Toque de recolher reduz confrontos com estudantes em Bangladesh

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Por ANIS AHMED
Atualização:

A normalmente fervilhante capital de Bangladesh, Daca, estava praticamente deserta na quinta-feira devido à imposição de um toque de recolher pelo governo interino, na noite anterior, após dias de violência. Um homem foi morto e quase 300 pessoas ficaram feridas em confrontos entre a política e manifestantes, especialmente estudantes, em Daca e em outros lugares, durante três dias, até que o governo impusesse as restrições na capital e em mais cinco cidades. Nas ruas de Daca, viam-se apenas alguns poucos riquixás e veículos com soldados armados, que impunham o toque de recolher e levavam os poucos curiosos e transeuntes a se esconderem em becos. Centenas de passageiros que desembarcavam na cidade passaram a noite retidos no aeroporto de Daca, depois da repentina imposição do toque de recolher. O Ministério do Interior suspendeu o toque de recolher entre 16h e 19h (7h e 10h em Brasília) de quinta-feira para que as pessoas possam deixar os lugares onde estão retidas (inclusive o aeroporto) e comprar mantimentos. Os celulares, que passaram horas fora do ar após a imposição do toque de recolher, voltaram a funcionar na quinta-feira. O país atravessou dois anos de greves e turbulências até a imposição de um estado de emergência, em janeiro. Analistas dizem que os atuais incidentes abalam o governo, mas não o ameaçam. A nova crise começou na segunda-feira à noite, quando militares investiram contra estudantes que protestavam contra a presença de soldados em um jogo de futebol na Universidade de Daca. As tropas estão estacionadas no ginásio do campus desde janeiro, quando um governo interino, com apoio militar, assumiu o poder, após meses de violência política. O governo desativou a guarnição militar do campus na noite de terça-feira, após os primeiros confrontos. Um morador de Daca, cidade de 11 milhões de habitantes, disse ter caminhado oito quilômetros para visitar um parente num hospital. "Tudo o que vi na rua eram veículos de segurança e uma ou duas ambulâncias", disse Mohammad Ibrahim. O governo prometeu suspender o toque de recolher assim que a situação melhorar. Em pronunciamento pela TV na quarta-feira, o primeiro-ministro interino, Fakhruddin Ahmed, disse haver uma "conspiração". O governo também fechou universidades e faculdades nas seis cidades atingidas pelas medidas, inclusive Daca, e ordenou que os alunos deixem os alojamentos universitários até segunda ordem. O campus da Universidade de Daca, onde estudam 40 mil alunos, ficou deserto. Policiais e soldados patrulham as ruas próximas, e não há protestos visíveis, segundo testemunhas. O movimento estudantil de Bangladesh é tradicionalmente forte, mas o governo interino recentemente anunciou a intenção de proibi-lo ou pelo menos de banir sua vinculação com os grandes partidos, o que irritou estudantes e professores.

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