Tradições tribais oprimem as mulheres no Afeganistão

Casamentos forçados são o principal problema da maioria das afegãs

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Por Redação
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O Afeganistão é o segundo pior lugar do mundo para uma mulher viver, segundo o índice de desenvolvimento humano relacionado a gênero (GDI, na sigla em inglês), estabelecido pelas Nações Unidas. O país só perde para Serra Leoa. Cerca de 80% das mulheres afegãs são submetidas a casamentos forçados e 57% casam antes de completar 16 anos, idade mínima determinada por lei. Acompanhe o blog de Patrícia Campos Melo Uma pesquisa do grupo Women and Children Legal Research mostra que 17,2% dos casamentos forçados são motivados pelo "baad", tradição tribal ilegal que consiste em dar a filha como compensação por algum prejuízo. Por exemplo, se um irmão ou pai comete um assassinato, a o tribunal do vilarejo se reúne e pode determinar que a irmã ou filha do assassino seja dada à família do assassinado. Em outros 16,6% dos casos de casamento forçado, a filha é dada como pagamento de dívidas. Outros 30,3% dos casamentos forçados são relacionados à troca de noivas, quando famílias fazem intercâmbio de suas filhas. Isto é comum porque os maridos sempre precisam pagar para "comprar" uma noiva, que no norte do país chega a custar US$ 5 mil. Como na troca de mulheres não há dinheiro envolvido, a prática é adotada por muitas famílias. "O baad é ilegal, mas ainda é muito comum no Afeganistão", disse Wazhma Abdulrahimzay, coordenadora de programas do Women and Children Legal Research. A entidade faz um trabalho educacional para reduzir esse tipo de prática no país. Os pesquisadores participam de reuniões com os líderes tribais dos vilarejos e tentam mostrar que as práticas vão contra os mandamentos do Alcorão. "Argumentamos dentro do Islã. Por isso, muitas vezes funciona", afirmou Wazhma. De acordo com o estudo Violência Contra Mulheres no Afeganistão, de 2008, 58% das mulheres em casamentos forçados são espancadas pelos marido ou sofrem algum tipo de violência. Dessas, 12,5% contam já terem tido algum membro fraturado e 6,6% ficaram com deficiência física permanente. Grande parte das mulheres é analfabeta e casa-se ainda na infância. Segundo a pesquisa, 38,2% das noivas têm entre 11 e 15 anos e 46,9% têm entre 16 e 20 anos. De acordo com a legislação afegã, só mulheres com mais de 16 anos e homens com mais de 18 podem se casar. Na maioria das famílias, as mulheres precisam da autorização dos maridos para desempenhar qualquer tipo de atividade. Por isso, sem poder ter um emprego ou sair de casa, a maioria fica isolada e acaba não denunciando agressões dos maridos. "Grande parte das mulheres é analfabeta e acha que a violência é um direito natural dos maridos", disse Wazhma. Até as mulheres de Cabul e de famílias mais abastadas lutam para ter alguma independência. "No Afeganistão, mesmo para as mulheres com maior escolaridade, é muito difícil continuar estudando e trabalhando depois do casamento, pois a cultura afegã prega que nós precisamos cuidar da família", afirmou Wazhma, que com 26 anos ainda não se casou e segue estudando.

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