Trump liga ataque químico à Rússia, que critica ‘tuítes diplomáticos’

Presidente americano usa Twitter para anunciar ação militar com mísseis ‘lindos, novos e inteligentes’ contra alvos sírios e responsabiliza russos pelo massacre de civis com gás tóxico

PUBLICIDADE

Por Cláudia Trevisan ,  CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

O presidente EUADonald Trump, não fez o que disse quando foi candidato e decidiu “telegrafar” no Twitter a intenção de atacar a Síria com mísseis “inteligentes”. O post matinal de quarta-feira, 11, surpreendeu seus principais assessores e levou o presidente russo, Vladimir Putin, a declarar que não pratica a “diplomacia do Twitter”.

+ Síria reage a ameaças de Trump e diz que ataque dos EUA seria imprudente e irracional

+ Rússia apresentará resolução na ONU para investigar suposto ataque químico na Síria

Donald Trump declarou que “os mísseis chegarão” à Síria em resposta ao suposto ataque químico no país Foto: Doug Mills/The New York Times

PUBLICIDADE

“O meio escolhido por Trump e o tom casual para falar de assuntos de guerra e paz contrastam com os rituais seguidos por outros presidentes americanos em situações semelhantes”, disse Andrew Rudalevidge, especialista em história presidencial dos EUA da Faculdade Bowdoin, em Maine. 

+ Análise: A crise e os riscos de uma escalada militar

+ Ataque químico afetou 500 pessoas na Síria, diz OMS

“Os sinais da Casa Branca em casos como esse eram bem coordenados. O tuíte pareceu ser uma rápida reação a algo que o presidente viu na TV sobre os russos dizendo que resistirão a qualquer tipo de intervenção americana na Síria”, observou. Moscou é o principal aliado de Bashar Assad e tem presença militar no país desde 2015.

Publicidade

O historiador Geoffrey Kabaservice disse que quase tudo no governo Trump não tem precedentes. “A questão agora é que sua falta de experiência está criando problemas com o aparato militar e de segurança do Estado”, afirmou. “É totalmente possível imaginar que os EUA não lançariam um ataque com mísseis contra a Síria se não existissem os tuítes de Trump.”

Segundo ele, o presidente fez exatamente o que criticou em seu antecessor, Barack Obama, durante o ataque com armas químicas que deixou 1.400 pessoas mortas na Síria, em 2013. “Ele criou uma linha vermelha, prometeu um tipo de ação e pareceria fraco e ineficaz se não a cumprisse.” No fim, Obama desistiu de retaliar Assad.

Trump também indicou ao adversário os seus passos. Durante a campanha eleitoral, ele atacou Obama por ele “telegrafar” suas intenções e retirar o elemento surpresa de ações militares. “A Rússia prometeu derrubar todos os mísseis disparados contra a Síria. Esteja preparada, Rússia, porque eles chegarão, lindos, novos e ‘inteligentes’! Vocês não deveriam ser parceiros de um animal assassino com gás que mata seu povo e se diverte com isso”, escreveu Trump.

Em Moscou, a porta-voz da chancelaria, Maria Zakharova, ironizou o tuíte de Trump. “Mísseis inteligentes deveriam voar na direção de terroristas e não na de um governo legítimo que luta contra o terrorismo.”

PUBLICIDADE

A retórica de Trump representa uma mudança radical em relação a Putin, a quem ele criticou no domingo pela primeira vez de maneira expressa, logo depois do ataque com armas químicas que deixou dezenas de mortos na Síria. Moscou nega que o ataque tenha ocorrido.

A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, disse que inteligência coletada pelos EUA indica o contrário. “O presidente responsabiliza Síria e Rússia por esse ataque”, declarou. Para Kabaservice, um ataque à Síria será interpretado como uma tentativa de Trump de manter sua credibilidade ou distrair a opinião pública da investigação sobre a Rússia. “Ele não será visto como parte de uma resposta proporcional à ofensa do regime sírio.”

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.