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Trump elabora novo plano para obter acordo entre israelenses e palestinos

Embora presidente não tenha se comprometido a apoiar um Estado palestino, analistas preveem que o plano deve ser construído tendo como base a solução de dois Estados

Por Peter Baker
Atualização:

WASHINGTON - O presidente Donald Trump e seus assessores iniciaram a elaboração do seu novo projeto para pôr fim ao conflito que já dura décadas entre Israel e os palestinos, um plano que pretende ir além de outros anteriores apresentados pelo governo americano e deverá levar ao que o presidente chama de “acordo definitivo”.

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Depois de 10 meses estudando as complexidades desta que é a disputa mais recalcitrante do mundo, segundo autoridades da Casa Branca, a equipe de Trump, relativamente nova no assunto, entra em uma nova fase do trabalho, esperando transformar o que coletou em medidas concretas e encerrar um impasse que tem frustrado outros presidentes com mais experiência nesse campo.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu Foto: AP Photo/Sebastian Scheiner

As perspectivas de paz têm se perdido numa teia de outros problemas que absorvem a região, como ficou demonstrado nos últimos dias com o crescente confronto entre Arábia Saudita e o Hezsbollah, apoiado pelo Irã, no Líbano. Israel também está preocupado com o grupo libanês e os esforços do Irã para estabelecer um corredor terrestre através do sul da Síria. Se irromper uma guerra com o Hezbollah, qualquer iniciativa com os palestinos pode desmoronar.

Entretanto, a equipe de Trump reuniu “documentos oficiosos” explorando vários temas relacionados ao conflito israelense-palestino e a expectativa é que sejam solucionados aqueles temas perenes que estão na raiz das divisões, como o estatuto de Jerusalém e os assentamentos na Cisjordânia ocupada. Embora Trump não tenha se comprometido a apoiar um Estado palestino, analistas preveem que o plano deve ser construído tendo como base a solução de dois Estados que há anos está no centro dos esforços de paz.

“Passamos muito tempo ouvindo e interagindo com israelenses, palestinos e líderes regionais chave nos últimos meses com vistas a um acordo de paz duradouro”, afirmou Jason D. Greenblatt, chefe da delegação negociadora de Trump. “Não vamos estabelecer um cronograma artificial sobre o desenvolvimento ou apresentação de idéias específicas e jamais iremos impor um acordo. Nosso objetivo é facilitar, não prescrever, um acordo de paz duradouro para melhorar a vida de israelenses e palestinos e a segurança em toda a região”.

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Trump, que se considera um “negociador”, decidiu encarar o desafio quando assumiu a presidência em janeiro, entusiasmado com a idéia de ter sucesso onde outros presidentes fracassaram e transferiu a tarefa para Jared Kushner, seu genro e conselheiro. Nenhum deles tem experiência no caso e o esforço foi recebido com desdém, mas o fato de o presidente ter passado a questão para um parente seu foi considerado um sinal de seriedade na região.

A equipe de Trump analisa a convergência de fatos que tornariam o momento propício, incluindo a maior boa vontade dos Estados árabes de resolver a questão e concentrar novamente a atenção no Irã, considerado uma ameaça maior. Tendo isto em mente, o Egito vem atuando como intermediário numa reconciliação entre o presidente Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia, e o Hamas, que controla Gaza, e num acordo que consolidaria a Autoridade Palestina como representante do povo palestino. A Arábia Saudita convocou Abbas a Riad para reforçar a importância do acordo.

“As estrelas começam a se alinhar de maneira a criar o momento”, disse Nimrod Novik, membro do Israel Policy Forum que foi assessor de política externa no governo do ex-primeiro ministro Shimon Peres, que negociou os acordos de Oslo nos anos 90. “Claro que as duas perguntas chave são: o premiê Netanyahu decidirá se empenhar nesse sentido? E o presidente Trump, quando o plano for apresentado por sua equipe, decidirá que vale a pena investir o capital político exigido?”

Mas nem o premiê Binyamin Netanyahu, tampouco Mahmoud Abbas, estão em posição de negociar. Netanyahu enfrenta investigações de corrupção no seu país e uma pressão da direita dentro da sua coalizão para não fazer concessões. Abbas está envelhecendo e sofre uma forte oposição dos seus próprios eleitores.

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O ceticismo é grande, especialmente entre os que passaram anos lutando para superar os mesmos desafios com os mesmos instrumentos. O presidente Barack Obama e seus assessores apresentaram seus próprios parâmetros para um acordo no ano passado, mas desistiram até mesmo de um conjunto geral de princípios com a aproximação do término do seu governo.

“Não há nada de novo no tocante à paz no Oriente Médio”, disse Philip Gordon, coordenador de assuntos do Oriente Médio na Casa Branca durante o governo Obama. “Quando entramos nos detalhes surgem fortes objeções de ambos os lados. Se não querem que o assunto morra, concordam com princípios vagos, mas como temos observado, mesmo esses princípios vagos estão longe do que eles estão dispostos a aceitar”.

Segundo Tamara Cofmn Wittes, funcionária do Departamento de Estado no governo Obama, os líderes palestino e israelense “estão muito limitados” não só pelas suas próprias coalizões de governo, mas também por uma população desconfiada e avessa a riscos. “É difícil mesmo para líderes políticos com boa vontade fazer concessões nessas circunstâncias”, disse ela.

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A equipe de quatro membros que vem elaborando o novo plano inclui Kushner, Greenblatt, Dina H. Powell, vice-conselheiro de segurança nacional, e David M. Friedman, embaixador em Israel. Eles vêm consultando Donald Blome, cônsul geral em Jerusalém, e outros membros do Departamento de Estado e do Conselho de Segurança Nacional. O trabalho da equipe deve continuar até o início do próximo ano.

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Trump e sua equipe não escondem ser pró-Israel. O presidente já afirmou ser “o maior amigo” dos israelenses. Kushner, Greenblatt e Friedman são judeus ortodoxos e têm vínculos com Israel. Mas Powell é cristão coopta nascido no Egito. Além do que, Kushner mantém estreitas relações com os sauditas e outros árabes, tendo retornado recentemente de uma viagem a Riad. Trump reuniu-se com Netanyahu e Abbas em separado por três vezes.

A equipe foi elogiada no geral. “Achamos que esta é uma oportunidade histórica e não pouparemos esforços para apoiar o investimento do presidente Trump num futuro melhor”, disse Husam Zomlot, enviado da Autoridade Palestina a Washington, em uma entrevista. E durante viagem a Londres este mês, Netanyahu afirmou “eles estão tentando pensar de maneira mais criativa”.

Mas em particular autoridades de ambos os lados se preocupam de que Trump e a equipe sejam inexperientes no tocante ao Oriente Médio e não conseguirão atingir seus objetivos.

Segundo Dennis Ross, negociador veterano, a equipe “fez um trabalho muito bom ao se apresentar, falando em ter “ouvido” e agora “é levada a sério na região,

A decisão de apresentar um plano concreto faz sentido se o terreno for preparado antecipadamente. “Se você simplesmente retomar as negociações e nada mais, ninguém levará o trabalho a sério”, disse Ross. “As pessoas dirão que esse mesmo filme já foi visto antes. É preciso mostrar que desta vez alguma coisa é diferente”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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