Três dos presos mortos no Paraguai são brasileiros

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Um motim que resultou em incêndio provocou a morte de 19 presos e deixou pelo menos outros cem feridos ontem, na Penitenciaria de Alto Parana e Canindeyú, em Ciudad del Este, no Paraguai. Entre os mortos estão três dos cerca de 100 brasileiros que cumprem pena no local - Orlando Martins dos Santos, Pedro da Silva e Émerson Ramos Magrin. Morreram ainda 15 paraguaios e um argentino. A rebelião teve início no começo da manhã e só foi controlada nove horas depois. Segundo os presos, o motim teve início com um desentendimento entre um policial e um interno. Por volta de 6h30 o guarda Juan Carlo Ojeda disparou um tiro contra o detento Simeon Torres, que teria usado um punhal para resistir a uma revista de rotina. Os presos disseram, ainda, que o policial teria atirado neles sem um motivo aparente. Pelo menos três apresentavam ferimentos a bala. O chefe da Policia Nacional, Isacio Aguilar, disse que os presos teriam se irritado com a demora da promotora Basilisa Vazquez Roman, chamada para intermediar as negociações. Por volta de 9h, pouco antes da chegada de Basilisa e outros três promotores, os detentos começaram a atear fogo em colchões. Os bombeiros de Ciudad del Este demoraram quatro horas para conter as chamas, que destruíram metade das instalações da penitenciária. Carbonizados - A Policia Nacional usou tratores para derrubar paredes e retirar parte dos presos amotinados. Alguns morreram carbonizados, outros, asfixiados. Muitos se feriram ao tentar fugir do fogo. Uma enfermaria foi improvisada no pátio da penitenciária para atender os feridos. Quase todos apresentavam cortes e queimaduras de terceiro grau. Os feridos em estado grave foram levados para Assunção em dois aviões das Forças Armadas do Paraguai. Os demais estão internados em hospitais da região. A Penitenciária de Alto Parana e Canindeyú tem capacidade para pouco mais de 200 presos, mas abrigava 527 no momento da rebelião. Embora o prédio tenha ficado parcialmente destruído, continua abrigando parte dos presos. O restante foi removido para outros presídios da região ou da capital. Prisões arbitrárias - Os brasileiros somavam quase um quinto dos 527 presos que superlotavam a Penitenciária de Alto Paraná e Canindeyú, no Paraguai. A direção do presídio não soube informar hoje o número exato de brasileiros, mas estima que chegam a cerca de 100. Desses, três morreram no motim e vários ficaram feridos. Entre os brasileiros estão jovens que entraram na penitenciária antes de completar 18 anos de idade - no Paraguai a imputabilidade penal inicia-se aos 14 anos. O Centro de Direitos Humanos de Foz do Iguaçu já recebeu várias denúncias de brasileiros que estão cumprindo pena na penitenciária sem ao menos terem sido julgados. Muitos sequer têm acusação formalizada. São várias denuncias de prisões arbitrárias, muitas delas sem provas e por motivos banais, em geral contra brasileiros pobres que vivem no Paraguai. Os advogados paraguaios contratados pelo Consulado do Brasil em Ciudad del Este dão pouca importância aos processos. Recentemente a subseção da Ordem dos Advogados do Brasil em Foz visitou a penitenciária e constatou várias irregularidades nos processos. A situação carcerária não é diferente no lado brasileiro da fronteira. A cadeia pública de Foz do Iguaçu tem espaço para 236 presos, mas abriga mais de 600, entre os quais estão 35 paraguaios, dois argentinos, um uruguaio e três libaneses. A maioria dos estrangeiros foi presa por tráfico de drogas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.