Trump e Kim divergem sobre fim ou suspensão de programa nuclear

Embora analistas e opositores tenham elogiado predisposição de líder americano para ver ditador norte-coreano no fim de maio, consenso está distante; porta-voz da Casa Branca coloca condições para reunião se concretizar

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Por Redação
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WASHINGTON - O anúncio de um histórico encontro entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o ditador da Coreia do NorteKim Jong-un, foi uma vitória da política externa de Trump, afirmaram nesta sexta-feira, 9, apoiadores e alguns opositores do governo. Analistas mais céticos alertaram que a reunião é apenas um começo, não uma solução. Os dois países divergem sobre temas aparentemente simples, como o que significa o termo desnuclearização. 

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Com reunião de Kim (E) e Trump, Pyongyang realizará sonho de ser tratado de igual para igual por Washington Foto: AFP PHOTO / KCNA via KNS AND AFP PHOTO / - AND Saul LOEB

“Os americanos entendem a palavra como o desarmamento nuclear completo da Coreia do Norte, mas isso é impossível”, afirmou na sexta, 9, Duyeon Kim, um analista nuclear com base em Seul. “Para os norte-coreanos, ela descreve um desarmamento mútuo, em que os EUA também desistiriam de armas.” A questão é tão central que Trump tuitou, horas após ter aceitado o convite. “Kim Jong-un falou sobre desnuclearização com os enviados sul-coreanos, não apenas congelamento”, escreveu. 

Especialistas veem outros riscos no encontro. O maior é que se trate de uma armadilha da Coreia do Norte. Segundo um relatório da consultoria Eurasia, “a dúvida é se Pyongyang está tentando ganhar tempo para desenvolver um míssil balístico com uma ogiva capaz de atingir qualquer cidade dos EUA”. De acordo com essa análise, a Coreia do Norte não vai desistir de seu programa nuclear facilmente. “Todo o projeto nuclear norte-coreano tem um único objetivo: a permanência da dinastia Kim no poder, evitando o fim de regimes que desistiram de seus programas nucleares.”

Conselheiro de Segurnaça Nacional da Coreia do Sul, Chung Eui-yong (ao centro) e o chefe do Serviço de Inteligência nacional da Coreia do Sul, Suh Hoon (à esquerda) fazem anúncio na Casa Branca Foto: AFP PHOTO / Mandel NGAN

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“Embora a imprevisibilidade de um encontro entre esses dois líderes não convencionais ofereça oportunidades únicas para acabar com o conflito, seu fracasso poderia empurrar os dois países à beira da guerra”, escreveu Victor Cha, ex-diretor do Conselho de Segurança Nacional para a Ásia, e professor na Universidade Georgetown. 

Na sexta-feira, 9, o vice-presidente americano Mike Pence afirmou que o encontro era resultado direto das sanções adotadas pelos EUA contra a Coreia do Norte. O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, comemorou o que também chamou de mudança na posição da Coreia do Norte e atribuiu o fato às sanções. 

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James Clapper, um oficial de inteligência militar, crítico de Trump e ex-diretor de Inteligência Nacional durante a presidência de Barack Obama, afirmou em um artigo em sua conta no Facebook que a pressão econômica exercida pela Casa Branca surtiu efeito. “A abordagem de confronto de Trump com a Coreia do Norte desempenhou um importante papel de pressionar Pyongyang a negociar.”

Para a maioria dos analistas, a dúvida é o que acontece a partir daí. O histórico encontro traz riscos e oportunidades. Um dos grandes problemas é que o encontro direto entre os líderes queimou uma série de etapas. A abordagem usual seria negociar os detalhes primeiro, em uma série de reuniões entre diplomatas e a discussão ponto a ponto do que seria negociado. 

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“O que os Estados Unidos pretendem oferecer em troca? Sanções? Normalização? Tratado de paz?”, disse ao Washington Post William Perry, o ex-secretário de Defesa que lidou com a crise nuclear entre EUA e Coreia do Norte, em 1994. “Se houver acordo, como podemos verificar seu cumprimento? Não sabemos quantas armas nucleares eles operam ou estão em construção; não sabemos onde estão todas suas instalações nucleares e suas ogivas.”

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Entre quinta-feira, dia 8, e sexta, dia 9, a Casa Branca deu, mais uma vez, sinais de desencontros. Horas antes do anúncio, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, estava em viagem à África. “Ainda estamos longe de negociações. Precisamos ser muito claros e realistas sobre isso”, disse Tillerson na Etiópia. Fontes anônimas disseram ao Washington Post que o Departamento de Estado tentava compor um time diplomático para organizar a cúpula.

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A porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, afirmou na sexta-feira, 9, em encontro com a imprensa que o “presidente Trump não vai aceitar nenhum encontro até que a Coreia do Norte tome ações concretas”. Menos de uma hora depois, uma fonte do Wall Street Journal na Casa Branca afirmou que “o convite foi feito e foi aceito, e isso não mudou”. / W. POST e NYT

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