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Tráfico humano movimenta 300 milhões de euros

Segundo Europol, muitos narcotraficantes já abandonaram o comércio de drogas para se dedicarem exclusivamente aos refugiados

Por ALEMANHA
Atualização:

Vendendo um sonho a desesperados, milhares de traficantes de pessoas lucram com a crise de refugiados e fazem uma economia paralela ganhar força. Estimativas apontam que o fluxo de dinheiro já chega a 300 milhões de euros em 2015, pagos pelos ilegais por uma chance de entrar na União Europeia (UE). Muitos são enganados e mais de 3,7 mil já morreram no caminho.

Com a dificuldade da UE em lidar com a crise, a venda de esperança ganhou proporções inéditas. Criminosos comuns em busca de lucros ou redes criminosas passaram a explorar os imigrantes. Segundo a Europol, 3 mil pessoas estariam envolvidas, principalmente nos Bálcãs. Segundo investigações, muitos já deixaram o tráfico de cigarros ou de drogas para se concentrar nos refugiados. 

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No total, 130 investigações estão ocorrendo sobre redes de traficantes – 40 envolvem narcotraficantes que passaram a ver a crise como oportunidade mais rentável. Apenas no caminhão onde 71 corpos foram encontrados numa estrada austríaca, a estimativa da polícia é de que os traficantes coletaram 100 mil euros das vítimas.

Refugiados que conversaram com o Estado durante a semana revelam que as redes começam a operar na Turquia. Nas lojas de algumas cidades da costa, barcos infláveis ou com pequenos motores estão praticamente esgotados. Parte do 1,9 milhão de sírios vivendo na Turquia espera chegar à UE navegando de forma precária. 

Quem também lucra com isso são os comerciantes. Segundo os refugiados, foi difícil encontrar coletes salva-vidas para vender em cidades como Bodrum, diante da procura. Nas mesmas lojas, outro produto muito vendido é o apito, para o caso de o barco naufragar. 

As casas de câmbio turcas também ganham. Para tentar ter certa segurança, os refugiados exigem garantias de que serão levados à Europa. Um acordo é feito e o candidato a cruzar o mar deposita o dinheiro em uma dessas casas. Se em uma semana ele não for levado, o refugiado recupera o dinheiro. Mas, mesmo assim, o estabelecimento comercial fica com mais de 50 euros. 

Ao lado do comércio regular, autoridades apontam que um mercado paralelo já surgiu: a venda de passaportes falsificados. Os mais procurados são os sírios, já que isso representa certa garantia de que aquelas pessoas conseguirão status de refugiado. 

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Mohamed, de Alepo, na Síria, gastou 4,5 mil euros para chegar à Alemanha. Ele diz que o preço do “táxi” – como são chamados os carros dos traficantes – aumentou desde que a Hungria passou a impedir a circulação de trens. “As negociações com os traficantes eram feitas na estação de Budapeste, diante dos guardas”, contou, segurando a passagem que comprou e não pôde usar. 

Um dos refugiados diz que há acordo de tabelar os preços da viagem entre os traficantes. “Na Turquia, pesquisei com seis grupos. Todos deram o mesmo preço para chegar à Grécia de barco”, contou Ahmad. A tabela previa 1 mil euros para barcos infláveis e 3 mil euros para embarcações maiores. 

Ali, de 23 anos, não quer sua foto publicada nem seu nome completo revelado. Ele acredita que sua família – que ficou na Turquia – pode ser punida pelos criminosos se ele for identificado. Caminhando pela Sérvia, achou que fosse morrer. “Nosso grupo tinha oito pessoas e o traficante. Quando vimos a polícia, nos escondemos e o traficante tirou uma arma da sacola e nos disse que nos mataria se alguém dissesse que ele era o responsável pelo grupo.” 

Pelo caminho, a reportagem ouviu relatos de refugiados que desmaiaram por falta de oxigênio nos caminhões e explicações sobre a falta de preparo para a viagem. A maioria não sabia nadar e todos admitiam que “a única saída” era o traficante. “Só quem vive uma guerra sabe o que é fugir”, disse Nizar.

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Até as vans que transportam os refugiados se transformaram em negócio. Parte da frota é a sobra de um esquema criado ironicamente pelo governo alemão, em 2008 e 2009, para incentivar o mercado de veículos. Os donos tinham o direito de trocar de carro, com um bônus de 2 mil euros. Por anos, os veículos ficaram em depósitos. Mas, desde o ano passado, são comprados por “empresários” do Leste Europeu por valores baixos. 

Em Passau, autoridades indicaram que estão à “caça” dessas redes. Segundo a polícia alemã, 250 pessoas foram presas desde janeiro. “Eles são muito organizados e isso virou um grande negócio”, disse o inspetor Thomas Schweikl. 

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