Trump autoriza o envio de militares para a fronteira com o México

Objetivo da medida seria conter imigração ilegal enquanto Congresso não avalia emenda para construção de muro, promessa de campanha do presidente americano

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Por Redação
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O presidente dos Estados UnidosDonald Trump, assinou nesta quarta-feira, 4, a autorização para o envio de militares para a fronteira com o México. A justificativa para o envio da Guarda Nacional é frear a entrada irregular de imigrantes enquanto o Congresso não aprova a liberação de verbas para a construção de um muro na fronteira.

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Imigrantes de uma caravana que saiu da AMérica Central em direção aos Estados Unidos preparam uma refeição em Oaxaca, no Mexico Foto: REUTERS/Henry Romero

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A medida foi anunciada após quatro dias de fúria de Trump contra uma caravana de imigrantes da América Central que atravessa o território mexicano e pretendia chegar à fronteira com os Estados Unidos. Na terça-feira o grupo chegou ao estado de Oaxaca, no México, e desistiu de continuar o trajeto.

Na Casa Branca, a Secretaria de Segurança Interna, Kirstjen Nielsen, disse que Trump "ordenou que os homens da Guarda Nacional sejam destacados na fronteira sul". "Esperamos que a mobilização comece imediatamente", disse Nielsen, embora ainda seja necessário assinar "memorandos de acordo" com os governadores dos Estados que fazem fronteira com o México.

Nesta quarta-feira, Nielsen disse que havia estado "em contato com as contrapartes no México" e garantiu que esses interlocutores "entendem o desejo de nossa administração, assim como a deles, para controlar a entrada ilegal no país".

O governo do México disse nesta quarta que o efetivo da Guarda Nacional que os Estados Unidos pretende deslocar para a fronteira comum não portará armas nem fará controle migratório ou alfandegário.

"A Guarda Nacional somente realizará trabalhos de apoio ao Departamento de Segurança Interior", esclarecer a chancelaria mexicana em um comunicado após a reunião em Washington de seu titular, Luis Videgaray, com a secretaria de segurança interior, Kirstjen Nielsen.

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Usar militares para proteger a fronteira não é incomum. Em 2006, o presidente George W. Bush enviou 6 mil soldados da Guarda Nacional para a fronteira com o México. Em 2010, Barack Obama mandou 1,2 mil militares com o objetivo de atenuar as consequências da violência entre os cartéis mexicanos. Em 2014, mil homens da Guarda Nacional policiaram a fronteira.

No entanto, o anúncio sobre a Guarda Nacional foi formulado depois que os responsáveis pela caravana "Via-crúcis Migratória" anunciaram que o grupo terminará sua marcha na Cidade do México, desistindo de chegar à fronteira.

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"Nosso trabalho termina na Cidade do México e se outras pessoas precisarem de acompanhamento, teremos uma equipe de apoio na fronteira, mas terão que viajar por conta própria", indicou à AFP Irineo Mujica, diretor da ONG Pueblo sin Fronteras, que desde 2010 realiza esta simbólica marcha para dar visibilidade ao drama dos migrantes.

Dezenas de migrantes que viajam com a caravana, parada desde o último fim de semana em Matías Romero, no estado de Oaxaca, preparavam-se para seguir por conta própria o percurso até a fronteira. Alguns deles têm visto para transitar pelo México por 30 dias.

Cerca de 80% são hondurenhos, e os outros, guatemaltecos, salvadorenhos e nicaraguenses. A "Via-crúcis Migratória", que há 10 anos busca conscientizar sobre as agressões e os maus-tratos sofridos por milhares de pessoas na rota aos Estados Unidos, costuma ser realizada em trechos curtos dentro do território mexicano.

Mas, este ano, o protesto chegou aos ouvidos de Trump, que desde domingo escreveu diversos tuítes enfurecidos.

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O presidente americano advertiu que a "galinha de ovos de ouro do Nafta", em plena renegociação, estava em jogo e ameaçou militarizar a fronteira de mais de 3.000 km com o México.

Trump assegurou que suas ameaças fizeram com que o governo mexicano dispersasse a caravana, que começou em Tapachula, na fronteira com a Guatemala.

No entanto, a chancelaria mexicana garantiu que o movimento estava se desfazendo por causa da "decisão de seus participantes".

Os líderes da 'Via-crúcis' asseguraram que o governo mexicano não atacou seus membros antes ou depois das declarações acaloradas de Trump.

A decisão de não chegar à fronteira com os Estados Unidos deve-se ao alto número de migrantes envolvidos, cerca de 1.500, segundo Mujica. "Viajam muitas crianças, 450 (...) e subir no trem, como fazíamos antes, seria uma loucura", acrescentou Mujica.

"O que eles querem é um lugar para viver em paz, onde possam trabalhar sem serem apontados com uma arma, sem serem recrutados por gangues", disse ele.

"Acredito que 80% dos migrantes vão ficar no México, que já se tornou um país de destino", acrescentou.

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Até agora, o Instituto Nacional de Migração (INM) mexicano entregou mais de 230 vistos de trânsito e espera a emissão de mais 200 nesta quarta-feira.

Humberto Velázquez, um jovem hondurenho de 25 anos, está à espera de um visto. Ele planeja ir para Monterrey, no norte do México. "Um amigo me prometeu trabalho", disse.

Mas se não conseguir os documentos, arriscaria seguir adiante ilegalmente.

A caravana instalou um acampamento em campos de futebol de Matías Romero, perto da linha férrea, onde passa o trem que para o norte.

À noite, os centro-americanos dormem abraçados aos seus poucos pertences, que usam de travesseiro.

Esperam seguir na quinta-feira para a cidade de Puebla, no centro do México, a mais de 550 km de distância e onde esperam advogados para aconselhá-los sobre se podem ou não requerer asilo no México ou nos Estados Unidos. Depois, vão partir para a capital do país.

Para o ex-ministro das Relações Exteriores Jorge G. Castaneda, a reação de Trump tem sido "um pouco histérica" diante da perspectiva de os republicanos perderem sua maioria na Câmara nas eleições de novembro.

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"É uma manobra que apela aos piores sentimentos da sociedade americana", acrescentou, lembrando que pelo menos dois de seus antecessores enviaram a Guarda Nacional para a fronteira com o México. / AFP

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