fronteira entre a Irlanda, país-membro da União Europeia, e a Irlanda do Norte, província do Reino Unido, que dividem a ilha sem fronteira física entre os dois lados

Publicidade

O problema é que enquanto a Irlanda permanecerá na UE, a Irlanda do Norte se retirará com o Brexit. Com isso, em tese, seria necessário reconstruir uma fronteira física entre os dois países, o que os irlandeses não aceitam. "A UE está propondo efetivamente manter a Irlanda do Norte na união aduaneira. Como eu disse, isso é inaceitável. Nós jamais concordaremos com isso", reiterou May. "Significaria dividir o nosso país. Nós estabeleceremos uma alternativa para preservar a integridade do Reino Unido."

Diante da pressão crescente pela realização de um novo referendo sobre o Brexit, May afirmou que isso não acontecerá em hipótese alguma enquanto ela for primeira-ministra, ainda que possa resultar em um divórcio sem acordo. "Ninguém quer um bom acordo tanto quanto eu. Mas a UE deve estar certa de que não vai reverter o resultado do referendo, nem eu vou dividir meu país", disse.

A repercussão do discurso, no qual Theresa May admite que o encerramento das negociações sem acordo está ficando mais próximo, foi imediata nos meios políticos e financeiros. Líder da oposição trabalhista, Jeremy Corbyn afirmou que a estratégia de negociação da premiê tem sido "um desastre". 

"Os conservadores passaram mais tempo discutindo entre eles do que negociando com a União Europeia", afirmou, exortando Bruxelas a também parar com os "jogos políticos".

Nas bolsas de valores, a libra perdeu 1,3% e caiu ao seu menor valor frente ao dólar em 2018, a U$ 1,30.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.