Tribunais Islâmicos recrutam somalis para atacar etíopes

Milicianos devem se apresentar aos centros com suas próprias armas

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Por Agencia Estado
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As milícias dos Tribunais Islâmicos de Mogadício instalaram nesta sexta-feira oito escritórios de recrutamento para fazer uma "guerra santa" contra as tropas etíopes na Somália, enquanto cerca de dez mil pessoas juraram entrar na luta. Os Tribunais Islâmicos, que controlam a capital e amplos setores do centro e do sul do país, estão ameaçando lançar uma ofensiva contra os "invasores" etíopes há semanas, mas é a primeira vez que começam a organizar seus quadros para a missão. Cerca de dez mil pessoas, segundo os organizadores, reuniram-se nesta sexta-feira em um parque de Mogadício para fazer um juramento religioso presidido pelo líder máximo da União de Tribunais Islâmicos, Sharif Sheikh Ahmed, considerado um dirigente moderado. Os presentes no ato juraram participar da "jihad" (guerra santa), a partir de um documento lido anteriormente pelo xeque Mohamud Sheikh Ibrahim Suley e que permite às pessoas se dirigirem diretamente a Alá. O líder religioso anunciou que os milicianos podem se dirigir a partir desta sexta-feira aos escritórios de recrutamento situados em diferentes bairros da capital, instalados em estações policiais, mesquitas e outros locais. Os milicianos devem se apresentar aos centros com suas próprias armas, anunciaram os líderes religiosos. Em seu juramento, os reunidos se comprometeram a defender seu país e sua religião e aceitar as ordens de Sharif. Este último complementou o voto com o compromisso de impor no país a lei islâmica (sharia) e proteger a vida de todos os muçulmanos. Sharif anunciou também que ordenou a seus milicianos atacar as bases das forças etíopes que estão na Somália a partir desta sexta-feira. "Se aceitarem e jurarem perante Alá lutar contra a Etiópia, declaro que as forças dos Tribunais Islâmicos devem começar seus ataques contra todos os efetivos etíopes", acrescentou. A Etiópia, principal apoio com que conta o governo provisório da Somália, reconheceu que tem "centenas" de instrutores no país vizinho, mas sustenta que não há tropas de combate. No entanto, um recente relatório interno das Nações Unidas divulgado na região garante que já há mais de seis mil soldados da Etiópia na Somália, assim como outros dois mil da Eritréia. Os dois países são inimigos e apóiam lados diferentes no conflito somali. "Sei que o inimigo usará aviões de guerra", disse Sharif, referindo-se à Etiópia. "Peço paciência aos ´mujahedins´ (guerreiros islâmicos) porque morrerão pela ´jihad´. Alá aceitará sua alma e irão para o paraíso", declarou o líder islâmico. Sharif pediu que a luta comece em Baidoa, cidade situada 245 quilômetros a noroeste de Mogadício e que é a base do governo provisório, liderado pelo presidente, Abdullahi Yousef Ahmed. É também em Baidoa que os efetivos da Etiópia estão concentrados. Os milicianos islâmicos se mantêm em posições a até 40 quilômetros de Baidoa. "Faço uma chamada ao povo de Baidoa para começar a luta ali. Depois nós iremos (de Mogadício) e os ajudaremos a libertar o país dos invasores", acrescentou Sharif. O discurso de Sharif e o recrutamento em massa elevam a tensão na região do Chifre da África a níveis sem precedentes nos últimos meses. Apesar de as tropas etíopes estarem na Somália há semanas, ainda não houve um enfrentamento direto com os milicianos islâmicos. Se um conflito armado explodir, segundo os observadores regionais, há o risco de se estender à Etiópia e à Eritréia, duas nações que, por disputas fronteiriças, protagonizaram uma guerra entre 1998 e 2000 que terminou com cerca de cem mil mortes.

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