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Trump e Erdogan, reis da mentira e da teoria da conspiração

Tanto o candidato republicano quanto o presidente turco acreditam que são a única pessoa capaz de tornar seu país um grande sucesso novamente

Por Thomas Friedman (The New York Times)
Atualização:

A Turquia está distante de Cleveland, onde os republicanos realizam sua convenção. Mas insisto em uma análise do golpe militar frustrado contra o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Os EUA não são a Turquia, mas em termos de personalidade e estratégia política, Erdogan e Donald Trump têm grande semelhança.

O drama que se desenvolve na Turquia é a história de como uma nação antes bem-sucedida sai dos trilhos quando um líder que demoniza seus rivais e flerta com teorias da conspiração chega a acreditar que é a única pessoa que poderá tornar seu país um grande sucesso novamente – e se aferra ao poder.

Erdogan conversa com repórter após rezar em mesquita em Istambul no início do feriado do fim do Ramadã Foto: Kayhan Ozer/Presidential Palace/Handout via REUTERS

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Erdogan, que foi premiê de 2003 a 2014, manobrou para assumir a presidência e conseguir que os poderes-chave fossem deslocados para essa posição. Qualquer pessoa que acompanha a Turquia sabe que Erdogan, há anos, vem montando silenciosamente um golpe contra a democracia turca – prendendo jornalistas, perseguindo rivais, revivendo uma guerra contra os curdos para insuflar paixões nacionalistas – e se transformar no sultão da era moderna.

Estou contente com o fracasso do golpe, especialmente da maneira que ocorreu – como muitos turcos seculares que se opõem ao governo autocrático de Erdogan. A maturidade da população turca resultou em uma segunda chance para Erdogan demonstrar que está comprometido com os preceitos universais da democracia. Ele aproveitará? Ou recorrerá a seus meios preferidos para se manter no poder: dividir os turcos em defensores e inimigos do Estado, criar teorias de conspiração e usar o golpe fracassado como licença para uma caça às bruxas?

Os primeiros sinais são ruins. Um dia após o golpe frustrado, Erdogan demitiu 2.745 juízes e promotores. Como ele sabia quem demitir em um dia? 

Erdogan foi um líder fora de série nos seus primeiros cinco anos no poder e promoveu a economia e a classe média do país. Mas o sucesso subiu à cabeça. Como seus partidários consideram que sua dignidade depende da permanência dele no poder, Erdogan pode fazer o que desejar. 

Trump adota as mesmas táticas: fabrica fatos e lança teorias da conspiração. Também confia no vínculo com seus seguidores para evitar punição por seu comportamento. E muitas das pessoas que Trump têm a sua volta são parentes ou indivíduos medíocres em busca de sucesso.

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Se Trump for eleito, não acho que haverá um golpe militar, mas garanto que o prognóstico de Jeb Bush se tornará realidade: que ele será “o presidente do caos”. Os americanos irão para as ruas porque não seguirão um homem que mente o tempo todo, que obtém apoio com teorias da conspiração e insuflando nas pessoas o medo do futuro e do outro. Se você aplaude o que vem ocorrendo na Turquia hoje, vai adorar os EUA de Trump. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINOÉ COLUNISTA

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