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Tropas dos EUA na Europa migram para o leste

Por Agencia Estado
Atualização:

Os vazamentos de Washington dão a entender que a presença das forças americanas na Europa pode ser revista de alto a baixo. A Alemanha vai perder bases americanas. Ao contrário, vários países do leste, a Polônia em primeiro lugar, a Bulgária, terão a honra de receber regimentos americanos. Em suma, as tropas americanas na Europa vão se mover: do oeste em direção ao leste. Desde que esses vazamentos vieram a público, viu-se o efeito automático da briga que há semanas coloca em confronto - por causa da guerra contra o Iraque - os Estados Unidos e os países da velha Europa: França, Bélgica e Alemanha. Falando claro: Washington quer chatear a Alemanha, que não obedeceu, que não quis combater o Iraque. Punição: o efetivo das tropas americanas na Alemanha vai ser diminuído, o que por um lado privará a Alemanha de milhões de dólares e que, por outro, recolocará Berlim em sua obscuridade política e diplomática. Inútil dizer que essas perversidades são desmentidas em Washington. E é verdade que a realocação das tropas americanas já havia começado, bem antes que os falcões se instalassem na Casa Branca. Desde 2001, a Defense Review sugeriu criar na Europa uma discussão avançada. Vale precisar que essa realocação não diz respeito apenas ao espaço, ao privilegiar os países do leste em relação aos velhos europeus do ocidente. Diz respeito também à própria estrutura da defesa americana. A idéia é esta: com a morte da União Soviética, o tempo trouxe enormes concentrações de tropas e de material, com implantações gigantescas de depósitos, de estoques, famílias, escolas, etc etc. Essas estruturas mastodônticas, os EUA querem substituir com bases menores, mais esparsas, abrigando tropas menos numerosas, mas igualmente ativas em caso de guerra. É preciso lembrar que desde o fim da guerra fria, os efetivos americanos começaram a encolher. Em 1989, Washington mantinha 300 mil soldados na Europa. Hoje, não tem mais de 110 mil, dos quais 70 mil na Alemanha. Nos novos planos, a presença americana na Alemanha será ainda mais reduzida. E em contrapartida, as forças americanas serão implantadas nos países do leste. Para a Alemanha, esse remanejamento significará dolorosas perdas financeiras. A base aérea de Ramstein, na Alemanha (45 mil soldados), é uma mina: ela emprega 6 mil civis. Gera cerca de um milhão de euros anuais. Ora, a Alemanha atravessa uma crise econômica profunda e duradoura. Os países do leste europeu, por sua vez, estão encantados com as novas orientações de Washington. Principalmente a Polônia, que espera ficar com a maior parte do bolo. Desde que os vazamentos de Washington foram divulgados em Varsóvia, uma nuvem de administradores regionais e prefeitos se candidataram a receber aviões, bases, não importa o quê, desde que fossem americanos. Por trás dos planos de realocação, descobre-se o que pretende, na verdade, Washington: a velha e inútil briga entre a União Européia e a Otan - os EUA, portanto. O voluntarismo dos poloneses em conquistar essas bases ilustra bem o que se pretende. A Polônia é candidata à UE. Mas ela dá mais importância às boas relações com os EUA do que com a UE. No fim de dezembro, a Polônia, cuja candidatura acabara de ser aceita em Bruxelas, havia escandalizado os europeus pela escolha que havia feito de comprar 48 aviões de combate americanos F-16 no lugar de dar preferência tanto ao Mirage 2000, da francesa Dassault, quanto ao Jas 39 Gripen, da empresa sueco-inglesa BAE System Saab. E para que as coisas fiquem bem claras, algumas semanas mais tarde, os poloneses assinaram a carta dos oito que, sob a direção de Tony Blair e Aznar, sustentavam apaixonadamente a posição americana sobre o Iraque contra os planos pacíficos franco-germânicos.

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