ISTAMBUL - Um tribunal turco decretou nesta terça-feira, 3, a prisão preventiva para dois editores de uma revista turca crítica ao governo, detidos na segunda-feira sob a acusação de "conspiração para dar um golpe de Estado" e "tentativa de derrubar o governo".
O editor da revista Nokta, Cevheri Güven, e o chefe de redação, Murat Çapan, foram detidos em Istambul enquanto a polícia confiscou, por ordem judicial, a edição completa da revista.
O motivo teria sido a capa da publicação, que mostrava uma folha de calendário com a data 2 de novembro impressa sobre um retrato do presidente, Recep Tayyip Erdogan, e a frase: "Início da guerra civil na Turquia".
Em sua defesa perante o juiz, Güven afirmou que o título fazia referência ao caos e à violência, com centenas de civis mortos no país desde junho, mas que em nenhum caso deveria ser interpretado como uma convocação à guerra.
A ordem de prisão para os dois jornalistas, pedida pela procuradoria, chega dois dias após as eleições gerais, vencidas pelo partido islamita AKP, fundado por Erdogan, que conseguiu assegurar o retorno do regime de partido único em uma eleição que, segundo oponentes, aumentou o autoritarismo do governo.
Uma missão de observadores da OSCE certificou a transparência da apuração de votos, mas considerou a campanha eleitoral injusta pelos sérios impedimentos que o governo impôs à imprensa da oposição.
O primeiro-ministro, Ahmet Davutoglu, prometeu após a vitória eleitoral que não se afastaria "nem um passo da lei e da democracia" e protegeria os direitos de todos os cidadãos, o que a oposição duvida que será cumprido.
Clérigo. A polícia turca deteve dezenas de pessoas nesta terça-feira supostamente ligadas a Fethullah Gulen, adversário do presidente Erdogan, aumentando uma campanha contra o clérigo muçulmano exilado após a eleição de domingo.
A procuradoria da cidade de Izmir informou que pediu a prisão de 57 pessoas, incluindo autoridades policiais e governamentais, que supostamente fariam parte do "grupo de terror gulenista", sob acusações de que eles buscavam um expurgo no Exército e armavam um julgamento de espionagem em 2012.
Gulen é o principal suspeito na investigação mais recente, de acordo com a agência de notícias Dogan.
O caso de espionagem de 2012 envolveu o julgamento de 357 pessoas, incluindo soldados, acusados de posse de informações e documentos militares secretos. Os réus foram liberados, mas o caso continua.
Erdogan se virou contra Gulen e iniciou uma repressão contra os seguidores do clérigo exilado, depois que policiais e procuradores vistos como simpáticos ao clérigo abriram uma investigação de corrupção no grupo de pessoas próximas a Erdogan, em 2013. /REUTERS e EFE