21 de dezembro de 2014 | 02h01
HAVANA - No Malecón de Havana, o calçadão à beira-mar no qual os cubanos costumam beber, tocar e dançar no fim de tarde, uma ampla praça com 138 mastros chama a atenção na altura do bairro Vedado.
Trata-se da Tribuna Anti-imperialista José Martí, espaço reservado a atividades culturais, sociais e cívicas - preferencialmente ofensivas aos EUA. O lugar foi construído diante da Seção de Interesses Americanos na ilha, um edifício marrom sóbrio e cercado pelo policiamento típico de uma embaixada do país.
Embora não se destaque pelo apuro arquitetônico, o lugar atrai turistas pelo tom provocativo. No meio da estrutura, há uma estrela desenhada com uma das pontas voltada para a sede. Em ocasiões especiais, 138 bandeiras são erguidas e cobrem a visão dos funcionários americanos para Havana Vieja, centro histórico da cidade.
O número é uma referência "às vítimas do terrorismo americano", especialmente as 73 mortas em 1976 na derrubada de um avião da empresa Cubana de aviação. O principal acusado de colocar uma bomba na aeronave, Luis Posada Carriles, estava sob custódia dos EUA quando as bandeiras foram erguidas pela primeira vez, em 2006.O local foi inaugurado em 2000 com os protestos multitudinários pela volta de Elián González, que aos 6 anos chegou aos EUA sem a mãe, morta na travessia em um barco que naufragou em novembro de 1999. Após uma disputa judicial entre o pai e a família da mãe em Miami, ele regressou à ilha em junho de 2000. Elián é líder da Juventude Comunista e tem privacidade garantida pelo governo.
Os EUA esperam reabrir a embaixada em até seis meses. O prazo foi dado pelo embaixador Jeffrey DeLaurentis a líderes da dissidência cubana na quarta-feira, neste mesmo prédio, duas horas após o anúncio pelos presidentes. Não está claro se a praça manterá o nome depois que os países decidiram restabelecer relações diplomáticas. "Acho que agora deveria se chamar Tribuna Barack Obama, ou Tribuna Capitalista", sugeriu o mexicano José Luis Preciado, de 25 anos, que visita a ilha com dois amigos.
Cubanos se acostumaram tanto ao nome que não veem sentido em mudá-lo. "Tem de seguir igual, ora", disse com firmeza a economista Teresa Mena, de 49 anos, crítica da política dos EUA, mas favorável aos negócios com o vizinho. A dona de casa Iris González, de 32 anos, mostrou-se indiferente. "Não me dá frio nem calor."
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