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''''Tigre islâmico'''', Indonésia surpreende

Por James Castle e Craig Charney
Atualização:

Há dez anos, a Indonésia foi atingida por uma crise financeira. No prazo de um ano, o maior "tigre" econômico do Sudeste Asiático desmoronou. O PIB caiu 14%, a moeda sofreu uma desvalorização, de 2.250 para 17.500 em relação ao dólar, e a Bolsa de Valores de Jacarta despencou 91% em termos de dólar. Milhões de empregos foram perdidos com a falência de grandes bancos e muitas empresas. Protestos derrubaram o regime autoritário do presidente Suharto, no poder por 30 anos. O país chegou próximo do caos. Hoje, a Indonésia está de volta: uma democracia em funcionamento, mesmo que imperfeita, e um tigre econômico em recuperação. A emergência de um regime democrático sólido sufocou o separatismo regional e a militância islâmica. Além disso, os indonésios mostram-se otimistas com os investimentos estrangeiros e os produtos de marcas americanas, embora ainda assustados com a liberalização econômica. País em crescimento, estável, a Indonésia vem atraindo novamente os investidores estrangeiros, apesar de desiludidos com o ritmo das reformas econômicas e legais. Essa mudança vitoriosa para a democracia confundiu os céticos que, em 1997, temiam que este vasto e diversificado país de 235 milhões de habitantes se desintegraria sem um homem forte para mantê-lo unido. A resposta eficaz, na área da segurança, que o país deu aos atentados com bombas cometidos por extremistas islâmicos e a marginalização dos radicais partidários do terror também surpreendeu os que achavam que a maior nação muçulmana do mundo se tornaria um "Estado falido" e um foco de atividade terrorista. Ao contrário, a Indonésia conseguiu algo extraordinário na região e no mundo muçulmano em desenvolvimento: a estabilidade e crescimento sobre bases democráticas. Desde a queda de Suharto, a Indonésia realizou duas eleições livres, em 1999 e 2004, ambas com um índice de participação eleitoral de mais de 90%. Nenhuma das duas eleições foi marcada por fraudes graves ou violência. Quase todos os segmentos importantes da sociedade, incluindo o Exército, aceitaram a legitimidade do sistema político. Pesquisas que realizamos em setembro mostraram que os indonésios estão otimistas com o futuro do seu país. Entre as razões alegadas estão a restauração da ordem, a recuperação econômica e o sucesso do presidente Susilo Bambang Yudhoyono ao combater a corrupção, conseguir um aumento no número de crianças matriculadas nas escolas e acabar com o conflito separatista em Aceh. As ameaças regionais à integridade do país foram extintas com o acordo de paz de Aceh, de 2005, a autonomia financeira concedida a todas as províncias em 2001 e a independência de Timor Leste em 2000. O reformista Yudhoyono, o primeiro presidente eleito diretamente na Indonésia, é muito popular. Em pesquisas de intenção voto para 2009 ele derrotou os rivais, incluindo sua oponente em 2004, a ex-presidente Megawati Sukarnoputri. Mas ainda persistem algumas preocupações, entre elas o alto índice de desemprego, a corrupção e problemas com a ajuda humanitária após o tsunami de 2004 e outras calamidades naturais. O avanço democrático da Indonésia parece ter impedido os extremistas muçulmanos de progredirem. O partido fundamentalista islâmico obteve 7% nas pesquisas de intenção de votos, o mesmo índice de 2004, enquanto que a moderada Nahdlatul Ulama - a maior organização muçulmana do mundo - é vista favoravelmente por 80% da população. As medidas de segurança do Estado, incluindo a prisão, em junho, de dois líderes da afiliada local da Al-Qaeda, a rede Jemaah Islamiyah, por suposto envolvimento em atos terroristas, teve respaldo popular. Com bancos e empresas com a saúde recobrada, a economia cresceu 5,5% em 2005. Este ano, o crescimento deve ser de 6%. Mais de US$ 12 bilhões em títulos públicos e privados foram vendidos desde 2005, e o investimento externo direto em 2006 (US$ 6 bilhões) embora inferior aos ingressos anteriores à crise, começa a atingir aqueles níveis. Os investidores devem se interessar: os indonésios favorecem o investimento externo numa proporção de um para dois. Marcas americanas simbólicas, como Coca-Cola e Microsoft, são populares, apesar da antipatia generalizada para com a política dos Estados Unidos no Oriente Médio. (Mas há um inconveniente: os indonésios exigem mais responsabilidade social das corporações e dizem que as multinacionais fazem menos pela sociedade do que o Estado ou as empresas privadas locais). Além disso, embora os indonésios desejem competir na economia mundial, os riscos que isso representa os assustam. Estão divididos quanto aos cortes de tarifas, temem a liberalização dos mercados de trabalho e relutam quando se fala em privatização de empresas estatais. Isso impede o governo de realizar as necessárias reformas, problema que, conjugado com instituições legais frágeis, inibe o investimento externo. Contudo, a Indonésia avançou muito desde 1997, quando estudantes foram às ruas acompanhando um caixão e manifestando-se contra a "morte da democracia". A democracia indonésia conseguiu administrar disputas potencialmente explosivas, políticas, regionais e religiosas, que seus vizinhos autocráticos ignoram ou ocultam. Se o país conseguir acelerar o progresso econômico e ampliar a base democrática, como na Índia, a longo prazo pode ser uma melhor aposta em termos de estabilidade e crescimento do que os sistemas rígidos que prosperam na China, no Vietnã e em outros países muçulmanos. *James Castle fundou a Castle Asia, empresa de consultoria de Jacarta. **Craig Charney é presidente da Charney Research, empresa de pesquisa de Nova York. Ambos são co-autores de um estudo sobre as perspectivas do país, Indonesia Outlook Survey 2007 e escreveram para ?The Washington Post?

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