100 Dias de Governo: Trump cumpre 10 das 38 metas do início de governo

Apesar de contar com a maioria no Congresso, presidente não conseguiu apoio para suas mais relevantes promessas de campanha

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Por Cláudia Trevisan , El Paso e Texas
Atualização:

Donald Trump chega ao fim de seus primeiros 100 dias de governo com rejeição da maioria dos americanos e sem nenhuma vitória de peso no Legislativo, um dos principais critérios adotados nos EUA para avaliar o sucesso de presidentes em início de mandato. Levantamento da agência Associated Press revela que Trump cumpriu 10 das 38 promessas que fez para os primeiros 100 dias de governo.

A rede social é o principal meio de comunicação utilizado pelo mandatário, que está próximo de atingir o marco simbólico de 100 dias no poder Foto: Carlos Barria/Reuters

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Apesar de seu partido ter maioria no Congresso, ele não conseguiu apoio nem para duas de suas mais relevantes promessas: a rejeição do Obamacare e a construção de um muro na fronteira com o México. Sem nenhuma experiência na administração pública, ele comanda uma gestão caótica, marcada por guerras internas, reviravoltas, a sombra de conflitos de interesse entre negócios de sua família e a Casa Branca e a investigação do FBI sobre potenciais ligações de integrantes de sua campanha com o governo russo. 

A impulsividade e a busca de aprovação parecem guiar grande parte das ações do presidente, ávido usuário do Twitter. Contra todas as evidências, Trump sustentou que sua posse teve o maior público da história, não só dos EUA, mas “do mundo”. Sem uma única prova, acusou seu antecessor, Barack Obama, de grampear seus telefones durante a campanha eleitoral.

Desde que assumiu o comando da maior economia do mundo, o presidente abandonou algumas das principais propostas que defendeu em seus comícios incendiários ao redor do país e mudou de posição em questões centrais. Na quarta-feira, ele começou o dia determinado a retirar os EUA do Nafta, o acordo de livre comércio que une o país ao México e ao Canadá. À noite, mudou de ideia e aceitou continuar a renegociação do tratado. 

Sua única vitória legislativa de peso foi a aprovação do conservador Neil Gorsuch para a Suprema Corte. As demais realizações foram implementadas por decretos. Assim que assumiu o cargo, o presidente cumpriu a promessa de retirar os EUA do da Parceria Transpacífico (TPP), o acordo comercial que unia 12 países e 40% do PIB global.

Trump também usou a caneta para ordenar a revisão de regulações ambientais e da Lei Dodd-Frank, aprovada depois da crise de 2008 com o objetivo de reduzir riscos no sistema financeiro. O presidente também eliminou restrições à exploração de óleo e gás e autorizou a construção do polêmico gasoduto Keystone, que ligará o Canadá ao Texas.

Justiça. Os limites da ação presidencial ficaram evidentes nas decisões judiciais que suspenderam os dois decretos de Trump que barravam a entrada de cidadãos de sete países de maioria muçulmana e de refugiados em geral. 

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Na quarta-feira, o presidente sofreu nova derrota judicial, com uma liminar contrária à medida que proíbe o repasse de verbas federais às chamadas “cidades santuários”, que têm políticas favoráveis a imigrantes e impõem limites à cooperação entre a polícia local e agentes de imigração.

Algumas das promessas foram abatidas por guinadas radicais nas posições de Trump. O compromisso de acusar formalmente a China de manipular sua taxa de câmbio foi substituído por uma política amigável do presidente em relação a Xi Jinping, com quem o ocupante da Casa Branca diz ter uma ótima “química”. O tom contrasta com o usado em relação à tradicional aliada Angela Merkel, que viu Trump ignorar sua sugestão para um aperto de mãos diante dos fotógrafos durante sua visita à Casa Branca, em março. 

Depois de repetir que os EUA deixariam de ser a “polícia do mundo” para focar em assuntos internos, Trump bombardeou a Síria em retaliação ao uso de armas químicas. A ação lhe valeu elogios de republicanos e democratas e um pequeno aumento em sua popularidade, que em poucos dias voltou a cair. 

O candidato que criticou intervenções militares americanas disse ontem que considera possível um “sério conflito” entre EUA e Coreia do Norte. A promessa de enviar ao Congresso um plano de investimentos de US$ 1 trilhão em infraestrutura não saiu do papel e a proposta de corte radical de impostos foi apresentada às pressas, na quarta-feira, em uma página e sem detalhes.

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Mais do que flexibilidade ou realismo, analistas veem no comportamento de Trump a ausência de uma estratégia de governo. “Temos um presidente que não está atuando da maneira que se espera que presidentes atuem”, disse Benjamin Wittes, editor chefe do blog Lawfare, sobre segurança nacional. 

Obcecado por índices de aprovação, Trump tem a menor popularidade para um presidente em início de mandato. Pesquisa CNN/ORC mostrou que 54% dos entrevistados reprovam seu trabalho, dez pontos porcentuais acima dos 44% que o aprovam. O presidente, porém, mantém a lealdade da maioria de seus eleitores: 85% dos que se identificam como republicanos têm opinião favorável a seu governo, segundo a mesma pesquisa. A baixa popularidade é fruto da rejeição de 91% entre democratas e de 53% entre independentes.

“Esse é um presidente da minoria”, disse John Hudak, vice-diretor do Centro para Gestão Pública Efetiva do Brookings Institution. “Trump foi eleito com 45% dos votos em uma eleição que teve participação de 60% dos eleitores e fala para as pessoas que estão nessa câmara de ressonância, de 25% a 30% do eleitorado.”

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O cientista político Arthur Lupia, professor da Universidade de Michigan, diz acreditar que Trump continuará a ter problemas com sua própria base no Congresso, que não conseguiu chegar a um acordo para rejeitar o Obamacare, medida defendida nos últimos oito anos pelos republicanos.

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