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Trump e Kim acirram tom de ofensas e analistas veem risco inédito de conflito 

Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, comparou a escalada verbal entre Trump e Kim a uma 'briga entre crianças no jardim de infância'

Por Cláudia Trevisan e Nova York 
Atualização:

O ditador norte-coreano, Kim Jong-un, abandonou intermediários e decidiu responder de maneira inédita e direta aos insultos feitos a ele por Donald Trump, o que elevou a um novo patamar o confronto entre os dois líderes. Em declaração transmitida pela TV e estampada nas primeiras páginas dos jornais norte-coreanos, Kim disse que o presidente dos EUA é um “desequilibrado mental caquético”. Trump reagiu chamando-o de louco.

Na quinta-feira, Donald Trump (dir.) anunciou novas sanções contra a Coreia do Norte de Kim Jong-un Foto: EFE/KCNA/JUSTIN LANE

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Em seu discurso de estreia na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) na terça-feira, Trump ameaçou “destruir totalmente” o país de 25 milhões de habitantes. Hoje, Kim afirmou que as palavras de Trump o convenceram de que está no caminho “correto”, uma referência velada a sua ambição nuclear.

O presidente americano respondeu no Twitter: “Kim Jong-un, da Coreia do Norte, que é obviamente um louco que não se importa em matar ou deixar seu povo faminto, será testado como nunca antes!”.

Discursos, ainda que raros, são um dos traços que distinguem o atual ditador de seu pai, Kim Jong-il, que proferiu uma única frase em público nos 17 anos que comandou o país, e o aproximam de seu avô, Kim Il-sung. Mas esta foi a primeira vez em que o norte-coreano se dirigiu de maneira pública e direta a um líder estrangeiro e fez ameaças a ele perante a população da Coreia do Norte. 

Até então, os ataques aos EUA costumavam ser feitos por comunicados divulgados pelo Estado. Apesar de as telas de TV mostrarem a imagem de Kim lendo sua declaração, não foi sua voz que a acompanhou, mas a de uma locutora.

“Isso é totalmente sem precedentes”, disse ao New York Times o especialista em Coreia do Norte Paik Hak-soon, do Sejong Institute, da Coreia do Sul. “Da maneira em que a liderança suprema da Coreia do Norte funciona, Kim Jong-un tem de responder de maneira mais assertiva na medida em que seu inimigo se torna mais agressivo, como Trump se tornou.” Segundo ele, “não há recuo no livro de regras da Coreia do Norte”.

Antes da divulgação da mensagem, o chanceler norte-coreano, Ri Yong-ho, disse em Nova York que Pyongyang poderia testar uma bomba de hidrogênio sobre o Oceano Pacífico. Se a ameaça for cumprida, essa será a primeira atividade do tipo desde 1980 e desrespeitará o consenso internacional que veta a realização de testes atmosféricos. Os seis realizados até agora pela Coreia do Norte foram subterrâneos. 

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Apesar de Ri ter declarado que não sabia da posição de Kim sobre o assunto, é improvável que ele tenha feito a ameaça sem a autorização do ditador.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, comparou a escalada verbal entre Trump e Kim a uma “briga entre crianças no jardim de infância”. Em entrevista na sede da ONU em Nova York, ele pediu a todos os lados que “esfriem a cabeça” e busquem uma solução pacífica para o impasse. “É inaceitável simplesmente relaxar e testemunhar os jogos nucleares e militares da Coreia do Norte, mas também é inaceitável começar uma guerra na península.”

No comunicado divulgado hoje, Kim afirmou que Trump fez a mais “feroz declaração de guerra” da história de seu país e prometeu responder à altura, sem revelar as possíveis ações que poderá adotar. O regime norte-coreano costuma repetir ameaças extremas, que quase nunca são concretizadas. Hoje, foi a primeira vez em que o próprio Kim as apresentou.

O ditador disse que Trump é “inapto” para comandar os EUA e “é certamente um desonesto e um gângster que gosta de brincar com fogo”.

As declarações foram feitas um dia depois de o governo americano anunciar sanções unilaterais sobre bancos que financiem o comércio com a Coreia do Norte ou realizem negócios com o país. Isso restringirá o fluxo de recursos a Pyongyang de instituições internacionais que têm vínculos com o sistema financeiro americano.

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