Tibete é hoje ''inferno na Terra'', diz dalai-lama

Para religioso, mortes e destruição marcam os 50 anos de domínio chinês

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Por Cláudia Trevisan e PEQUIM
Atualização:

Os 50 anos de domínio chinês sobre o Tibete provocaram "centenas de milhares" de mortes e foram marcados por violência e destruição que transformaram a vida dos tibetanos em um "inferno na Terra", segundo afirmou ontem o dalai-lama em nota oficial sobre a data. Entenda a disputa pela soberania tibetana com especial multimídia Ele fugiu para a Índia em 17 de março de 1959, uma semana depois do fracassado levante de seus seguidores contra as políticas de Pequim. As autoridades chinesas preparam-se para a data com o aumento da presença militar no Tibete e nas províncias vizinhas habitadas por tibetanos, principalmente Qinghai, Sichuan e Gansu. A vigilância nos mosteiros foi intensificada e um toque de recolher não-oficial passou a vigorar em Lhasa, capital do Tibete. A China teme que ocorram protestos semelhantes aos do ano passado, quando grupos de tibetanos tomaram as ruas de Lhasa e atacaram lojas de chineses da etnia han, majoritária na China, com 91,6% da população. Pequim sustenta que os confrontos provocaram a morte de 22 pessoas, entre elas 3 monges, enquanto os tibetanos no exílio dizem que o total de vítimas em toda a região chegou a 140. O Clube de Correspondentes Estrangeiros de Pequim afirmou que seis jornalistas foram detidos e enviados de volta à capital chinesa quando tentavam entrevistar pessoas nas regiões vizinhas do Tibete, onde não há exigência de autorização especial do governo para realização de reportagens. Pequim afirma que o Tibete é parte da China desde o século 21 e acusa o dalai-lama de buscar a independência de uma área equivalente a um quarto do território chinês. O líder religioso diz que não quer a independência, mas uma autonomia "genuína" para a região. ?CAOS E DESTRUIÇÃO? No balanço dos últimos 50 anos, o dalai-lama lembrou que a promessa inicial de Mao Tsé-tung depois da ocupação era a de que a religião, a cultura e os valores tradicionais tibetanos seriam respeitados pelo novo governo. A situação teria começado a mudar em 1956, com a imposição de políticas "ultraesquerdistas" no Tibete, que provocaram "caos e destruição", escreveu o dalai-lama. Segundo ele, a insatisfação com a radicalização de Pequim provocou o levante de 1959 e seu posterior exílio na Índia. A China reagiu com violência sem precedentes, afirmou, o que levou à morte e à prisão de milhares de tibetanos. A partir daí, a região foi submetida às campanhas comunistas que provocaram devastação em toda a China, como o Grande Salto Adiante (1959-1961), no qual 30 milhões de pessoas morreram de fome, e a Revolução Cultural (1966-1976), quando outros milhões padeceram sob a tirania dos guardas vermelhos. Em anos recentes, a política de Pequim passou a ser a de estimular o crescimento econômico na região, mas muitos tibetanos acreditam que os principais beneficiários da prosperidade são os chineses han que se instalaram nas áreas tibetanas. "Muitos projetos de infraestrutura como estradas, aeroportos, ferrovias e outros, que parecem ter trazido progresso a regiões do Tibete, foram realizados na realidade com o objetivo político de "sinizar" o Tibete, ao elevado custo da devastação do meio ambiente e do modo de vida tibetano", disse o dalai-lama no documento escrito de Dharamsala, Índia.

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