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Timor Leste elege amanhã seu primeiro presidente

Por Agencia Estado
Atualização:

Díli viveu sexta-feira uma verdadeira maratona eleitoral, com comícios, reuniões e carreatas. Toda a atividade parece se ter concentrado no último dia, pois as regras eleitorais proíbem atividades de campanha 24 horas antes do voto marcado para amanhã. Quem chegasse a Díli na semana passada nem perceberia que o país estava às vésperas de uma campanha presidencial, ainda mais a primeira de sua história, antes da independência, que será oficialmente proclamada dia 20 de maio. Simplesmente não há propagada eleitoral, a não ser algumas dezenas de cartazes com o retrato do principal candidato, Xanana Gusmão . Xanana e seu rival, Francisco Xavier do Amaral, fizeram uma campanha discreta - com pouquíssimo dinheiro - que ficou resumida a alguns comícios no interior e dois debates na TV. Amaral, de 66 anos, recorreu como principal argumento de campanha à história. Ele foi o presidente da efêmera República Democrática do Timor Leste, proclamada em 28 de novembro de 1975 após a saída de Portugal, que terminou de maneira sangrenta 9 dias depois com a invasão do Timor Leste pelo Exército indonésio. Dominação que só terminou em agosto de 1999, quando o povo timorense, em um plebiscito, votou pela independência. O Exército indonésio e as milícias criadas e armadas por ele, destruíram Timor Leste e mataram centenas de timorenses. A situação só foi controlada com uma intervenção da Força de Paz Multinacional da ONU. Desde então o território é administrado provisoriamente pelo brasileiro Sérgio Vieira de Mello, representante da ONU. Xanana, de 56 anos, também poderia evocar a história já que assumiu o comando da resistência armada timorense desde 1979. Ele a reorganizou totalmente, fazendo com deixasse de ser o braço armado do partido Frente Revolucionária de Timor Leste Independente (Fretilin), para representar todas as tendências da oposição aos indonésios. Mas em seus comícios Xanana preferiu falar do futuro do país e da reconciliação nacional. No último dia de campanha, assim que subiu ao palco, Xanana foi recebido por um grupo folclórico que o vestiu à maneira de guerreiro, mas com os adereços dos liurais - os reis locais - como as meia-luas de ouro. Foi nesse traje que Xanana fez todo o discurso, em tétum, a principal língua do Timor. Mas o gesto, certamente não foi escolhido por acaso, está ligado ao papel que Xanana vai representar num regime semi-presidencial, onde terá poderes reduzidos, mais simbólicos do que reais. Xanana pretende ser como os liurais na tradição, uma autoridade moral, uma espécie de pai da nação, a quem todos podem recorrer.

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