Tropas israelenses podem voltar à Cisjodânia após atentado

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Por Agencia Estado
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Um palestino detonou hoje um cinturão de explosivos atado a seu corpo no interior de um ônibus repleto de estudantes e soldados em Jerusalém, matando 11 passageiros e ferindo dezenas. O militante também morreu. Sete dos mortos eram adultos e os outros quatro, jovens de oito a 16 anos, segundo a polícia. Dois grupos militantes islâmicos assumiram a responsabilidade pelo atentado: a Jihad Islâmica e o Hamas. O extremista era proveniente de Belém, confirmou Israel, levantando a possibilidade de o Estado judeu voltar a ocupar militarmente a cidade da Cisjordânia da qual havia se retirado em agosto. O primeiro-ministro interino Ariel Sharon convocou uma reunião de emergência de seu gabinete de segurança. Militantes islâmicos haviam dito que os ataques iriam continuar, apesar de esforços do Egito e da Autoridade Palestina para negociar uma suspensão dos atentados até, pelo menos, a eleição de 28 de janeiro em Israel. A continuidade dos ataques tende a fortalecer os partidos direitistas israelenses. O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, condenou o atentado, mas sublinhou que continua sendo o objetivo de Washington ver dois Estados independentes e soberanos - Israel e Palestina - vivendo lado a lado e em paz. O atacante, vestindo um cinturão-bomba, detonou os explosivos no meio do ônibus por volta das 7h10 (locais), quando ele parou num bairro residencial de Jerusalém, Kiryat Menachem. Maor Kimche, de 15 anos, relatou que havia acabado de entrar no coletivo quando ocorreu a explosão. "De repente, tudo ficou escuro e esfumaçado. Havia pessoas no chão. Tudo estava ensangüentado. Tinha vidros e pedaços de corpos em todos os lugares", disse Kimche, que escapou por uma janela do ônibus com ferimentos leves na perna esquerda. O coletivo estava cheio de estudantes secundários, soldados e idosos. Doze pessoas - inclusive o militante - morreram e pelo menos 48 ficaram feridas, oito delas gravemente. A polícia identificou o atacante como Nael Abu Hilail, de 23 anos. O pai dele, Azmi, apoiou a ação do filho. "Nossa religião diz que teremos orgulho dele até o dia da ressureição", explicou. "Isso é um desafio para os inimigos sionistas." Azmi disse que tropas israelenses prenderam outro filho dele e um sobrinho logo após o ataque. Vários amigos de Nael Abu Hilail disseram que ele era um seguidor da Jihad Islâmica. O grupo assumiu a responsabilidade pelo ataque num panfleto. Mas o Hamas também reivindicou o atentado num comunicado em sua página na Internet. Raanan Gissin, um conselheiro de Sharon, disse que esforços para conseguir uma limitada trégua e uma retirada de algumas áreas palestinas se provaram inúteis. "Todos os nossos esforços para entregar áreas e todas as conversas sobre um possível cessar-fogo, foi tudo uma cortina, porque em campo havia continuados esforços para promover tantas atividades terroristas quanto possível", afirmou. Gissin acusou a Autoridade Palestina de colaborar com os atacantes. A Autoridade Palestina condenou o atentado. Ghassan Khatib, o ministro do Trabalho palestino, responsabilizou Israel, dizendo que os ataques de Sharon contra militantes provocaram mais atentados palestinos. "Sharon e suas políticas são responsáveis pela continuação da violência", denunciou. Ismail Abu Shanab, um líder do Hamas, advertiu que "o povo palestino está determinado a continuar com a resistência até que libertemos nossa terra". Entretanto, ele não chegou a assumir responsabilidade em nome do Hamas. O movimento Fatah, do líder palestino Yasser Arafat, com a ajuda do Egito, tem tentado persuadir o Hamas a parar com os ataques, pelo menos durante a campanha eleitoral em Israel. Uma primeira rodada de conversações no Cairo terminou sem um acordo, mas os dois lados disseram que as negociações continuariam. O Exército de Israel tem imposto duras restrições de viagens aos palestinos nos últimos 26 meses de confrontos e reocupou a maioria das cidades da Cisjordânia numa tentativa de evitar novos ataques. Entretanto, oficiais israelenses disseram continuar recebendo diariamente dezenas de avisos sobre planos de ataques. As opções de resposta de Israel são agora limitadas pela possibilidade de um ataque dos EUA contra o Iraque. Vários líderes conservadores israelenses pedem a expulsão de Arafat dos territórios palestinos em retaliação aos atentados. Mas tal medida sofre forte oposição de Washington, que precisa manter o apoio de governos árabes moderados. Também hoje, autoridades palestinas receberam com satisfação um pedido do novo líder da oposição israelense, Amram Mitzna, para a retomada das conversações de paz. Eles disseram acreditar ser possível chegar a um acordo de paz com Israel caso o ex-general pacifista seja eleito primeiro-ministro. Mas Arafat e seus principais assessores não chegaram a endossar a candidatura do trabalhista Mitzna, aparentemente temendo comprometer suas chances na eleição. Mitzna afirmou ter ficado encorajado com a resposta. "Se o maior de nossos inimigos está me congratulando por minha eleição talvez seja um sinal de que no futuro haverá alguém com quem conversar e algo sobre o que falar", disse ele à Rádio de Israel. Mas o Partido Likud, de Sharon, é franco-favorito para as eleições gerais de 28 de janeiro, e autoridades palestinas disseram que pouco podem fazer para convencer eleitores israelenses a votarem em Mitzna, que venceu com folga as primárias do Partido Trabalhista na terça-feira.

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