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Trump diz acreditar que jornalista está morto e sauditas planejam culpar chefe de inteligência

Presidente americano, que vinha defendendo Riad, afirmou hoje confiar nos relatórios de inteligência de várias fontes que sugerem o papel de alguém do alto escalão saudita no assassinato de Khashoggi

Atualização:

WASHINGTON - O presidente americano, Donald Trump, disse nesta quinta-feira, 18, acreditar estar morto o jornalista saudita Jamal Khashoggi, desaparecido após comparecer ao consulado saudita em Istambul no dia 2.  Ao mesmo tempo, a monarquia da Arábia Saudita está considerando culpar o chefe da inteligência do reino, um oficial próximo ao príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, pela morte do jornalista, segundo o jornal New York Times. Ao mesmo tempo,

Donald Trump concede entrevista no Salão Oval da Casa Branca Foto: Doug Mills/The New York Times

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O plano de atribuir a culpa ao general Ahmed al-Assiri, um conselheiro de alto nível do príncipe, seria um extraordinário reconhecimento da magnitude do impacto internacional negativo para o reino desde a morte de Khashoggi, um proeminente jornalista saudita, residente do Estado americano da Virgínia e colaborador do jornal The Washington Post

O presidente americano, que vinha defendendo Riad, afirmou hoje confiar nos relatórios de inteligência de várias fontes que sugerem o papel de alguém do alto escalão saudita no assassinato de Khashoggi. 

O jornalista saudita Jamal Khashoggi durante evento do Monitor para o Oriente Médio, em Londres, na Grã-Bretanha, em setembro de 2018. Foto: Middle East Monitor/Handout via REUTERS

Trump não chegou a dizer que o príncipe Salman foi o responsável, mas reconheceu que as alegações de que ele ordenou o assassinato levantaram questões profundas sobre a aliança americana com a Arábia Saudita e provocaram uma das mais sérias crises de política externa de sua presidência.

“Esse caso mexeu com a imaginação do mundo, infelizmente”, disse Trump a repórteres do New York Times, em uma rápida entrevista no Salão Oval. “Isso não é algo positivo. A menos que o milagres dos milagres aconteça, eu diria que ele está morto”, continuou Trump. “Isso se baseia em tudo – há (relatórios de) inteligência vindo de todos os lados.” 

Pouco antes da declaração de Trump, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, cancelou sua participação em uma conferência de investidores em Riad, se somando ao grupo de proeminentes investidores e executivos a boicotar a reunião, que está sendo chamada de ‘Davos do deserto’.

Trata-se de uma mudança significativa na posição do governo americano com relação ao caso, uma vez até então vinha negando qualquer intenção de encobrir Riad, mas ressaltando os interesses estratégicos que ligam os EUA ao reino saudita, como a luta contra o terrorismo, a necessidade de conter a influência do Irã, bem como os bilionários contratos de armas. 

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Ao culpar seu chefe de inteligência, Riad teria uma explicação plausível para o assassinato e ajudaria a afastar a responsabilidade do príncipe, que a inteligência americana está cada vez mais convencida de que esteja por trás do desaparecimento. 

Investigação

Autoridades turcas disseram ter provas de que 15 agentes sauditas torturaram, assassinaram e esquartejaram Khashoggi no consulado. Após duas semanas de negativas generalizadas e crescente pressão da Turquia e de Washington, a Arábia Saudita disse que conduziria sua própria investigação para determinar quem era o responsável.

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Mas mesmo com a investigação ainda em andamento, os sauditas já apontam Assiri como o culpado, de acordo com as três fontes familiarizadas com os planos, ouvidas pelo New York Times. Pessoas próximas à Casa Branca já foram informadas e citaram o nome de Assiri.

Ainda assim, os EUA decidiram dar à Arábia Saudita mais alguns dias para explicar o desaparecimento do jornalista. Fontes ouvidas pelo NYT afirmam que o genro de Trump e também seu conselheiro para Oriente Médio, Jared Kushner, tem pressionado o presidente a defender o príncipe, argumentando que a morte de Khashoggi “vai passar”, assim como outros erros sauditas como o sequestro do primeiro-ministro do Líbano e o bombardeio contra um ônibus escolar no Iêmen que matou 29 crianças. / NYT

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