Tragédia faz tempo parar em vila alemã

Moradores de pequena cidade entram em transe com matança

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Por Andrei Netto
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A remoção dos primeiros corpos da escola Albertville, o atendimento às vítimas, a manifestação das autoridades, o início dos funerais e o trabalho da polícia pararam o tempo, ontem, em Winnenden. Não há outro assunto na cidade de 27 mil habitantes além da chacina ocorrida na escola, que tem aproximadamente mil alunos. Veja cronologia dos principais ataques contra escolas no mundo SOLIDARIEDADE Ao longo do dia, autoridades alemãs apresentaram suas condolências aos moradores. À tarde, a chanceler Angela Merkel manifestou sua solidariedade. "É inimaginável que, em segundos, estudantes e professores tenham sido mortos", afirmou. "Este é um dia de luto para toda a Alemanha." Ao longo de todo o dia, houve uma romaria constante à escola. "Acabo de saber que um de meus amigos foi morto. Ele estava com uma perna quebrada e não podia correr", disse a uma emissora de rádio francesa uma ex-aluna da escola. "Não consigo acreditar, não consigo compreender." Enquanto os primeiros corpos eram velados em uma igreja de Winnenden, visitantes de várias partes da Alemanha chegavam à pequena cidade para conhecer o local e demonstrar solidariedade às vítimas. "Vim porque precisava entender melhor o que está acontecendo aqui", argumentou ao Estado o jovem de origem turca Tabor Ataturk, de 17 anos, morador de uma cidade vizinha. "Ninguém consegue saber direito o que teria causado isso tudo." À noite, mesmo com a temperatura próxima a zero, jovens abraçados aos pais ou a amigos, muitos emocionados, chegavam ao pátio da escola, cujo prédio permanecia cercado por policiais. Velas foram acesas e flores, depositadas em diversos canteiros em torno do prédio. Ao redor, grupos de pessoas permaneciam em silêncio, com expressões de introspecção, em um misto de incredulidade e busca de respostas para a violência cometida por Tim Kretschmer. Poucos aceitavam falar e apenas repetiam relatos ouvidos da tragédia: "Alguns estudantes se feriram porque se jogaram pelas janelas tentando escapar da morte", contou o jovem Karl Kaiser, de 18 anos, amigo de um aluno da escola. "Quando os tiros pararam, outros alunos saíram pelo corredor. Em uma das salas, um de meus amigos viu uma professora morta atrás da porta." Diante do assédio discreto de alguns repórteres a testemunhas, um estudante, revoltado com os holofotes instalados pelas redes de TV, que dividem espaço nas imediações do prédio, tentou correr na direção dos jornalistas, e foi contido por seus parentes. "O que vocês estão fazendo? Saiam daqui, deixem-nos em paz", gritava para os repórteres. RECONSTITUIÇÃO No interior do prédio, as luzes acessas indicavam o trabalho incessante dos agentes da polícia científica, que reconstituíam o crime. Entre as perguntas em aberto - muitas das quais fontes de revolta da população de Winnenden - estão dúvidas sobre como o assassino conseguiu fugir da escola sem ser bloqueado pela polícia ou como um jovem sem antecedentes criminais sequestrou um motorista para fugir. Mas a questão mais relevante, até a noite de ontem, parecia ser sobre as circunstâncias da morte do adolescente. "Eu nunca vi nada parecido em minha vida. Tenho 19 anos como chefe de polícia em Baden-Werttemberg (o Estado no qual se situa Winnenden), e não me lembro de ter visto nada tão terrível quanto isso", disse o oficial Erwin Hetger, em uma conversa com a imprensa.

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