Trabalho e diversão para os técnicos militares russos na Venezuela

Nos dias de folga, em grupos, os especialistas usam aviões da Força Aérea para chegar ao litoral caribenho

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A vida é boa para os russos, pelo menos para os técnicos militares que atuam na Venezuela há cinco meses. A prioridade deles é recuperar e fazer funcionar com eficiência o equipamento de Defesa vendido por Vladimir Putin, primeiro para Hugo Chávez e depois para Nicolás Maduro, em sucessivos lotes desde 2005. Um negócio de valor estimado entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões. 

Nos dias de folga, em grupos, os especialistas usam aviões da Força Aérea para chegar ao litoral caribenho. A rota mais procurada leva até as ilhas de Los Roques, um paraíso tropical de areia branca e mar azul, a 160 quilômetros da capital, Caracas. Nessa época do ano a temperatura não passa dos 28ºC, ótima para quem sai dos 14ºC da média registrada na área central da Rússia.

Em fevereiro, os S-300 russos registraram falha na Venezuela Foto: EFE

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Segundo uma agente de turismo de Gran Roque, “eles gastam bom dinheiro por aqui, gostam de dançar a salsa cubana, comem peixe frito com arepa (tipo de massa de farinha de milho) e bebem cerveja com guarapita (caipirinha feita com rum escuro, gelo, limão ou qualquer fruta ácida, mas sem açúcar)”. 

A parte séria e sinistra do programa bilateral extraordinário de cooperação, iniciado em março, é a tarefa de recuperar os sistemas fornecidos às forças do regime bolivariano, fortemente dedicados à aviação de combate e ao Exército. 

Em fevereiro, as baterias lançadoras dos poderosos mísseis antiaéreos S-300 teriam registrado falhas durante os ensaios realizados na base Manuel RÍos, em Guarico. Segundo análises da inteligência militar dos EUA e da Colômbia apresentadas aos países integrantes do Grupo de Lima – o fórum regional dos 14 governos críticos do regime de Nicolás Maduro –, o arsenal venezuelano sofre desde 2015 com a falta de manutenção. 

A dificuldade teria chegado a níveis críticos no começo do ano. Moscou então enviou perto de 100 técnicos, mais 35 toneladas de peças e componentes em dois aviões. A primeira turma, acompanhada do chefe do Estado-Maior do Exército russo, general Vasili Tonkoshkuroi, permaneceu nas instalações de apoio por pouco menos de três meses. Em julho foi substituída por outro time, talvez reforçado com engenheiros eletrônicos.

A principal preocupação é mesmo com o S-300. A Venezuela tem três conjuntos lançadores completos. Dois deles foram fotografados há seis meses por um satélite americano de espionagem nas instalações de Maracay, na base de El Libertador. 

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A bateria padrão é formada por seis carretas lançadoras blindadas, cada uma levando quatro mísseis prontos para disparo, um radar de longa distância, um veículo de comando e controle, e um remuniciador. 

 A versão adquirida pelo presidente Maduro, recebida a partir de 2012, custa cerca de US$ 115 milhões, fora o míssil 9M82M, cotado a US$ 1 milhão. Funcionando no modo automático – o sistema digital rastreia os alvos, prioriza o grau de ameaça e faz fogo – o tempo de reação é de 3 segundos. Atinge mísseis balísticos e de cruzeiro, aviões, drones e projéteis de artilharia no limite máximo de 150 km a 200 km, a altitudes de 30 km a 39 km. O arsenal contempla dois outros mísseis para serem empregados contra agressores aéreos. O Pechora, com alcance de 35 km e o Buk, de lançamento vertical e 140 km de abrangência. 

Não é a única preocupação de venezuelanos e russos. Apenas um esquadrão dos grandes caças Su-30 Mk2V estava em condições de uso no começo do ano. Chávez comprou e recebeu 24 unidades. Uma foi perdida em acidente. As demais acabaram canibalizadas, tendo peças transferidas de umas para outras aeronaves até o limite. O supersônico é notável. Mede 21 metros de comprimento e é dotado de duas turbinas de alto empuxo. Pode voar a 2,2 mil km/h armado com toneladas de armas de variados tipos – de seis diferentes mísseis de alcance na faixa de até 120 km a bombas inteligentes de 500 quilos guiadas por laser mais um canhão de 30mm – em um raio de ação de 3 mil km. 

A recuperação dos jatos pode já estar produzindo resultado. Em 19 de julho, dois Su-30 interceptaram um avião de coleta de informações da Marinha dos EUA sobre o litoral, no eixo de aproximação de Maiquetía, o terminal civil e base aérea de Caracas. O governo americano sustenta que o turboélice Aries II voava em águas internacionais.

Não há informações confiáveis a respeito das condições dos tanques T-72V, uma configuração específica para a força terrestre da Venezuela, recebidos a partir de 2016. A versão entregue ao Exército bolivariano é a B3, recente, de 44 toneladas, velocidade de 80 km/h e autonomia de 460 a 700 km conforme o arranjo programado. 

Helicópteros de ataque Mi-35 e de transporte geral puderam ser rapidamente revisados e ganharam um avançado centro de treinamento de pilotos de combate.

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