Trump e o 'New York Times' ficam frente a frente em entrevista

Presidente reconhece ter popularizado termo ‘fake news’ e pede cobertura mais favorável

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Por Redação
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WASHINGTON - Depois de passar boa parte do mandato criticando a imprensa e o diário The New York Times, o presidente americano,  Donald Trump, concedeu uma entrevista exclusiva para o jornal, publicada ontem, no primeiro contato direto com o jornal, a quem chamou em diversas oportunidades de “falido”, em mais de um ano. 

Seguno o Times, o presidente queria conversar com o jornal e convidou o editor da publicação, Arthur G. Sulzberger, para um jantar “off-the-record” – ou seja, uma conversa cujo conteúdo não poderia ser usado em reportagens do diário. Os dois já tinham se encontrado em situação semelhante em julho.

O presidente Donald Trump no Salão Oval, na Casa Branca, em Washington D.C. Em entrevista ao The New York Times, presidente não descarta acionar emergência nacional para obter verbas para muro na fronteira com México. Foto: Washington Post photo by Jabin Botsford.

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Sulzberger, no entanto, fez uma contraproposta: uma entrevista “on-the-record” – tudo que fosse dito poderia ser escrito no site e na edição impressa – com a participação de uma equipe de repórteres. A Casa Branca aceitou essa oferta. Nem Trump nem a Casa Branca confirmaram publicamente a versão do Times

Trump recebeu o NYT no Salão Oval da Casa Branca, onde conversou sobre a investigação de seus contatos com a Rússia antes de ser presidente; também falou sobre Roger Stone, conselheiro informal por muitos anos; de sua relação com agentes de inteligência; fez uma avaliação sobre a disputa presidencial de 2020; e sobre seus primeiros dois anos como presidente.

Ainda no encontro, Trump foi questionado por Sulzberger sobre sua retórica contra a imprensa. O presidente reconheceu que é o responsável por popularizar o termo “fake news”, mas se recusou a assumir responsabilidade sobre o aumento no número de ameaças e casos de violência contra jornalistas. 

“Conversando com meus colegas em outros países, particularmente onde a liberdade de imprensa é delicada, há uma crença de que a sua retórica cria um clima no qual ditadores e tiranos podem usar suas palavras para perseguir a imprensa livre. Queria saber se você tem noção dessas consequências”, perguntou Salzberger. 

“Percebo que mais pessoas falam sobre fake news, até em outros países. Não inventei isso, mas a popularização do termo pode ser atribuída a mim. Fui eu quem começou a usar”, disse Trump. 

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O presidente disse não concordar com a censura a imprensa, mas reclamou da cobertura a seu respeito. “Não gosto disso, mas é ruim também para um país quando as notícias não são precisas. Peter ( o correspondente da Casa Branca Peter Baker) tem sido muito duro conosco e eu acho que tenho feito um grande trabalho”, afirmou.

O publisher do Times então respondeu que o trabalho da imprensa consiste em fazer perguntas duras a todos os representantes do poder e lembrou Trump que “ele senta na cadeira mais poderosa do mundo”. 

Ao longo do mandato, Trump enfrentou diversas polêmicas com os principais veículos de comunicação dos Estados Unidos. Além de frequentemente chamar o Times de “falido”, ele chamou a imprensa de “inimiga do povo” e chegou a cassar a credencial de um jornalista da CNN que cobria a Casa Branca que insistiu em fazer perguntas desconfortáveis para ele. 

Na entrevista ao Times, o presidente tratou de inúmeros assuntos, do fechamento do governo, à construção do muro na fronteira com o México e a crise na Venezuela. Segundo Trump, as negociações sobre o muro são “uma perda de tempo”. /NYT